Expectativas para o Mercado de Criptomoedas em 2020

Rafael Cesar Cirico Garcia
Wise&Trust
Published in
11 min readFeb 10, 2020

Introdução:

Altas e baixas. E altas. E baixas. E altas? Fica até difícil acompanhar desse jeito, não? Mas foi isso o que aconteceu em 2017, Este ano em que o Bitcoin e as demais criptomoedas ficaram conhecidas mundialmente. O público geral entrou no mercado de criptomoedas, e os preços foram excessivamente inflados (movimento também conhecido como pump). Já 2018 foi o ano em que o preço das criptomoedas desinflou (movimento conhecido como dump), e o que aconteceu? A “bolha” estourou. E 2019? Este é o ano em que os investidores institucionais entraram no jogo, e as criptomoedas voltaram a subir, entre o início e metade do ano. De julho a dezembro, os investidores colocaram no bolso o lucro que fizeram no primeiro semestre de 2019, o que fez com que o mercado caísse. Para 2020, o mercado de criptomoedas está mais maduro, o ambiente regulatório está mais bem estabelecido, e o posicionamento dos diversos países perante as criptomoedas e os ativos digitais está mais amigável. Este ano contará com o evento que reduzirá a mineração de Bitcoins pela metade (conhecido como halving); também, contará com as eleições dos EUA, e diversas tensões geopolíticas mundiais, que prometem causar bastante volatilidade nos preços dos criptoativos.

Incertezas e riscos geopolíticos:

Começando pelo começo. Após um mês de variações negativas nos preços dos criptoativos no final de 2019, o ano de 2020 iniciou com altas, em decorrência direta do assassinato do principal general do Irã, Qasem Soleimani, em 3 de janeiro de 2020. O assassinato foi ordenado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, com a justificativa de que o general era um terrorista, e que sua morte poderia “evitar” uma guerra entre os dois países. Este evento causou alguns dias de pânico e queda nos principais índices de mercado tradicionais — como o S&P500 (dos EUA), os índices europeus e asiáticos –, já que surgiu expectativa de que uma guerra (nuclear) entre os países poderia, de fato, ocorrer. Alguns ativos específicos tiveram alta, como é o caso do petróleo, que é sensível a crises no Oriente Médio, — assim como o ouro, — que é considerado um ativo “defensivo”, comprado em momentos de riscos e incertezas. Ao lado o do ouro, o preço do Bitcoin também respondeu ao conflito militar entre o Irã e os EUA com forte alta.

O Irã revidou contra os EUA, como havia sido prometido, ao realizar o lançamento de mísseis contra bases americanas no Afeganistão. Isso levou o preço dos criptoativos a subir novamente… e eles não voltaram a cair desde então — mesmo com o pronunciamento do presidente Trump sobre o seu desejo de paz entre os EUA e o Irã. No caso, o catalisador da alta do Bitcoin, do ouro e do petróleo, foi a incitação de guerra. Mas, uma vez que a guerra não irá de fato acontecer, cogita-se que o preço do Bitcoin deveria voltar para o seu patamar de preços anterior, como aconteceu com o ouro.. Entretanto, nem sempre os movimentos dos ativos são tão óbvios assim. Os investidores do Bitcoin aproveitaram o momento para impulsionar a alta do preço do Bitcoin no início do ano de 2020. O gráfico 1 (abaixo), desenvolvido pela Messari (empresa de research de criptoativos, representa bem a resposta do preço do Bitcoin ao conflito entre os EUA e o Irã no começo de 2020:

Gráfico 1: Bitcoin and the Iran conflict: Is $BTC becoming Digital Gold? / Fonte: Messari: https://twitter.com/MessariCrypto/status/1215030003261460497
Gráfico 2: Bitcoin has never shown much correlation to gold or other SOVs. / Fonte: Andrew Kang: https://twitter.com/Rewkang/status/1214983170862399488

O segundo gráfico (gráfico 2) mostra como o preço do Bitcoin permaneceu em alta mesmo após o preço de outros índices — ouro e petróleo — retornarem para o patamar inferiores após ficar claro que não haveria guerra entre os EUA e o Irã.

