Vídeo Arte Brasileira

Isadora Imbelloni
Cultura & Arte Wiki
4 min readNov 17, 2020

Letícia Parente e seus legados nessa vanguarda artística.

SUA HISTÓRIA…

Letícia Tarquinio de Souza Parente, nascida no ano de 1930 em Salvador, Bahia, foi uma das primeiras artistas do audiovisual brasileiro. Além de videoartista, Letícia foi graduada e licenciada em Química, dedicando-se à educação por longos anos. A docente lecionou em 3 diferentes cidades: Salvador, Rio de Janeiro e Sabinópolis (Minas Gerais). Aos 29 anos, Tarquinio estabeleceu uma família em Fortaleza, e se tornou professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em 1970, a artista mudou-se para o Rio de Janeiro, onde finalmente cursou o mestrado em Química. Na cidade maravilhosa, Letícia tem o primeiro contato com a arte por meio de aulas realizadas no Núcleo de Atividades Criativas (NAC), sendo assim, apresentada à sua primeira grande paixão artística: produção de gravuras.

LETÍCIA PARENTE E A VIDEOARTE

Aos 43 anos, a docente retorna para Fortaleza, onde realiza a sua primeira exposição individual no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. No ano seguinte, volta para o Rio de Janeiro para pesquisas acadêmicas na área de Química. Apesar disso, continuou no mundo da arte, estudando, agora, com Anna Bella Geiger, outra também pioneira da vídeo-arte brasileira.

PRINCIPAIS OBRAS

“Marca Registrada” (1975) foi sua obra mais famosa. Possuindo pouco mais de 10 minutos, o vídeo mostra a atriz costurando a frase “MADE IN BRASIL” na sola do próprio pé. O enquadramento e o close utilizado pelo cinegrafista Jom Azulay destaca o pé da artista como elemento central da obra. O foco se dá, sobretudo, em cada movimento de Letícia ao realizar a ação. Esta seria uma crítica ao violento período da ditadura militar, e ao patriotismo e pertencimento a um país marcado pela censura e tortura. A provocação da angústia no telespectador se faz de maneira intencional, já que, se aproxima daquela vivida pela população brasileira em meio aos absurdos de um governo intolerante e absoluto.

Em sua obra “Eu armário de mim”, Letícia Parente utiliza o audiovisual mais uma vez como meio artístico. O vídeo com pouco mais de três minutos apresenta fotos do guarda-roupa da artista, com elementos cotidianos, como exames médicos, calçados, objetos de culto, além de elementos domésticos. A trilha sonora é composta pela leitura de seu próprio texto, que repete diversas vezes o nome da obra. Esse vídeo de Letícia permite a conexão clara entre o dia a dia, ideias da artista e a realidade da época. O corpo, a casa e o autoconhecimento são elementos valorizados por Parente, abordando-os como forma de denúncia, reflexão, ou até mesmo crítica, em um mundo marcado pelo constante desenvolvimento tecnológico, sempre se mostrando conhecedora do contexto social e político no qual estava inserida.

“Eu armário de mim”
“Marca Registrada”

CRÍTICAS A SUAS OBRAS:

Seus trabalhos ficaram muito famosos entre admiradores e profissionais da arte, gerando críticas, elogios, comentários e análises. Segundo o artista plástico Hélio Rola (1936), nas artes de Letícia “há o interesse por uma figuração de gestos aparentes e livres, como em ‘Cavalo de Brinquedo’ (1973)”. Filho de Letícia, André Parente, também analisa as obras da mãe. De acordo com suas palavras, o filho afirma: “[…] como em outros trabalhos da artista, as imagens, objetos e gestos do cotidiano nos revelam uma ‘arqueologia do tempo presente’”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Letícia faleceu em 1991, no Rio de Janeiro, onde viveu grande parte da sua vida. No ano de 2020, completam-se 45 anos desde que a artista realizou os primeiros vídeos. Entre os anos 1974 a 1982, Parente participou de um grupo pioneiro da vídeo-arte brasileira, composto por Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Sônia Andrade, Ivens Machado, Paulo Herkenhoff, Miriam Danowski e Ana Vitória Mussi. Suas obras, apesar de representarem a realidade brasileira antiga, podem ser consideradas elementos de análise da sociedade atual. Seu legado inspira mulheres ao redor do globo, já que, sua trajetória marca a capacidade feminina de dominarem, não só seu próprio destino, mas também o pioneirismo de sua própria arte.

Letícia Parente em mais uma de suas obras.

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