O Conceito do Surrealismo

Maria Fernanda Fonseca
Wiki Jor — Cultura & Arte
3 min readOct 19, 2020

No início dos anos 20, mais precisamente em 1924, André Breton publicou o Manifesto Surrealista, marcando o surgimento de uma das mais filosóficas correntes de vanguarda do Modernismo: o Surrealismo.

Ao fundo, ‘Les Amants’ de René Magritte

Extremamente influenciada pela psicanálise de Sigmund Freud, a vanguarda surrealista buscava transmitir na arte todo o inconsciente e mundo dos sonhos, posicionando-se contra a ditadura da razão e os valores burgueses da existência utilitária. Sendo assim, o objetivo do movimento surrealista era libertar a humanidade da mediocridade racional e sufocadora da alma, tornando o Surrealismo, portanto,

“automatismo psíquico puro pelo qual se propõe exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral.” (BRETON, 1924, p.10)

Diferente do Dadaísmo de cunho meramente iconoclasta, o Surrealismo atribuía simbologias às obras, que geralmente abordavam a melancolia (muito por influência do período entre guerras no qual se situa) e a alucinação, sempre com temas introspectivos, reflexivos e sombrios.

Frida Kahlo por Nickolas Murray em 1941

Com relação aos artistas expoentes, o Surrealismo foi o movimento de vanguarda mais aberto a mulheres em seu grupo, com marcos como Frida Kahlo e Meret Oppenheim, porém essa participação possui um grande paradoxo. Segundo as pesquisas de Whitney Chadwick em “Women Artists and The Surrealist Movement”, muitas artistas mulheres negaram suas participações no movimento já que os homens não as reconheciam como iguais quando a discussão sobressaía à arte e chegava ao território político, ou seja, ao se discutir o futuro político do Surrealismo, as mulheres não tinham valor.

Além de Kahlo e Oppenheim já citadas aqui, Salvador Dalí e René Magritte também foram notáveis artistas do movimento, além do próprio autor do manifesto, André Breton. Como principais obras*, temos:

*Todas as obras citadas possuem links para visitação e detalhes.

Quase um século depois do primeiro manifesto, a arte surrealista e toda sua concepção de subjetividade e expressão do subconsciente continuam a influenciar várias obras, desde a literatura até o cinema. Sendo assim, cabe citar alguns exemplos**:

Fan Art de ‘Eraserhead’

**Todas as obras citadas possuem links para os respectivos trailers.

Todas essas obras mais atuais abordam temas como suicídio, alucinações e pensamentos introspectivos sempre carregados de melancolia e subjetividade, já que nenhum deles possui uma explicação concreta da obra, transparecendo forte presença do Surrealismo mesmo após o auge do movimento, seja nos temas ou na linguagem.

Com base em tudo o que foi abordado nesse texto, fica a reflexão: o quanto nós, os homo sapiens dotados de tecnologias e imersos em toda informação criada e transmitida por nós mesmos, precisamos de uma introspecção surrealista para conciliarmos consciente e inconsciente?

REFERÊNCIAS

BRETON, André. Manifeste du Surréalisme: Qu’est-ce que le Surréalisme? Paris, 1924: p. 2–10

CHADWICK, Whitney. Les Femmes dans le mouvement surréaliste. Paris, 1985

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