Feliz ano novo! (pra você que mora na China)

Guto Magalhães
White Rabbit Trends
3 min readJan 24, 2020

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Um feriadão de 15 dias marca a chegada do ano novo para quase um terço da população mundial. As festividades de ano-novo na China acontecem um pouco depois do resto do mundo, normalmente entre Janeiro e Fevereiro (o país segue um calendário lunissolar e não o gregoriano). Esse ano, a data cai no dia 25 de Janeiro. Estranho e diferente, não é mesmo? Como quase tudo na China, até o ano-novo segue uma lógica que nós ocidentais não compreendemos bem, causando espanto e fascinação na mesma proporção.

Repleto de superstições e tradições milenares, a chegada do ano-novo na China afeta até o mercado de criptomoedas. A movimentação de pessoas no país nessa época é tão intensa que o fenômeno tem até um nome: Chunyun (esse ano, grande parte das festividades foram canceladas por medida de segurança, devido ao surto de coronavírus). Tudo na China é no superlativo: só o número de usuários de smartphones é 5 vezes a população brasileira. O país é responsável por 60% da frota de veículos elétricos existentes no mundo. Em 1980, a renda per capita era o equivalente a U$ 280. Em 2010, alcançou U$ 3.000. O país que há 70 anos atrás enfrentava graves problemas ligados ao abastecimento alimentar (período que ficou conhecido como a Grande Fome e dizimou milhões de cidadãos) hoje ameaça a hegemonia econômica dos países ocidentais. Tudo isso em seus próprios moldes.

O governo central controla com mão de ferro o desenvolvimento em todas as áreas, traçando metas e objetivos a serem alcançados a curto e longo prazo. Além disso, o desenvolvimento de tecnologia, soluções e serviços nacionais é um prioridade do Estado chinês. E é tudo made in China, literalmente: eles tem seu próprio Google (o Baidu), sua própria Amazon (Alibaba), seu próprio Facebook (o WeChat). São ecossistemas, redes e serviços feitos para atender a demanda do público interno e que de maneira veloz, começam a se expandir também para outros mercados. Especialistas apontam que até 2030, a China irá liderar o mercado de inteligência artificial. O país já é líder na implementação do 5g (e começou a desenvolver o 6g). A já existente disputa comercial com com os EUA promete se acirrar ainda mais nos próximos anos.

O fascínio com o avanço econômico e tecnológico chinês, contudo, não pode ofuscar as práticas não-democráticas e autoritárias do governo local. O sistema de crédito social, a utilização abusiva de mecanismos de reconhecimento facial, experimentos antiéticos na área de engenharia genética, restrições à liberdade de imprensa, a censura estatal, perseguição a minorias étnicas… tudo isso é feito com auxílio do avanço tecnológico em ritmo quase exponencial do país asiático. Frente a esse quadro tão complexo, nosso fascínio ou repulsa é justo? Celebrar o avanço tecnológico chinês sem pensar nos custos humanos e sociais é uma visão míope acerca do tema. Ao mesmo tempo, o avanço tecnológico chinês não conhece fronteiras em uma sociedade global. Não temos uma resposta para essas perguntas, mas uma coisa é certa: precisamos ficar de olho na China.

Quer saber mais sobre o avanço tecnológico na China? Esses e muitos outros insights estão no nosso report exclusivo “China, Explained”.

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