Quem são os unicórnios da Estônia?

Ana Luiza Silveira
Work in Estonia
Published in
10 min readJul 28, 2021

O país é mundialmente conhecido por ser um celeiro de startups — sete já são avaliadas em bilhões de dólares. Conheça a história de cada uma delas!

Atualmente, a Estônia tem sete startups unicórnio — Foto: Annie Spratt

Apesar de ser um país pequeno, com apenas 1,3 milhão de habitantes, a Estônia é líder mundial em número de startups per capita — 4,6 — e berço de sete unicórnios — empresas com avaliação de mercado superior a 1 bilhão de dólares — até agora: Skype, Playtech, Wise, Bolt, Pipedrive, Zego e ID.me. Além disso, pelo menos uma dúzia de startups estonianas estão avaliadas em mais de 100 milhões de dólares cada uma, segundo a Startup Estonia — uma iniciativa governamental que visa ampliar o ecossistema de startups da Estônia.

De acordo com o Estonian Startup Database, existem hoje 1.126 startups operando atualmente no país. Em 2020, essas empresas geraram 782 milhões de euros em faturamento na Estônia, um aumento de 43% em relação ao ano anterior. No final de 2020, as startups da Estônia empregavam 6.072 pessoas localmente.

Entre os sete unicórnios, há empresas fundadas por estonianos ou baseadas na Estônia. A seguir, nós contamos para você um pouco da história de cada uma delas:

1. Skype

Fundado em 2003, unicórnio em 2005

O Skype foi o primeiro unicórnio da Estônia e sua fundação é considerada um dos capítulos fundamentais na digitalização do país e no seu renascimento como um paraíso para startups de tecnologia e empreendedores. Muitos dizem que foi o Skype quem deu início à “Fábrica de Unicórnios” da Estônia, por ter inspirado outros empreendedores a iniciar seus negócios no país.

A empresa foi um dos primeiros investimentos estrangeiros de enorme sucesso no ecossistema de startups da Estônia. Seus criadores, o sueco Niklas Zennström e o dinamarquês Janus Friis, poderiam ter ido a qualquer lugar com a ideia, mas escolheram a Estônia, onde outras mentes brilhantes do mercado de tecnologia estoniano ajudaram a torná-la realidade.

Apenas um mês depois de ser lançado, em agosto de 2003, o Skype atraiu nada menos que um milhão de usuários de várias partes do mundo. Foi aí que seus fundadores perceberam que a empresa iria decolar. Tanto que, apenas dois anos depois, a empresa foi vendida por 2,6 bilhões de dólares ao Ebay. Hoje, o Skype é uma empresa da Microsoft, que a comprou por 8,5 bilhões de dólares, e ainda tem boa parte de sua equipe trabalhando na Estônia.

Atualmente, o Skype é o aplicativo para computadores mais famoso do mercado e possui cerca de 560 milhões de usuários espalhados pelo mundo. Tão famoso que Toomas Hendrik Ilves, ex-presidente da Estônia, fez o seguinte comentário durante uma visita ao escritório da empresa em Palo Alto, Califórnia: “Pouca gente sabe onde fica a Estônia, mas todo mundo conhece o Skype. Portanto, agora eu digo que sou presidente do país onde está o Skype”.

O sucesso do Skype teve grande impacto no ecossistema de startups da Estônia. Centenas de pessoas que trabalharam na empresa em algum momento levaram seus conhecimentos para outras empresas e startups da Estônia. Outro unicórnio estoniano, a Pipedrive, é uma delas.

2. Playtech

Fundada em 1999, unicórnio em 2007

A Playtech é a maior fornecedora de softwares, plataformas e serviços de jogos online do mundo, incluindo bingo, cassinos, salas de pôquer, apostas esportivas, jogos para celular, jogos online, jogos com crupiê ao vivo e jogos de fliperama. A empresa projeta, constrói e opera tecnologia para mais de 150 marcas de apostas e jogos mais conhecidas, atendendo a centenas de milhões de jogadores em diversos países.

O cérebro por trás do início da startup foi o empresário cipriota-israelense Teddy Sagi, que queria reunir as mentes mais brilhantes do mundo dos jogos, da tecnologia e da multimídia para criar seus produtos. E o local escolhido para abrir a empresa foi a Estônia.

A Playtech lançou seu primeiro produto de cassino em 2001, e desde então cresceu até se tornar a maior designer, desenvolvedora e licenciadora internacional do mundo dos softwares de aplicativos para web e celular na indústria de jogos digitais. Ao longo dos anos, comprou diversas outras empresas e fez parcerias com gigantes do entretenimento, como Marvel e Warner Bros., para lançamento de produtos licenciados.

Pouco mais de duas décadas depois, a Playtech está no Índice FTSE 250 e listada na Bolsa de Valores de Londres, e tem mais de 300 marcas de jogos, mais de 150 licenciados globais e escritórios em 19 países ao redor do mundo — com os escritórios estonianos de Tartu a Tallinn operando como núcleo de desenvolvimento de plataformas e centro operacional de toda a empresa. Ao todo, a Playtech conta com mais de 600 especialistas envolvidos em desenvolvimento, produção e suporte ao cliente para as operadoras de jogos parceiras.

