Estudante de Medicina é investigado por se passar de médico e atender pacientes em hospitais do interior do Ceará

A polícia investiga a conduta de Lucas Félix, de 31 anos, acusado de atender pacientes ilegalmente em Aratuba, Baturité e Guaramiranga

William Barros
William Barros
4 min readMar 30, 2020

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Reportagem produzida para a editoria “Cotidiano”, do portal Tribuna do Ceará, em 2019.

O estudante teria atendido na Unidade Municipal de Pronto Atendimento de Baturité (FOTO: Google Maps)

A conduta de um estudante de Medicina virou alvo de investigação policial desde a semana passada. Cursando o terceiro semestre da graduação, Lucas Félix, de 31 anos, é acusado de atender pacientes ilegalmente em pelo menos três municípios do interior do Ceará: Aratuba, Baturité e Guaramiranga. Segundo as denúncias, o estudante cobria plantões de médicos contratados e convidava colegas de turma para acompanhar sua rotina nas unidades de saúde.

Questionada sobre a investigação policial, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) informou que foi instaurado inquérito policial na Delegacia Municipal de Guaramiranga para apurar denúncias relacionadas à prática ilegal da Medicina em cidades pertencentes à Área Integrada de Segurança 15 (AIS 15), e que teria como suspeitos estudantes de uma universidade situada em Fortaleza.

Se for comprovada a sua responsabilidade no caso, Lucas poderá ser condenado à pena de 6 meses a 2 anos de prisão, por exercer a Medicina sem autorização dos órgãos competentes. Procurado pelo reportagem, o acusado disse que somente seu advogado comentará o caso.

O advogado Luiz Nogueira, por sua vez, garante que, até o momento, ele e seu cliente não foram notificados sobre a investigação. “Não existe conhecimento formal sobre qualquer tipo de investigação”. Nogueira acrescenta que Lucas só irá se manifestar nos autos do inquérito e “quando, de fato, tiver acesso à investigação”.

Hospitais procurados

Por telefone, a direção do Hospital Municipal de Guaramiranga afirmou que não está autorizada a passar informações sobre o caso, em virtude da investigação policial. A coordenação da Unidade Municipal de Pronto Atendimento (Umpa) de Baturité também preferiu não dar declarações, mas disse que a equipe da instituição comparecerá à delegacia em breve para prestar depoimentos.

Em nota, a Prefeitura de Baturité afirma que Lucas Félix não exerceu qualquer prestação de serviço junto às unidades básicas de saúde da cidade e diz que o estudante jamais foi servidor do município. O comunicado destaca ainda que “a Secretaria de Saúde já está tomando as providências criminais e as medidas administrativas cabíveis, colaborando com as autoridades policiais que investigam o caso”.

As secretarias de saúde dos municípios de Guaramiranga e Aratuba também foram procuradas pela reportagem, mas não responderam até o fechamento da matéria.

Comunidade acadêmica revoltada

A denúncia tem revoltado estudantes do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor). “Os alunos estão bem incomodados, tanto com a questão dos pacientes quanto pelo nome da universidade”, revela uma estudante membro do Centro Acadêmico do Curso de Medicina da Unifor.

Segundo a universitária, a entidade representativa dos estudantes soube do caso através dos próprios alunos. “Muitos colegas vieram falar. Fomos comunicar para a coordenação, mas a coordenação já sabia e nos disse que a Universidade vai abrir uma comissão para investigar e tomar as medidas institucionais”, pontua ela.

Além da estudante, o Sistema Jangadeiro colheu depoimentos de outros cinco colegas do aluno acusado. Segundo eles, a história que veio à tona na semana passada não é novidade. “A gente sabe desde o semestre passado, mas eu morria de medo de denunciar. Ele chegou a convidar outros meninos do nosso curso para acompanhar ele, mas parece que foram só uma vez, viram que era ‘furada’ e não foram mais”, revela uma estudante que preferiu não ser identificada.

Outro aluno afirma que o acusado disse acreditar que o caso “não vai dar em nada”. “Ele continua matriculado e falando besteira o tempo todo, dizendo que não vai dar em nada, se gabando, porque é réu primário. Estou irritado com essa história. A gente está querendo fazer alguma manifestação para exigir expulsão dele da faculdade”, revela o estudante.

Processo administrativo disciplinar

Por meio de nota, a Unifor afirmou que já instaurou processo administrativo disciplinar para apurar as eventuais irregularidades. Segundo a instituição de ensino, caso a denúncia seja comprovada, serão adotadas as medidas cabíveis no âmbito institucional.

No mesmo comunicado, a universidade acrescenta que já notificou o Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec) e as prefeituras municipais com as quais mantém parcerias de internato sobre as medidas adotadas neste caso.

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William Barros
William Barros

Cearense, repórter na Folha de S.Paulo. Criativo, curioso e interessado em contar boas histórias.