Matrizes Energéticas e a Construção de Futuros Desejáveis

Guto Magalhães
White Rabbit Trends
3 min readJan 13, 2020

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“Taxa do sol”: você já ouviu falar nesse termo? O Brasil, conhecido por sua liderança em matrizes energéticas renováveis está em uma polêmica em torno do assunto. Tudo começou com a possível revisão dos subsídios atualmente oferecidos para os consumidores que possuem painéis solares — ou outra forma de produção energética renovável — por parte da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). O que está em jogo é o fim dos “créditos” a esses consumidores, que aderem ao modelo que é chamado de Geração Distribuída (GD). Quem possui um painel solar em casa, por exemplo, pode não consumir toda a energia gerada num dia de sol intenso. Esse excedente é repassado para a rede e em troca, esse consumidor pode usar a energia da rede geral em dias produção insuficiente, sendo isento das taxas de transporte e de distribuição. Esse custo é arcado com os outros consumidores, tornando-se uma espécie de subsídio. Segundo a ANEEL, em 2018 o crédito custou R$ 205 milhões e custará de R$ 11 a 13 bilhões até 2025.

O Brasil possui um potencial solar subaproveitado, mesmo registrando um bom crescimento nos últimos anos. Em 2018, haviam 48.613 sistemas de energia solar fotovoltaico instalados no país e a previsão é que até 2024, tenhamos mais de 886 mil.

Em tempos de transição de matrizes energéticas, o Brasil possui a privilegiada posição de ter 90% da energia do país produzida em hidrelétricas.

Mas apesar de não poluir, usinas hidrelétricas têm um inegável impacto nas regiões onde são instaladas. O caso da usina de Belo Monte no Alto Xingu (PA) é o mais emblemático nesse sentido. A energia produzida em hidrelétricas é realmente “limpa”? Os aspectos sociais e ambientais deveriam ser levados em conta quando classificamos uma fonte energética dessa maneira?

A iminência de um conflito bélico entre Estados Unidos e Irã trouxe a tona o debate sobre a utilização dos combustíveis de origem fóssil. A possibilidade de um conflito entre os dois países produziu uma grande instabilidade no mercado de petróleo mundial, provocando uma grande instabilidade nos preços e expondo a fragilidade do sistema.

Devemos equacionar por exemplo, que o mercado de criptomoedas consome mais energia elétrica que que um país como a Suíça, representando aproximadamente 0,25% da eletricidade do mundo, segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge. Eficiência energética é um dos principais atributos das smart cities, mas a matriz energética dessas cidades serão sustentáveis socialmente? A distribuição inteligente de energia produzida a partir de combustíveis de origem fóssil não é sustentável a longo prazo e cada vez mais, vemos as impactos devastadores que o consumo de insumos produzidos a partir de fonte não-renovável tem no nosso planeta.

Não há debate sobre futuro tecnológico que não passe por uma visão sustentável de novas matrizes energéticas. Esta discussão é tão complexa quanto necessária, visto que envolve todos os atores da sociedade, embora ainda haja pouca consciência sobre o impacto de nossas decisões, tanto em nível individual quanto corporativo. E nós, que moramos nesse país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza e com grande potencial para liderar a produção de energia limpa e renovável, ainda estamos engatinhando em alguns pontos desta discussão. Como você acha que podemos acelerar esse cenário desejável?

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