“História do Conforto na Cidade de São Paulo”, de Denise Bernuzzi de Sant’Anna.

Ray Dias
xicarasepalavras
3 min readNov 16, 2020

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Uma resenha do artigo de Denise Bernuzzi, por Ray Dias.

Este texto vai de encontro com muito do que será ainda debatido, na disciplina de História da Educação Física, ministrada na UEMG de Ibirité, por abranger não só a interpretação dada ao texto anterior de Maria Stella Bresciani, como também por explicitar a visão de “conforto urbano”.

Ao longo da História onde as cidades foram construídas por uma sociedade em expansão pós Revolução Industrial, o conforto se viu em voga na maioria dos discursos e ainda perdura. Os consumos de bens e de serviços na cidade sempre estiveram traçados ao ideal de “moderno e confortável”. Partindo com as semelhanças que restavam ao que era “antiquado e necessário”. Passa-se a buscar aquilo que lhe é de subsistência do modo mais confortável possível. Desde as locomoções urbanas, à alimentação.

Produziu-se um indivíduo urbano, confortável e que imprimia em seu corpo a citada situação. Corpos jovens, esportivos, fortes e ágeis davam a retórica da urbanidade. E isso dialoga bastante com a história de Belo Horizonte, onde a capital foi construída em prol dos novos “homem e mulher mineiros”, antenados ao modernismo europeu e que através de seu comportamento corporal extinguia com a languidez do ruralismo, a apatia do campo, e a miséria do caipira. Questões pautadas justamente sob a ideia de um novo mundo eurocêntrico, repleto de facilidades e conforto.

O texto de Sant’Anna traduz este mesmo movimento de urbanização moderna em São Paulo, tendo os sujeitos como a fonte das modificações, transformando seus corpos, mas também sua cidade. As tecnologias voltadas para um melhor estilo de vida agregaram a ideia do conforto às cidades, desde a saúde — com a popularização da aspirina, como dito no texto –, até ao consumo dos serviços, como as idas as salões de beleza que rompiam com as demoradas horas de preparo da beleza feminina moderna — menos penteados complexos, menos chapéus pesados, fim do espartilho devido ao advento das práticas corporais saudáveis.

Sant’Anna traz, uma reflexão bacana quando diz que:

“o conforto começou a ser constituído, sobretudo, por um combate persistente contra todo incômodo (…) o conforto se transformaria numa modalidade de bem-estar cujas fronteiras com saúde serão incertas”.

É possível pensar esta consideração como uma consideração ainda pertinente, em ano de 2019. Temos observado este movimento acelerado do corpo na cidade, em busca do que é fácil, confortável, rico, saudável e belo, como se estivéssemos todos com o pé no acelerador num automóvel de 1980, nas ruas de 1980, em plenos anos 2019. Onde tudo o que temos feito é atropelar nossos corpos por ideias “modernas”, capitalistas e “melhores”, sem observar que as modificações da cidade não acompanham a velocidade das modificações dos nossos corpos.

Será mesmo que estamos num processo evolutivo e de desenvolvimento exponencial, ou temos caminhado num horizonte vislumbrando ora o passado, ora o futuro? E engolindo um progresso do qual ainda, nem compreendemos.

[CITAÇÃO] SANT’ANNA, D. Bernuzzi. História do Conforto na Cidade de São Paulo. Revista Anos 90, 2000, v. 8, n. 14. Disponível em https://doi.org/10.22456/1983-201X.6800

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Ray Dias
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Escritora de obras escondidas, fanfics e crônicas. Libriana, linda, prolixa, gente fina e doida. Tentando ser blogueira, criei e escrevo o Xícaras & Palavras.