Brasileiros na Estônia: Bryan Farani

Ana Luiza Silveira
Work in Estonia
Published in
6 min readApr 22, 2021

Antes de morar na Estônia, ele era jogador de vôlei. Decidiu empreender e, hoje, treina atletas de alta performance e até uma seleção feminina do país

Foto: Arquivo Pessoal

Desde muito jovem, Bryan Farani viaja pelo mundo. Aos 16 anos, saiu de casa em Valença, interior do Rio de Janeiro, para ser jogador de vôlei no Clube Johnson, em São José dos Campos (SP). A partir daí, começou a rodar por clubes de vôlei de São Paulo, que proporcionaram a experiência de jogar em países como Arábia Saudita, Espanha, Bélgica e Líbano. Em 2011, passou uma temporada jogando na Estônia. E foi aí que sua vida começou a mudar.

Certo dia, conheceu a estoniana Anna Liisa, técnica de vôlei e personal trainer. E se apaixonou. Mas manter um relacionamento a uma distância de mais de 10.600 quilômetros, separados por um oceano, não é nada fácil. “Ela chegou a passar três meses comigo no Brasil, mas ficávamos muito tempo sem nos vermos. Foi então que decidimos, em 2013, ficar juntos no mesmo país”, conta ele.

Nesta partida entre Brasil e Estônia, venceu a Estônia. “O grande fator foi a barreira linguística. No Brasil, não há tantas pessoas que falam inglês. Para ela, a adaptação seria mais difícil. Já sabendo como é a vida na Estônia, tendo passado algumas temporadas e feito muitos amigos aqui, para mim não foi difícil tomar essa decisão”, diz Bryan.

Bryan e a namorada, a estoniana Anna Liisa, que também é personal trainer — Foto: Arquivo Pessoal

Um mercado inexplorado

Antes de desembarcar no país, Bryan precisou repensar sua vida profissional. Em vez de jogar vôlei, ele decidiu empreender na área de personal training. “Eu já tinha feito alguns cursos para ser treinador pessoal, e decidi fazer uma análise desse mercado na Estônia. O que descobri foi que havia muitas oportunidades aqui, pois as pessoas pensavam que isso era apenas para atletas e fisiculturistas, havia um certo preconceito”, comenta. “Pelo contrário, é para todas as idades! Percebi esse gap no mercado, uma grande possibilidade de crescimento, e decidi apostar”.

Mas, entre a expectativa e a realidade, se passaram alguns meses. “No meu primeiro semestre morando na Estônia, não tive um aluno sequer. Fui trabalhar no meu antigo time de vôlei, em Parnu, mas não desisti. A falha nunca passou pela minha cabeça”, conta Bryan. Aos poucos, ele foi conseguindo seus primeiros alunos, a atividade começou a engrenar e hoje ele vive em Tallinn, trabalhando como personal trainer em aulas particulares e também em uma unidade da MyFitness, uma das maiores redes de academias dos Países Bálticos.

Foto: Arquivo Pessoal

Para chegar até aí, foram necessárias muitas horas de trabalho. “É preciso estar disposto a acordar todo dia às 5h30 e ir dormir perto da meia-noite. Você tem que batalhar pelo seu sucesso, especialmente quando é estrangeiro. A Estônia é um país muito receptivo, mas na hora de escolher entre um profissional brasileiro e um estoniano, as pessoas vão escolher o estoniano. Então, para empreender aqui, é preciso vir preparado e determinado a fazer diferença”, ressalta.

Hoje, ele treina homens e mulheres entre 25 e 34 anos dos mais diversos países — como Lituânia, Dinamarca, Croácia, Polônia, Brasil e da própria Estônia — e também atletas de alta performance, nadadores, jogadores de basquete e futebol. Além disso, é treinador da seleção feminina estoniana de vôlei de praia.

Além da academia, Bryan também treina alunos em casa — Foto: Arquivo Pessoal

Das conversas entre amigos para o YouTube

Por já conhecer a Estônia, a adaptação ao país, segundo ele, foi muito fácil. Nem o frio, que geralmente pega de surpresa quem passou boa parte da vida no calor escaldante do Rio de Janeiro, foi um obstáculo. “A única coisa que me incomoda é a quantidade de horas que passamos no escuro durante o inverno. Temos luz do sol apenas entre as 10h e as 15h30, e ver esse escuro quase o tempo todo é complicado. Dá uma sensação de letargia, de sono”, observa.

A estabilidade econômica, os baixos índices de criminalidade e de religiosidade da Estônia também foram, segundo Bryan, fatores importantes para a mudança. “Temos pouca interferência estatal na nossa vida e menos impostos do que no Brasil. E a qualidade de vida é outra, não troco por nada. Sendo autônomo, posso escolher meus horários e ter tempo para mim”, comenta.

Para compartilhar sua vida na Estônia com os amigos brasileiros, ele decidiu começar, em janeiro deste ano, a publicar vídeos em seu canal no YouTube. “Quando vou ao Brasil, tento ver o maior número de pessoas possível, mas nem sempre consigo contar tudo o que gostaria. Então, pensei que o canal poderia ser um ótimo lugar para isso. É divertido de fazer, posso mostrar as coisas legais da Estônia e levar um pouco do país para eles”, diz Bryan. A audiência está crescendo, e hoje vai além dos amigos. “As pessoas gostam muito dos vídeos, tenho uma relação bastante positiva com minha audiência”.

Tática: chegar preparado

Para quem quer empreender na Estônia, independentemente da área de atuação, Bryan recomenda muita pesquisa. “Se você vai mudar de país, estude sobre a área específica em que você quer empreender. O que você acha que tem potencial para crescer. Começar na Estônia é mais fácil do que no Brasil, mas é preciso vir preparado”, diz. Outra dica é a resiliência. “Fiquei seis meses sem conseguir dar andamento ao meu projeto. Os estonianos querem que você prove seu valor antes de te dar uma chance”.

Bryan diz que, para ele, a mudança de país valeu a pena. “A Estônia é muito legal, com uma história muito rica, pessoas muito determinadas e locais incríveis que valem a pena conhecer. Ver um lugar pessoalmente é muito diferente de ler sobre ele, então eu sempre digo para as pessoas virem, tanto para visitar como para trabalhar. É um país de encher os olhos, uma experiência muito interessante”.

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