Cientista com “A” maiúsculo.

ou como uma polêmica escocêsa deu origem ao termo ‘cientista’ e à discussão de gênero na ciência.

Andréa Freire
Woman in Tech
3 min readJan 2, 2017

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É curioso, e de um certo modo irônico, que ao passar dos anos o termo “cientista” tenha recebido uma conotação tão masculina, já que originalmente ele foi criado para definir a genialidade de uma mulher: Mary Somerville.

Escritora científica e polímata (pessoa que detém grande conhecimento de diversas áreas), Mary Somerville nasceu na Escócia e viveu de 1780 a 1872.

“…allowed to grow up a wild creature.” — Mary Somerville

Seu estudo On the Connexion of the Physical Sciences reuniu campos antes distintos da matemática, astronomia, geologia, química e física. De tão relevante, o tratado se tornou a espinha dorsal do primeiro currículo de ciências da Universidade de Cambridge.

De tal forma Somerville impressionou a todos na época que tornou o termo “homem da ciência” — usado para definir uma pessoa que contribuiu para o avanço e progresso do conhecimento — inapropriado e obsoleto.

“Em 1834, William Whewell definiu Mary Somerville como cientista, em parte porque ‘homem de ciência’ parecia inadequado para uma mulher, mas principalmente porque o trabalho dela era interdisciplinar. Mais do que uma astrônoma, física ou química, Somerville foi uma pensadora visionária que articulou conexões entre vários ramos de investigação… a cunhagem de Whewell da palavra ‘cientista’ não era apenas uma forma neutra em termos de gênero. Ele queria uma palavra que celebrasse ativamente ‘a iluminação peculiar da mente feminina’: a capacidade de sintetizar campos distintos em uma única disciplina”.

Renée Bergland, autora do livro “Maria Mitchell e o Sexing of Science: An Astronomer Among the American Romantics”

Ao sugerir o termo “cientista”, Whewell quis fazer uma correlação com a forma e significado da palavra “artista”. Ele chamou Somerville de “uma pessoa verdadeiramente da ciência” e reconheceu seu gênio criativo.

Ainda que reconhecida por seu intelecto, a imposição de papeis e restrições de gênero se manteve presente ao longo de toda a sua vida, tendo Mary Somerville sido impedida de entrar no Observatório do Vaticano pelo simples fato de ser uma mulher.

[ Fatos interessantes ]

# QUEBRA-CABEÇA

Mary começou a estudar álgebra após encontrar símbolos misteriosos nos quebra-cabeças de uma revista de moda feminina e convencer o tutor de seu irmão a comprar alguma para ela alguns livros sobre o assunto.

# WILIAM WALLACE

Após a morte de seu marido, Mary pode se dedicar a sua grande paixão: a ciência. Ela dominou a Astronomia de J. Ferguson e se tornou estudante da Principia de Isaac Newton (apesar de sua família e amigos desaprovarem). Ela se correspondia com o também escocês William Wallace, que, na época, já era mestre em matemática e a aconselhou . a criar uma pequena biblioteca com obras que lhe dariam uma boa base matemática.

# ADA LOVELACE

Foi tutora da pioneira em programação, Ada Lovelace, e quem a apresentou a Charles Babbage (juntos criaram o primeiro computador).

# ROYAL ASTRONOMICAL SOCIETY

Em 1835, um ano após a publicação do seu tratado, Mary Somerville era tida como a “a mulher mais instruída da Europa” e tornou a segunda mulher na Royal Astronomical Society.

Texto traduzido e adaptado do site Brainpickings.com | Versão original em: brainpickings.org/2016/12/26/mary-somerville-scientist/

Fonte extra: https://www.agnesscott.edu/lriddle/women/somer.htm

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Andréa Freire
Woman in Tech

Innovation Strategist and Trend Forecaster. Captures urban signs and writes about cultural research.