Desde a metade de janeiro, o risco de uma epidemia global causada pelo surgimento do coronavírus em Wuhan (China) levou o mercado de criptomoedas a subir com força. Este foi o segundo driver mais importante do mês de janeiro para o Bitcoin e as demais criptomoedas — após o breve conflito entre os EUA e o Irã. Com a dispersão do vírus corona, várias cidades da China permaneceram em estado de contenção, o que implicará em uma menor atividade industrial e comercial no ano de 2020 (do que o esperado), e assim um PIB menor para a China. Com essa expectativa, as bolsas mundiais caíram, e as criptomoedas subiram.

Imagem 1: Coronavirus. / Fonte: https://pixabay.com/illustrations/coronavirus-virus-mouth-guard-4817450/

Bitcoin, o ouro digital:

A alta do Bitcoin perante o noticiário político e econômico mundial traz de volta a tese de que o Bitcoin está se tornando o que ele foi inicialmente concebido para ser: uma espécie de ouro digital. Ou seja, o ouro está para os mercados tradicionais assim como o bitcoin estaria para o mercado dos ativos digitais. A correlação entre o preço do Bitcoin e do derivativo do ouro subiu desde o início de dezembro até a metade de janeiro. Isso não significa uma correlação espetacular entre os dois ativos, mas aponta que o Bitcoin está obtendo um papel claro enquanto um ativo que possibilita aumentar a diversificação de portfólios compostos por ativos tradicionais, ao mesmo tempo em que proporciona um posicionamento defensivo contra movimentos negativos em índices tradicionais.

Ficou claro, em 2019, que o preço do Bitcoin foi principalmente movimentado pelo noticiário relativo a assuntos políticos e macroeconômicos, como as questões regulatórias para os criptoativos e a tecnologia blockchain, além da guerra comercial entre os EUA e a China. Seguindo a mesma linha de argumentos, uma das expectativas para o mercado global era doa desaceleração do crescimento das maiores economias do mundo — como a dos EUA, de alguns países europeus e a da China, por exemplo –, assim como uma potencial queda nos preços dos ativos das empresas desses países. Existia uma expectativa de que, com a queda desses ativos, o dinheiro poderia eventualmente ser realocado no mercado de criptomoedas. Entretanto, o governo estadunidense já começou a injetar dinheiro na economia — no mesmo estilo feito pelo ex-presidente Obama –, gerando liquidez — movimento esse que se chama quantitative easing (QE), como forma de sustentar o crescimento da economia. Logo, não há mais razão para acreditar que haverá essa realocação para o mercado dos criptoativos — ao menos não enquanto fuga de capital. Entretanto — e felizmente –, há a possibilidade de o dinheiro injetado na economia através do quantitative easing ser alocado em criptoativos — como forma de balancear portfólios de fundos e bancos. Desta forma, fica a pergunta, o que deve levar o mercado de criptoativos a subir no ano de 2020?

Drivers de mercado de 2020:

1) Incertezas geopolíticas:

A reeleição nos EUA, a finalização do acordo comercial entre os EUA e a China, e as tensões políticas entre países do Oriente Médio com os EUA são potenciais catalisadores da alta do Bitcoin. Não apenas isso, vale lembrar que a maior parte dos ataques realizados por governos contra os criptoativos — em relação à forte regulamentação de criptoativos e da tecnologia blockchain — já foram realizados na maior parte — e estão precificados pelo mercado. Isso significa que podemos esperar notícias positivas para o ambiente dos criptoativos e da tecnologia blockchain no ano de 2020, uma vez que o pior provavelmente já passou. Esse é o caso de bancos europeus, como o da Alemanha, por exemplo, que provavelmente poderão manter Bitcoin em seus portfólios a partir de 2020. Ou seja, as grandes baleias e tubarões do mercado tradicional (bancos comerciais e bancos centrais) poderão entrar oficialmente neste jogo ainda este ano.

No entanto, as disputas do projeto Libra do Facebook e da TON do Telegram — que promovem meios de envio e recebimento de dinheiro por aplicativos de chat — com os agentes reguladores estadunidenses ainda vão dar o que falar em 2020. Vale notar que a implementação destas tecnologias irá certamente ampliar o uso de criptoativos nas transações financeiras mundialmente.

