Lutar contra o HIV não é só prevenção e descoberta

Will Poliveri
I Will
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3 min readDec 1, 2016

Todo ano no dia 1 de dezembro, as redes sociais ficam abarrotadas de gente pedindo para as pessoas se prevenirem contra o vírus HIV. E não são só os internautas: em todo Dia Mundial de Luta Contra a Aids, sites, jornais e emissoras de TV lançam reportagens sobre o aumento dos novos casos da doença, alertando que é fazer sexo seguro e que é importante se testar para descobrir se foi infectado. São informações importantes? Claro que são! Afinal, se todo mundo tivesse consciência disso tudo, não tinha gente se descobrindo soropositiva todo dia. Porém, o que se esquece neste dia é que lutar contra o HIV não é só evitar o contágio: é também enfrentar o preconceito.

Se você perguntar para qualquer pessoa com HIV qual seu pior medo, dificilmente ela vai responder que tem medo da morte. Hoje o tratamento possibilita que um soropositivo tenha tanta qualidade de vida quanto uma pessoa sem o vírus. Ela pode sair, pode beber, pode fazer sexo, pode fazer tudo! Inclusive, sua expectativa de vida é a mesma de um soronegativo e é mais provável que o soropositivo morra em um acidente de carro do que por causa da doença - desde, é claro, que siga o tratamento corretamente.

Sabe qual o maior medo de um soropositivo? É ser discriminado. No trabalho. Na família. Nas amizades. Na vida amorosa. Porque o mesmo engajamento na hora de cobrar o uso da camisinha não existe no acolhimento social de um soropositivo. Décadas depois, ainda se escuta aqueles comentários "será que fulano está com Aids, tô achando ele tão magro", sem nem parar para pensar que o colega ao lado pode conviver com o vírus e se machucar com esse preconceito.

Isso sem falar da rejeição e medo que explodem quando alguém abre o jogo sobre seu status sorológico. Quer uma prova? Como você reagiria se a pessoa com quem você está saindo contasse que tem HIV, mesmo que vocês tenham se protegido? Você sentiria medo? Pularia fora? Voltaria no tempo e reanalisaria todas as coisas que fizeram juntos? Você se sentiria enganado? Você pensaria primeiro em você ou nela?

"Ah, mas ela podia ter me contato antes". Podia, mas o próprio fato de ela não contar antes diz muito sobre seu medo de ser rejeitada. É aquela tentativa de se blindar, como se dar a notícia quando já existe um sentimento e uma ligação mais forte fizessem este detalhe tão pequeno não fazer diferença. Porque é um detalhe pequeno! Mas um detalhe que gera angústia, ansiedade e nervosismo. Para um gay soropositivo, é uma segunda saída do armário, que ele vai realizar toda vez que se envolver com alguém, onde vai buscar o melhor momento para dar a notícia e que, ainda assim, nada garante que não será descartado.

Enfrentar este medo é aquela ferida que nunca sara porque uma pessoa soropositiva sempre precisa retirar a casquinha. E, num dia de luta contra a Aids, aprender a conviver com ela, seja você positivo ou negativo, é tão importante quando fazer alguém descobri-la. Afinal, não adianta incentivar o diagnóstico se depois jogamos estas pessoas em uma vida de medo e insegurança.

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Will Poliveri
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Jornalista, cinéfilo e problematizador. Ao ser dispor!