3. Wise

Fundada em 2010, unicórnio em 2015

Em 2008, o estoniano Kristo Käärmann trabalhava como gerente na consultoria Deloitte, em Londres. Ganhou um bônus de Natal de 10 mil libras esterlinas e, como viu que os bancos cobravam taxas de juros mais altas, decidiu transferir o dinheiro para sua conta na Estônia. Uma semana depois, descobriu que seu banco no Reino Unido cobrava uma tarifa considerável para converter libras esterlinas em euros, e perdeu 500 euros no processo.

Logo ele percebeu que as taxas de câmbio exibidas no Google, Bloomberg, Reuters e em outros lugares não eram as que os bancos usavam. Com a ajuda de um amigo, Taavet Hinrikus, que foi o primeiro funcionário do Skype, configurou um sistema que, a princípio, eles mesmos usavam, e depois passou a permitir a entrada de alguns amigos. E foi assim que nasceu, dois anos depois, a TransferWise — hoje chamada apenas de Wise.

O Wise foi colocado no nome da empresa porque seus fundadores consideravam que os primeiros clientes eram ´sábios´ por entender que seus bancos estavam cobrando taxas ocultas nas margens de câmbio.

Hoje, a Wise é a fintech mais valiosa da Europa, avaliada em 11 bilhões de dólares, e transformou seus Käärman e Hinrikus nos primeiros multimilionários da Estônia. A Wise tem 14 escritórios em todo o mundo — incluindo Tallinn, Londres, Cingapura, Nova York e São Paulo — , mais de 2 mil funcionários (dos quais metade trabalham na Estônia), mais de 10 milhões de clientes e realiza transferências em 55 moedas.

4. Bolt

Fundada em 2013, unicórnio em 2018

A Bolt, anteriormente conhecida como Taxify, é uma plataforma de compartilhamento de caronas que opera em mais de 40 países na Europa, África e América do Sul, com milhares de motoristas e milhões de passageiros inscritos.

Em 2012, Martin Villig, um dos fundadores da Bolt, estava organizando um evento em Kiev, na Ucrânia, e tentou pegar um táxi online. Não gostou da experiência. Então, teve uma ideia que poderia tornar o compartilhamento de caronas muito mais fácil e a levou para o irmão, Markus, que mergulhou nela.

Markus, que na época tinha 19 anos, também estava cansado do longo tempo de espera e dos altos custos dos táxis estonianos, especialmente nos finais de semana, quando saía à noite. Na época, havia mais de 30 empresas de táxi na capital da Estônia, todas usando call centers antigos que usavam operadoras intermediando a viagem.

Como estava nos exames finais do ensino médio e com bastante tempo livre, decidiu construir uma plataforma para “colocar o negócio de táxi em ordem” em Tallinn. Para saber como outras pessoas viam essa questão, Markus fez uma pesquisa via Google Docs em sua escola, na qual recebeu 600 respostas, 90% das quais afirmavam que havia uma necessidade aguda de uma nova plataforma de táxi na Estônia. Naquele tempo, ninguém tinha ouvido ainda falar da Uber, e Markus lançou um aplicativo móvel que permitia às pessoas solicitarem um táxi ou motorista particular de seus smartphones, mostrando o preço e o tempo de espera.

Hoje, a Bolt opera nos setores de transporte de passageiros, scooters elétricos e entrega de alimentos em mais de 30 países e mais de 150 cidades ao redor do mundo. Em 2019, a empresa se tornou um unicórnio, com avaliação de mais de 1 bilhão de dólares. No final de 2020, em sua maior rodada de investimentos, levantou mais de 150 milhões de euros. Segundo Markus, a Bolt tem planos de continuar crescendo rapidamente para cobrir 40 países e 200 cidades, especialmente na Europa e na África.

5. Pipedrive

Fundada em 2010, unicórnio em 2020

Timo Rein e Urmas Purde vendiam de tudo: desde anúncios em jornais até seguros. Eles treinaram, inclusive, vários profissionais de vendas para empresas como a Coca-Cola ou a Nissan. No entanto, depois de passar anos no domínio das vendas, eles não encontraram uma ferramenta de gerenciamento de vendas que atendesse às necessidades das pessoas que realizavam as vendas reais. Isso os instigou a criar a sua própria. Então, eles se uniram a a Martin Henk, Ragnar Sass e Martin Tajur para criar a Pipedrive, lançada como a primeira plataforma de CRM desenvolvida do ponto de vista do vendedor.

A Pipedrive usa inteligência artificial e automação para ajudar equipes de vendas a gerenciar leads e negócios com eficiência, rastrear as comunicações de clientes (e potenciais clientes) e, por fim, gerar mais receita para seus negócios. Além do software convencional, há também um aplicativo, que oferece integração com mais de 150 outros aplicativos — como Trello, Asana e Slack, entre outros — e permite a sincronização de calendário e contatos com Google e Microsoft. Recentemente, lançou uma plataforma para rastrear dados e tendências de vendas.

