DORA LONGO BAHIA

Solimar Junior
Wiki Jor — Cultura & Arte
6 min readNov 5, 2020

ARTISTA VISUAL CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA: BIOGRAFIA E PRINCIPAIS OBRAS NA ATUALIDADE

Nascida na cidade de São Paulo, em 3 de dezembro de 1961, Dora Longo trabalha na atualidade com temas aos quais pautou toda sua vida artística, com a temática relacionada a morte, sexo e violência, relatando deste modo, sua respectiva condição urbana. Formada em educação artística pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) no ano de 1987 e entre os períodos de 2000 a 2003 intitulada como mestre perante seus estudos em Poéticas Visuais na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), a defesa de seu doutorado foi em 2010, na mesma instituição e correlacionado ao mesmo título, Poéticas Visuais. Sendo professora de pintura na FAAP entre 1994 e 2013. Atualmente Dora é professora na (ECA/USP) desde 2013 e, ilustradora da Folha de São Paulo com início nos anos 1993. Seu pós-doutorado resulta no seu primeiro trabalho cinematográfico, o filme “Caso Dora”, este exigido inicialmente em 2016 na Galeria Vermelho, em São Paulo.

Retrato disponível em https://glamurama.uol.com.br

No início de sua carreira em 1984, Dora Longo produzia trabalhos de gravura em metal com imagens que se referem a heróis de histórias em quadrinhos e posteriormente, em 1990, centraliza seus trabalhos direcionados à temática da violência, morte e sexo. Aluna de Nelson Leirner, Dora Longo Bahia herda um olhar crítico sobre o sistema de arte. A artista plástica utiliza métodos distintos para representar a arte, como a pintura, fotografia e vídeo, porém, se auto-intitula como uma produtora de imagens, deste modo, a grande maioria das suas respectivas pinturas e vídeos (curta-metragem), advém de projeções bidimensionais de suas fotografias.

Dora Longo já participou de exposições em diversos países, como na África do Sul, Argentina, Bélgica, Brasil, Coreia, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, México, Noruega, Suíça e Venezuela. Suas obras pautadas em violência, demonstram principalmente a hostilidade presente nos grandes centros urbanos, atrelado muitas vezes a contenção brutalmente da polícia sobre manifestações e ou protestos, fatos apresentados diariamente em noticiários jornalísticos, abordados em algumas de suas exposições, como em 2018, “A polícia vem, a polícia vai”.

“A polícia vem, a polícia vai, 2018" — Disponível em https://www.galeriavermelho.com.br — Foto: Edouard Fraipont

Outra questão, abordada pela artista atrelado a violência é relacionado com viés contra a guerra, destacando assim, o grande marco negativo a qual as batalhas sangrentas proporcionam, pelo fato da destruição causa pela mesma. Para exemplificar essa ideologia de Dora Longo, podemos observar dois curtas-metragens apresentados inicialmente pela mesma, na exposição individual denominada “TRASH METAL”, em 2010, na Galeria Vermelho, na cidade de São Paulo. Em um dos curtas, Longo Bahia apresentava um adolescente jogando “Call of Duty”, onde o cenário seria pautado no contexto da Segunda Guerra Mundial, risos atrelados a uma plateia de programa humorístico eram ouvidos no decorrer do movimento do jogo. O outro curta, detinha de 3 vídeos, correlacionados por um único áudio de uma criança lendo o texto “Tese IX” de Walter Benjamin, intitulando deste modo, a arte de Dora.

“Minha asa está pronta para o voo De bom grado voltaria atrás Pois permanecesse eu também tempo vivo Teria pouca sorte.” Existe um quadro de Klee intitulado “Angelus Novus”. Nele está representado um anjo, que parece estar a ponto de afastar-se de algo em que crava o seu olhar. Seus olhos estão arregalados, sua boca está aberta e suas asas estão estiradas. O anjo da história tem de parecer assim. Ele tem seu rosto voltado para o passado. Onde uma cadeia de eventos aparece diante de nós, ele enxerga uma única catástrofe, que sem cessar amontoa escombros sobre escombros e os arremessa a seus pés. Ele bem que gostaria de demorar-se, de despertar os mortos e juntar os destroços. Mas do paraíso sopra uma tempestade que se emaranhou em suas asas e é tão forte que o anjo não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, para o qual dá as costas, enquanto o amontoado de escombros diante dele cresce até o céu. O que nós chamamos de progresso é essa tempestade.

Trecho do livro: Les origines du drame baroque allemand, cit., p. 178 (W. Benjamin) citado em: http://www.revolucoes.org.br — Pág. 87

“Tese IX” — Disponível em https://www.galeriavermelho.com.br (Pág. 80) — Foto: Autor desconhecido

Em uma fase de sua trajetória artística, Dora Longo utiliza-se de retratos de recordações familiares para a produção de suas obras de artes, como é expresso em uma exposição coletiva, realizada na Casa das Rosas em São Paulo, datada 18 de novembro de 1999, nomeada de “United Artists V: Viagens de Indentidades”. As fotografias receberam o título de “imagens infectadas”, já que as mesmas apresentavam-se no período de deterioração, exaltando deste modo a passagem do tempo em que as fotos de lembranças estavam danificadas por fungos.

“Série Imagens infectas, 1999”- Disponível em
“Série Imagens infectas, 1999”- Disponível em https://www.galeriavermelho.com.br/pt/artista/75/dora-longo-bahia

Posteriormente, Dora aposta em exposições relacionados às paisagens, utilizando deste modo, seu viés críticos para expressar o forte desmatamento presente no dias atuais. Sendo assim, a mesma apresentou em 2017, um vídeo instalação denominado “Brasil x Argentina”, promovendo uma alusão sobre a rivalidade no futebol, mas destacando também, que os países vizinhos sofrem com a destruição da natureza simultaneamente. Dora Longa utiliza em seu próprio curta-metragem que ambos países escondem suas mazelas atrás do nacionalismo expresso pelo futebol:

Desde então, o país vive a maior crise política, econômica e ambiental de sua história, liderada por um Estado retrógrado e inconsequente que se debate, em meio a roubalheiras espalhafatosas, para assegurar os privilégios dos poderosos. Diferentemente do caso argentino, a derrota para a Alemanha no final da copa de 2014 explodiu a tampa do grande bueiro nacional, liberando uma série de toxinas e espectros escondidos há séculos. A catástrofe brasileira vai muito além do famigerado 7 x 1. Não seria hora de virar o jogo e desempatar essa história?

Disponível em: https://mam.org.br/wp-content/uploads/2018/04/35panoramadaartebrasileira.pdf — Pág. 87

Longo Bahia, possui experiência em várias áreas, como na cenografia, ilustração e performance, podendo então ser considerada uma artista multimídia. A mesma entre os anos de 1992 e 1995 tocou baixo na Banda Disk-Putas, ela realizava as apresentações, e iria mais longe, realizando também performance. Como forma de resistência e manifestação, Dora Bahia utilizou-se da Performance na exposição do verbo, na Galeria Vermelho em 2018, para repudiar a taxa de estupro contra mulheres no país, sendo 1 caso de estupro a cada 11 minutos, mediante a isso, uma mulher grita entre os convidados em cada 11 minutos.

“Mostra de performance arte Verbo,2018" — Disponível em https://www.flam.online — Foto: Thomas Lenden

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