Porque “ir com medo mesmo” me deu uma oportunidade de imigrar para o Canadá

Stefanie Melo
WoMakersCode
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5 min readAug 7, 2018
Photo by Mario Azzi on Unsplash

Por medo de arriscar, colocamos diversos empecilhos pra evitarmos lidar com ele, sabotando tudo o que poderíamos conquistar se não o tivéssemos desde o princípio.

Em março desse ano, o Vanhack fez a primeira feira de recrutamento para a qual eu havia sido convidada a participar. Na época eu ainda não havia começado a “trabalhar” meu problema de insegurança e quando recebi o convite fiquei com diversos medos: Do meu inglês (fazia muito tempo que não praticava), eu não me achava preparada tecnicamente e que eu simplemente iria “passar vergonha”. Eu não fui e fiquei com um remorso enorme achando que havia perdido a minha oportunidade e, confesso, acabei chorando o final de semana inteiro porque sempre tive o sonho de morar no Canadá.

Os dias passaram e, no início de Junho, participei do primeiro Meetup do DevJavaGirls onde assisti à palestra da Cynthia Zanoni sobre a síndrome do impostor. Eu sei o que é a síndrome do impostor e sei o quanto ela é nociva mas nem percebemos e achamos que não é o que esta acontecendo com a gente. Então eu percebi que foi exatamente essa síndrome que me fez me sabotar e perder a primeira feira, mas eu estava determinada a não deixar isso acontecer novamente.

Logo após o Meetup, vi que o Vanhack ia realizar uma nova feira no final do mês (Junho) e eu falei “é isso!”. Assinei o plano Premium pra poder participar das aulas de inglês (que acontecem todos os dias), pedi consultoria pra melhorar meu currículo e o Linkedin e, então, me apliquei para as vagas das empresas que estavam vindo para o Brasil. Todos os dias o Vanhack postava coisas novas no Slack pra gente ir se preparando para as entrevistas, coisas sobre as empresas, sobre o mercado de trabalho Canadense, como se portar nas entrevistas. Eu mergulhei de cabeça nessa preparação e aproveitei ao máximo tudo o que eles ofereciam de materiais. Escrevi os valores das empresas no vidro da minha sala pra que eu não esquecesse e, além de relacionar esses valores aos meus, fiz diversas práticas de entrevista com o pessoal do Vanhack antes do grande dia.

A experiência com a feira foi extremamente maravilhosa, nesse vídeo eu conto um pouco mais para o Ilya, fundador do Vanhack como foi participar desse processo. A todo momento, na sala ao lado, você podia conversar com os representantes dos governos das províncias de Saskatchewan e Manitoba, onde ficam as empresas que estavam contratando e pude me apaixonar pelos lugares e oportunidades que as províncias proporcionam. Chorei de alegria ao assistir ao vídeo onde um conterrâneo fala sobre demorar 15 minutos na volta pra casa, pra quem já levou duas horas e meia pra voltar me senti vendo o paraíso (brincadeira… mas é serio).

Como eu havia sido chamada para participar do processo de duas empresas, acabei indo nos dois dias da feira. No primeiro dia, eu estava realmente muito ansiosa, petrificada por ter que ficar cara a cara com os entrevistadores, além de fazer o desafio de código. Essa empresa estava fazendo duas entrevistas, uma logo no início do dia e outra ao final (para os que passaram na primeira). A primeira entrevista foi “ok”, apesar de nervosa senti que o entrevistador estava tentando me deixar calma. Na segunda, foi o oposto e eu nem consegui olhar nos olhos do segundo entrevistador. Saí arrasada da entrevista sabendo que apesar de qualquer coisa, eu não tive a coragem suficiente pra enfrentar o meu medo aquele dia…

No segundo dia da entrevista eu quase não fui, precisei juntar muita força e me lembrar diversas vezes que aquele era o meu sonho e que eu precisava ser justa comigo mesma e todo o esforço que eu tive até aquele momento. Eu parei do lado de fora e tive duas crises de ansiedade antes de entrar. Eu realmente queria muito e já tinha me apaixonado pela empresa que eu seria entrevistada naquele dia, pela sua cultura e por tudo o que eu aprendi sobre ela. Tentei me dedicar ao máximo e priorizar as tarefas do desafio de código com o que eu pensava que deveria ser o que eles gostariam de analisar. A entrevista foi super tranquila e fizemos pair programming onde eles disseram que “só queriam avaliar se eu era uma pessoa legal de trabalhar junto”.

Esperei por longuíssimas duas semanas até receber a notícia que havia conseguido o emprego e que agora só faltava o IELTS para participar do processo de imigração da província ❤

Mas por que eu escrevi tudo isso? Pra desmistificar muita coisa sobre o processo e sobre arriscar um emprego fora do país:

A primeira coisa a se pensar é que esse processo é como qualquer outro pra uma empresa dentro do nosso próprio país (pelo menos na área de desenvolvimento de software). Você faz uma entrevista por Skype ou presencial, como no meu caso. Depois uma entrevista técnica que pode ser o entrevistador vendo você codificando “ao vivo” (via acesso remoto ou compartilhamento de tela) ou você desenvolve algum mini projeto e entrega, explica o que pensou e etc. A única diferença é que você estará falando em inglês e o inglês que eu falo é aquele suficiente para ser compreendido, não estou falando do inglês “perfeito”, sem sotaque pois, como disse o Ricardo Jardim (Vanhack) “inglês é só uma ferramenta que você usa pra se comunicar”.

A segunda coisa é, se você se planejar corretamente, imigrar não será um bicho de sete cabeças. Eu venho planejando isso há muito tempo, juntando dinheiro e estudando os costumes do país que eu queria imigrar. Acima de tudo, se eu não me adaptar ou se algo não der certo, voltar ao Brasil será ainda mais fácil. Então não há realmente porque ter medo de arriscar, o que não podemos fazer é não estudar, aprender sobre os processos e deixar tudo ao acaso, ou nas mãos de outras pessoas (seu esposo(a), uma pessoa que ja imigrou e virou “guru” da imigração, um advogado de imigração) porque isso não vai te dar a confiança e segurança necessária pra tomar essa atitude.

Por último, queria acrescentar que o Vanhack vai fazer uma feira de recrutamento chamada Vanhack Leap versão 100% feminina e esta querendo pagar para 20 meninas poderem ir pessoalmente em Calgary (Alberta) e/ou Toronto (Ontario). Além de ser uma grande oportunidade de conhecer o país, será uma grande oportunidade para superar seus medos :)

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Stefanie Melo
WoMakersCode

Desenvolvedora Full Stack há 3 anos, apaixonada por tecnologia. Faço parte do Ruby Ladies e do Programaria.