Carro Roubado Uma Vez é Tenso, Duas Já é Palhaçada

Ray Dias
xicarasepalavras
3 min readOct 25, 2020

--

Crônica datada de Abril de 2013, autoria de Ray Dias.

Então a boa nova que me rende esta crônica é a pataquada a qual somos subordinados quando precisamos de um serviço público como a segurança policial. As reportagens da semana noticiaram o furto duplo de um mesmo carro, no mesmo dia e pelo mesmo artista das margens sociais.

De manhã, no bairro da Penha, um senhor de classe média, trabalhador brasileiro assalariado (cá sabemos o respeito que os trabalhadores brasileiros merecem por tamanho o seu heroísmo de sobreviver ao dia-a-dia) abre a porta de sua casa em direção ao seu carrinho. Conforto que, sem sombra de dúvida, deu duro para comprar!

Qual era o destino desse personagem? Preparava-se para mais um fatigante dia de trabalho, mas eis que é abordado por uma dessas pessoas — e que eu ainda insisto em não entender os motivos de certas escolhas — que teve a magnífica ideia de surrupiar o carro do cidadão.

Pera lá! Isso hoje em dia é natural! Nós quem temos que nos proteger e evitar estas situações! Pois, eu bem os digo que não é nada natural. Tornou-se parte da vivência, mas aceitar isso é no mínimo constrangedor. É como se os mesmos larápios de alguns quinze (para ser camarada, porque até menos!) anos atrás, expandissem seus negócios do planalto para as ruas. Como um ―shopping popular a lhes dar lucro.

Sabe como é, né? Gente da alta rouba por baixo dos panos, enquanto a ralé pega os caixotes e faz o escândalo típico. Ah! Esse imenso cortiço em que vivemos todos! No entanto, voltemos aos fatos.

Diante da situação, o trabalhador entrega o bem que adquiriu para o indivíduo assaltante. Tudo bem! Vamos ligar à polícia! Feito isso, arrola-se um boletim de ocorrência. Protocolo antigo e carimbo de certa eficácia em algumas vezes não aparente. Posso lhes contar algo? Estamos falando de uma dessas ―algumas vezes‖.

Com o B.O articulado na delegacia, o que basta é esperar um pouco às notícias. Ora, mas isso não impede que o cidadão de direito suprimido saia para uma ronda particular em busca de pistas. Eis que ele encontra o carro em um bairro próximo: Brás de Pina.

— Liga à polícia!
— Liguei! Agora é só aguardar!

Três horas se passam e… Não! Você não entendeu errado! Três horas se passam e nada da polícia!

O que acontece em seguida?

O mesmo ladrão que lhe roubou o carro à porta de sua casa, agora após fazer-se, sabe lá o que durante três horas, ressurge de repente cumprimentando sua recém-vítima e levando novamente, por bem debaixo do nariz do coitado, aquele carrinho que não era ―zero, mas quebrava-lhe um grande galho todos os dias!

E vendo o carro ser levado, o homem retornou as ligações às autoridades e ao invés de explicações sobre o atraso e ineficiência foi-lhe aconselhado a produção de outro boletim de ocorrência, afinal: era um outro roubo.

Daí vão me dizer: oras, mas acalma aí escritora! Segura essa sua língua… Ou os dedos! Afinal, o ladrão também é um trabalhador! Ou você acha que é fácil roubar um carro, de cara limpa e ainda repetir o ato com a mesma pobre criatura? E você também não pode falar nada do serviço competente da polícia! Sabe-se lá se algum imprevisto aconteceu? Talvez a cafeteira da delegacia tenha quebrado durante aquelas três horas! Os coitados ainda não tinham nem tomado seu cafezinho!

Um pouco de humanidade, por favor, garota!

--

--

Ray Dias
xicarasepalavras

Escritora de obras escondidas, fanfics e crônicas. Libriana, linda, prolixa, gente fina e doida. Tentando ser blogueira, criei e escrevo o Xícaras & Palavras.