2) Drivers de crescimento:

De acordo com uma pesquisa realizada no final de novembro de 2019 pela equipe da exchange Binance com altos executivos de 200 dos seus grandes clientes institucionais, os principais drivers de mercado do universo de criptoativos permanecem sendo (1) as mudanças em regulações globais e locais, (2) serviços prestados por corretoras tradicionais, (3) o desenvolvimento de contratos de opções e outros derivativos, (4) ETFs do Bitcoin, (5) o desenvolvimento do projeto Libra, (6) e as Moedas Digitais de Bancos Centrais.

Imagem 2: Largest six growth drivers. / Fonte: Binance Research: research.binance.com/analysis/institutional-insights-2nd-edition

3) Halving do Bitcoin:

Não apenas isso, mas maio é o mês em que o tão aguardado halving do Bitcoin irá acontecer. Existem diversos cenários para o halving. Alta antes do halving. Alta após o halving. Nenhuma alta. Queda. Enfim, muitas possibilidades. Mas, independentemente das diversas teorias sobre o halving, há de se considerar que o preço do Bitcoin já realizou um recuo em 2019, de julho até dezembro, e poderá voltar a subir em 2020 — devido a várias questões já discutidas acima. De fato, em janeiro de 2020, o mercado já voltou a apontar para alta — o que aconteceu em todos os primeiros dias de janeiro do Bitcoin desde 2015. Começaram até mesmo a aparecer “previsões” para o preço de Bitcoin para mais de U$20.000, ou até mesmo alcançar U$100.000 — “to the moon”, como diriam os maximalistas, o que requereria mais de 1 trilhão de dólares no Bitcoin. Alguns ainda acreditam que o Bitcoin ainda pode cair até U$6.000, ou até mesmo U$3.000. Thomas Lee, da empresa de market research Fundstrat, acredita que o preço do Bitcoin ultrapassará U$20.000 em 2020, dado ao potencial de alta gerado pelo cenário de riscos, incertezas e conflitos geopolíticos nas economias globais, assim como o halving do Bitcoin e as eleições estadunidenses. Não apenas isso, mas ele e outros analistas acreditam que o halving nem mesmo está precificado ainda — afinal de contas, como foi dito acima, o mercado recuou bastante desde julho de 2019. Seja como for, a única dúvida que não temos é de que o mercado terá grande volatilidade em 2020. Abaixo um gráfico demonstrando o desenvolvimento do Bitcoin em relação aos halvings que ocorreram em 2012 e 2016:

Gráfico 3: Bitcoin’s halving history. / Fonte: Messari: messari.io/article/everything-you-need-to-know-about-the-next-bitcoin-halving

Derivativos:

Com o objetivo de se defender da volatilidade inerente deste mercado — e esperada para 2020 -, uma das opções oferecidas aos investidores, atualmente, é a utilização de diversos instrumentos defensivos, como é o caso dos derivativos financeiros. No dia 13 de janeiro, foi lançado as opções do Bitcoin na CME , que iniciou com alto volume, e levou os preços do ativo a subir nos dias subsequentes. O surgimento dos derivativos futuros da Bakkt (corretora de derivativos) em novembro de 2019, as opções da CME, a alta liquidez de diversos futuros do Bitcoin — como é o caso da BitMEX (a maior exchange de derivativos de criptoativos), entre outras empresas -, tem permitido que fundos e investidores mais precavidos se sentissem mais àa vontade para adentrar no mercado de criptoativos, que agora conta com ferramentas de gerenciamento de risco eficientes. Não obstante, há ainda a possibilidade do lançamento de um ETF (fundo de índice de ações) do Bitcoin — apesar da Bitwise (empresa de gerenciamento de assets de criptoativos) ter recentemente retirado a sua proposta de ETF do Bitcoin — devido a extrema resistência das autoridades monetárias dos EUA de lançar uma ETF para o Bitcoin. Portanto, um cenário de regulamentações mais estável, e o surgimento de instrumentos de derivativos sendo fornecidos por empresas confiáveis do mercado tradicional, tem propiciado um maior fluxo de capital para o mercado de criptoativos, o que certamente irá beneficiar ainda mais este ecossistema de investimentos.

