Uma carta para as lagartas

Bruna Próspero Dani
transdisciplinar
Published in
3 min readAug 30, 2019

Foi plantando minhas próprias sementes que me tornei uma admiradora, aliás, uma entusiasta do “meio do caminho”.

Vi beleza em tudo aquilo que ainda não é nada. (Ou é tudo que já basta?)

Me encantei pelos desencaixes, pelos processos, pelo tempo, pela terra e por tudo que ainda não desabrochou, nem criou asas.

Achei graça nos meios que se justificam, sem saber dos fins.

Achei bonito (bem bonito) o que ainda não é pétala e ainda não voa.

E foi olhando para os meus próprios processos que entendi que o tais “meios do caminho” começam muito antes do plantio. E nunca morrem, se transformam.

Estamos em constantes mutações.

Por isso, este é um texto sobre os processos e não sobre os finais. Já existem muitas histórias falando sobre as borboletas.

Precisamos saber aplaudir as lagartas.

Essa história que vos conto é para falar que viver sua verdade não te da garantias de um final. Mas, quando uma borboleta pousa em você, talvez seja a hora de se transformar.

Ainda que seja um pouco desconfortável.

Algumas decisões devem ser tomadas sem que haja um final pré-estabelecido. (Mesmo porque o futuro é mera ilusão, mas isso, a gente deixa pra conversar outra hora…)

Esse é um relato de quem está no processo, escrito para quem também está no processo. Sem gran finale, sem fórmulas prontas. Mas com a certeza de que pouco a pouco a gente pode traçar um caminho mais bonito, mais leve e verdadeiro.

Transição é sempre um lugar desconhecido, dentro do que te parece familiar. Mas você já é um Mundo Novo. Mais do que isso, um mundo a ser construído.

É como o final do outono. Você não sabe se vai fazer calor ou frio. Ainda encontra folhas espalhadas pelo asfalto, mas já escuta os passarinhos na janela.

É paciência (de esperar que um ponto se transforme em outro), esperança (de que essa nova fase transformada seja melhor) e adaptação.

Pode reparar: transição capilar, transição de carreira, transição de dietas, transição de treinos, relacionamentos, empresas… Todas elas têm algo em comum: paciência, esperança, adaptacão.

Algumas vêm acompanhadas de um bônus de dores, outras de surpresas alegres.

É quando a gente escolhe um caminho a ser percorrido, sem muitas respostas.

E, por isso, é o momento que sentimos o oco dentro de nós. É quando a gente se sente a própria lua no vazio. Quando ela não está nem em um signo, nem em outro. Transitando entre Leão e Virgem. Não é minguante, nem nova.

É vazia.

Os astrólogos dizem que quando a lua está no vazio “costuma ser um período mais confuso para nós”.

Os sábios me disseram que “caixas vazias são mais leves e que são nelas que cabem as maiores surpresas”.

Mas anciões dizem por aí que “saco vazio não para em pé”.

Gosto mais da frase dos meus sábios amigos.

Enfim, entendi que transição é tipo isso aqui que estou chamando de texto: que não é crônica, nem poema, nem conto, nem nada.

Mas ainda assim é alguma coisa. Uma semente, um sentimento, um pensamento, uma elucubração.

Que pode vir a ser alguma coisa a preencher a caixa vazia.

Em um dia de lua cheia.

Com paciência e esperança.

Com amos, lagarta.

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