Inovação passa por Igualdade de Gênero

Bruna G. Bartosiaki
yaradigitallabs
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5 min readNov 5, 2018

São pouquíssimos os registros na história de mulheres que tiveram importância “social” reconhecida por todos. Ainda levamos o nome de nossos pais quando nascemos (à exceção de quando o pai se faz ausente ou se ausenta do compromisso) e de nossos maridos quando casamos.

Les Temps Modernes — 2018

A não tão famosa Simone de Beauvior foi parceira do, sim famoso, filósofo francês Jean-Paul Sartre; e juntos fizeram história lançando a revista Les Temps Modernes (no francês, os tempos modernos), em que criticavam formas de pensamento ultrapassadas e repressoras. O que poucos sabem é que após a morte de Sartre, Simone seguiu o legado da tão prestigiada revista que causava tanto alvoroço, sendo editora chefe até 1986 (ano de sua morte). Muito graças a Simone, Les Temps Modernes vive até hoje, impulsionando pensamentos questionadores e inovadores, como neste ano, em que denunciou a escalada autoritária de Nicolás Maduro, na Venezuela. O título “Venezuela — O País das Fraturas”, diversos estudiosos escrevem sobre o fracasso do regime adotado por Hugo Chávez.

Simone foi uma brilhante escritora e filósofa, e por ser mulher, precisou por muito tempo usar a Les Temps Modernes para impulsionar seu trabalho e explorar suas ideias em pequena escala antes de criar seus primeiros ensaios e livros. Em um dos seus livros, O segundo sexo, escreveu a emblemática frase que me fez refletir por muito tempo: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. A sociedade impõe à mulher ser menos, ganhar menos, ter menos oportunidades, ser obrigada a ser a maior, e muitas vezes única, responsável pelos filhos, pelo lar, sendo excluída da única verdadeira obrigação que ela tem: consigo mesma! Simone com certeza é uma prova disso, que embora tenha sido exemplar na sua luta e com um trabalho consistente, precisou ter o respaldo do companheiro e da revista para conseguir expor seus pensamentos.

É comprovado que vivemos numa era de transformações extremamente rápidas, onde ser produtivo e inovador é a base para o desenvolvimento e evolução das próximas gerações. Segundo o livro de Steven Johnson, De onde vem as boas ideias (você pode assistir um vídeo sobre o livro por esse link aqui: www.youtube.com/watch?v=BtgnozUgc58), não há inovação ou ideias realmente transformadoras e disruptivas se cultivarmos pensamentos iguais baseados em atitudes iguais! Ou seja, não há benefício nenhum para a sociedade se tomarmos decisões baseadas nas concepções de pessoas iguais. Convergir sempre leva ao óbvio! Inovação se dá através de diversidade de pensamento, de repertório e de crenças, ou seja, se dá pela interação entre pessoas diferentes que cocriam soluções sob diversas perspectivas e aspectos. Se considerarmos que metade da população é homem, que metade dessa porção é branca, que dessa nova divisão, 2/3 são autodeclaradas hetero normativas e que, finalmente, desses, 6/7 não possuem algum tipo de deficiência; teremos aproximadamente apenas 15% das pessoas do mundo tomando decisões e expondo suas ideias. Ou seja, excluímos 85% de mentes do planeta. Um desperdício, não acha?

A Google é reconhecidamente uma das empresas mais inovadoras do mundo e tem métodos de gestão empresarial bastante vanguardistas, um deles é listado no seu manual de gestão aberto Re:work, que cita com clareza a importância de diversidade em ambientes inovadores. Um amigão que tenho, Bruno Bohn, Outsourcing Manager na Google, disse certa vez pro nosso time aqui do Digital Labs da Yara: “se a Google tivesse na equipe somente homens brancos criando e tomando as decisões, todas as soluções na Google seriam única e exclusivamente para homens brancos”. Por isso a empresa tenta ao máximo representar a sociedade com todas as suas particularidades dentro da empresa. A Google tem políticas muito claras de contratação e garantia de diversidade em todos os níveis hierárquicos da empresa. O mesmo formato é adotado pelo Facebook, que conta com liderança e sociedade de Sheryl Sandberg ao lado de Marc Zukerberg, uma mulher brilhante que atua como uma das principais influenciadoras e defensoras do tema empoderamento feminino nas corporações no mundo.

Fonte: (UNFPA / 2017)

Segundo o estudo da consultoria Grand Thornton, realizado em 2017, chamado Women in Business, meninas em idade escolar tem em média um desempenho 65% melhor que os meninos. Essa diferença se mantem durante o ensino superior. O chocante é quando nos deparamos com a estatística de que em empresas apenas 30% dos cargos são ocupados por mulheres, dependendo do segmento este número pode chegar a míseros 3%. Mulheres em cargos e liderança estão em torno de 15%. Se nossas meninas são tão ou melhor instruídas que os meninos, por que não chegam ao mercado de trabalho?

Os motivos são muitos, apontam diversos estudos, um deles diz que algumas mulheres acreditam não serem capazes de competir com homens! A prova disto é um outro estudo realizado pelo Linkedin, dizendo que mulheres apenas se candidatam a uma vaga de emprego se preencherem 100% dos requisitos explícitos na descrição da vaga. Enquanto isso, homens no geral se inscrevem para vagas se atendem em média a 70% dos requisitos listados. O mais alarmante é que esta estatística se repete nas contratações. Estes números passam a ser muito menores quando inserimos alguns outros fatores como o fato da vaga em si ser para um cargo de liderança, ou se a mulher ser considerada negra (agora imagina estes dois fatores combinados, não precisa ser bom em matemática).

Fonte: (El País e Instituto Locomotiva / 2016)

Inclusive, o Brasil tinha apenas uma mulher negra em cargo executivo que representava míseros 0,3% dos cargos de liderança. Era Rachel Maia na empresa Pandora Brasil. Ela deixou o cargo no início de 2018 para assumir novos desafios na carreia, uma pena para os números, já que agora a estatística brasileira de mulheres negras em cargos executivos em empresas multinacionais esta zerado, não temos nenhuma mulher negra nessa posição.

Fonte: (BID e Instituto Ethos / 2016)

Acredito que a evolução do mundo e a transição da era industrial para uma próxima, esta ocorrendo agora e o aceleramento disso depende muito de aumentarmos a diversidade dentro de todos os setores. Por sua vez garantir diversidade é intimamente ligado em empoderar mulheres, dar a elas (a nós) voz e poder de decisão e atuação. Fazer com que acreditem em si mesmas, que busquem seus sonhos, que desafiem o sistema e que vençam, tudo isso para que de fato possam ser o que desejam, serem felizes e ajudar a sociedade como um todo a ser mais inovadora e evoluída. Para sorte de todos, o assunto esta bastante aquecido e se cada vez mais pessoas tomarem consciência da importância de se endereçar essa resolução, ou parte dela, conseguiremos de fato avançar.

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Bruna G. Bartosiaki
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Digital Product Owner Leader who loves solving problems and the methodologies to it.