Altcoins:

O caso das altcoins (as criptomoedas “alternativas”, todas as que não são o Bitcoin) é um pouco mais delicado do que o caso do Bitcoin. Vale lembrar que a maior parte das criptomoedas estão com seus preços até 90% abaixo da máxima de preços alcançada no início de 2018. E, nada aponta que elas deverão necessariamente retornar para aqueles patamares anteriores. Entretanto, em 2019, diversas altcoins pararam de cair, e subiram com força no primeiro semestre do ano. Nada impede da mesma coisa ocorrer novamente em 2020. Das maiores altcoins, algumas que tiveram resultado positivo em 2019 são a Binance Coin (BNB), o Litcoin (LTC), a Tezos (XTZ), a VeChain (VET), a ChainLink (LINK) e o Basic Attention Token (BAT). Algumas que tiveram resultado negativo são a Ethereum (ETH), a Ripple (XRP), a Stellar (XLM), a TRON (TRON), a Cardano (ADA), e a IOTA (MIOTA). Brian Armstrong, o CEO da exchange Coinbase afirma que, para a próxima década, as criptomoedas terão que substituir a especulação de mercado com velocidade, segurança, e produtos utilizáveis de fato. Para 2020, é importante prestar atenção nos resultados reais que as empresas por trás das altcoins estão alcançando, como forma de mensurar o valor real (fundamental) dessas empresas.

Gráfico 4: Resultado das criptomoedas em 2019. / Fonte: https://coin360.com/

Mineração:

Durante o ano de 2019, o hashrate (poder computacional destinado a mineração) do Bitcoin aumentou em torno de 2,5x. Esse fato ocorreu devido ao lançamento da nova geração de ASICS específicos para esse fim. Tais máquinas possuem um poder computacional de 3 a 4 vezes maior, e uma eficiência quase duas vezes maior do que a máquina da geração anterior, no caso de grandes mineradores investissem pesado na atualização para a nova geração.

Gráfico 5: Hashrate do Bitcoin. / Fonte: https://www.blockchain.com/en/charts/hash-rate

Esse fato, junto ao halving que se aproxima em maio de 2020 — que irá cortar a rentabilidade do bloco pela metade -, nos faz pensar em alguns possíveis cenários para o mercado:

1) Um possível rali de preços irá ocorrer antes do halving, o que puxará a rentabilidade (em moeda FIAT) pra valores próximos ao da rentabilidade anterior ao halving. Nesse caso, considerando a rentabilidade com a atual, isso levaria o preço do Bitcoin para a casa dos $18.000 a $20.000;

2) Haverá um contínuo aumento do hashrate nos meses antecedentes ao halving: Pelo gráfico acima, podemos verificar que esse cenário já está tomando forma e tende a se manter até maio. Isso pode reforçar o impacto dos cenários 1 e 3;

3) Auto-Ajuste: Neste cenário, considera-se que o preço do Bitcoin não sofrerá nenhum tipo de rali (e estacione entre $8.000~$10.000), o que fará com que grandes mineradores (com maquinas em gerações mais antigas e/ou altos custos operacionais) saiam do mercado, resultando na diminuição da dificuldade de mineração para os mineradores que permanecerem, que finalmente levará a uma alta (recuperação) da rentabilidade a estes últimos;

4) Queda Permanente na rentabilidade: Esse pode ser considerado o cenário “apocalíptico” para os mineradores, fazendo com que apenas os maiores (e com maior potencial de fluxo de caixa e investimento) permaneçam no mercado.

Se nos basearmos nos últimos dois halvings do Bitcoin, podemos considerar que, após o halving, uma possível conjuntura dos itens 1 e 3 seja passível de acontecer. Dependendo do tamanho do rali, uma gradual saída da geração anterior de Asics e mineradores com menos eficiência operacional saindo do mercado deve ocorrer.

Conclusão:

O ano de 2020 será um ano de grande volatilidade no mercado financeiro como um todo. o preço das criptomoedas também irá contar com grande volatilidade devido à, principalmente, diversas tensões geopolíticas mundiais, a eleição presidencial dos EUA, e o halving do Bitcoin.

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