Hoje, a empresa está avaliada em 1,5 bilhão de dólares. Com sede em Nova York, a empresa tem 10 escritórios, localizados em oito países da Europa e dos Estados Unidos. São mais de 600 funcionários de 48 nacionalidades. O software é usado por equipes de vendas em mais de 95 mil empresas de quase 170 países.

6. Zego

Fundada em 2016, unicórnio em 2021

A Zego, seguradora comercial de automóveis sediada em Londres, foi cofundada pelo estoniano Sten Saar. No início deste ano, a empresa se tornou o sexto unicórnio estoniano, ao levantar 150 milhões de dólares e passar a ser avaliada em 1,1 bilhão de dólares, e o primeiro unicórnio insurtech do Reino Unido. Um de seus investidores é Taavet Hinrikus, fundador da Wise.

A Zego é uma seguradora voltada a automóveis de empresas — desde motoristas autônomos e passageiros até frotas inteiras de veículos. Seu diferencial é combinar tecnologia com múltiplas fontes de dados para oferecer produtos de seguros que economizam tempo e dinheiro.

Enquanto a maioria das seguradoras tradicionais precifica seus produtos de seguro com base puramente em fatores como idade e tipo de veículo, e enquanto outras também podem usar dados de comportamento do motorista baseados em telemática, a Zego é capaz de precificar apólices baseadas não apenas em fatores tradicionais, mas também em dados de comportamento do motorista e de seus hábitos de trabalho.

As informações que a Zego pode coletar somam cinco vezes mais dados por veículo do que os concorrentes, ou 50 pontos de dados por segundo. Isso significa que a empresa tem uma compreensão muito mais abrangente do risco do que os concorrentes, o que permite oferecer cobertura de seguro com o melhor valor, em apólices cuja duração varia de uma hora a um ano.

Até o momento, a Zego forneceu mais de 17 milhões de apólices de seguro e cobriu mais de 200 mil veículos em cinco países — e, à medida que o campo de seguros se torna cada vez mais digital, nascem mais oportunidades de crescimento para a Zego. A empresa quer dobrar o quadro de funcionários até o final de 2021 e expandir seus negócios para diversos países da Europa.

7. ID.me

Fundada em 2010, unicórnio em 2021

A ID.me está simplificando a forma como os indivíduos comprovam e compartilham sua identidade online com segurança. Por meio de um login portátil e confiável, a empresa permite que as pessoas controlem totalmente seus dados e não precisem criar uma nova senha em cada site que visitam. Os usuários podem usar essa credencial digital para acessar serviços governamentais, logins de saúde ou descontos de marcas de varejo.

Em todos os momentos, as informações pessoais são protegidas por criptografia de nível bancário.

A empresa, cofundada pelo estoniano Tanel Suurhans, nasceu nos Estados Unidos, país que investe milhões de dólares em negócios de identificação digital. No início, em 2010, tinha outro nome — TroopSwap — e era uma solução com foco militar que verificava os descontos dos veteranos das Forças Armadas dos Estados Unidos. Suurhans, que também é CTO da startup, entrou no projeto em 2013 — e foi nessa época que as coisas começaram a mudar.

Além de grandes habilidades técnicas e experiência em vários projetos de software na Estônia — incluindo a modernização da maior plataforma de publicação e gerenciamento de conteúdo digital usada nos Países Bálticos -, ele trouxe a experiência de uso seguro da identidade digital e de assinaturas eletrônicas, soluções usadas há vários anos pelos estonianos. Tudo isso foi bastante útil para a cofundação da ID.me.

Com a pandemia de Covid-19, a empresa teve rápido crescimento, já que vários estados americanos criaram novos programas de benefícios sociais — o que, por sua vez, levou ao crescimento das tentativas de fraude e à necessidade dos serviços de identificação online seguros. Em 2020, o número de funcionários da ID. me passou de cerca de 100 para 800. Até o final de 2021, deverá chegar a 2 mil.

Avaliada em 1,5 bilhão de dólares, a empresa tem 39 milhões de membros, com mais de 70 mil novos usuários se inscrevendo diariamente. As principais agências federais, 22 estados e mais de 400 marcas líderes aceitam o login da ID.me para agilizar a autenticação do cliente. O serviço é gratuito para os consumidores, enquanto os clientes empresariais pagam à ID.me pela confiança e para agilizar os fluxos de trabalho.

E quanto ao futuro?

Nós sabemos que essa história não termina em sete unicórnios. Recentemente, a Invest in Estonia reuniu várias previsões sobre empresas com potencial para se tornarem os próximos unicórnios da Estônia.

A lista, proposta por algumas das pessoas mais proeminentes no cenário de startups da Estônia, inclui, mas não está limitada a empresas como Salv, Pactum, Xolo, Supervaisor, Veriff, Starship Technologies, Skeleton Technologies, Funderbeam, Cleveron e FoodDocs. Quem será o próximo unicórnio?

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