O dia que fiz um pitch para Richard Branson

Maior do que o fato em si foi descobrir que o que me trouxe até aqui não foi teimosia.

Muita coisa não acontece quando você é uma empreendedora. E muita coisa acontece quando você é uma empreendedora.

Algumas inimagináveis — como estar em um auditório no Departamento de Estado dos Estados Unidos, em Washington, em meio a outros 247 empreendedores brilhantes de toda a América Latina e Caribe.

E você fazendo um pitch para todos eles. E para o Richard Branson.

Que é meu ídolo.

Que é quem me fez mudar de caminho e empreender.

Que me ouviu, me viu, me deu uma resposta que eu não conseguia enxergar.

Richard Branson falou comigo.

No Departamento de Estado dos EUA, em Washington.

Em meio a uma plateia de 247 empreendedores brilhantes.

Ylai Cohort 2016. Conheça esse galerão foda aqui

Se tem um feito que merece ser contado, é este. Acontece que tenho uma imensa dificuldade em contar boas notícias sobre mim mesma. Mas isso é definitivamente algo que preciso dizer.

Eu-fiz-um-pitch-para-Richard-Branson. Eu, que nasci em Paraí (sim, ninguém conhece), que prefiro ser invisível, que até agora não acordei disso.

Já que comecei, preciso resumir o que aconteceu neste meio tempo.

Sobre crescer sem o menor dos ímpetos empreendedores. Sobre uma mãe funcionária de um banco público e um pai comerciante que adoeceu por tanto trabalhar (e ser também um empreendedor e ter muitos reveses na vida) que, por acreditarem muito no meu potencial, me empurraram para ser advogada, médica ou dentista. Sobre dar um grande ‘desgosto’ de escolher ser Relações Públicas. É teimosa, diziam. Sobre me convencer de que um cargo público ou uma posição de executiva não tinha nada a ver com meu perfil: me colocar no mercado de trabalho, ter experiências fantásticas, muito aprendizado… e um grande vazio que eu não conseguia entender. O que estava fazendo de errado? Eu não deveria ser brilhante? “Viu, eu disse, mas tu teimou em ser o que quer, agora ta aí. É tinhosa” dizia minha mãe.

Uma coisa eu sempre soube: eu nunca confiei no meu taco. Nunca. Por mais que me superasse, por mais que eu conquistasse coisas: universidade pública, elogios, reconhecimento, vagas de trabalho. Minha baixa autoestima é tão conhecida por quem convive comigo que fica fácil entender como era impossível olhar além quando eu mesma me achava uma farsa. Eu apenas disfarçava bem, certeza. (Isso tem nome, que alívio ler textos como esse).

Era julho de 2013 quando eu li um livro que me deu um golpe no cérebro e um tapa na cara claríssimo. De um dos empreendedores mais brilhantes do planeta: Screw Business as Usual, de Richard Branson.

Alguma coisa mudou aqui

Era empreendendo que eu ia colocar para fora toda minha energia, ideias, todo esse emaranhado de possibilidades e caminhos que queria seguir e que, talvez, poderia. Vou pular a parte de demissão, da importância de chutar esse balde na minha vida, de conseguir um emprego incrível três semanas depois dentro de uma das maiores agências de publicidade do RS onde trabalhava de segunda à quinta (! — um viva ao meu chefe por ter essa coragem que até hoje ninguém entendeu, mas que, pelo tempo que fiquei por lá se provou uma decisão certeira para os dois lados) para ter tempo de me dedicar ao que eu queria: eu seria uma empreendedora. Mesmo que naquela época eu não tinha ideia do quê, como, de que forma. Era o efeito daquela chutada de balde: eu correndo atrás do que queria.

O Amor é Simples surgiu de uma conversa informal em janeiro de 2014, somando talentos com minhas duas sócias incríveis. (eu uso muito essa palavra, mas não consigo me conter porque acho ela tão forte que nada me parece tão à altura). E por muito tempo foi um negócio paralelo, tocado à noite, durante almoços e finais de semanas — até ganhar um pouco de corpo — não o suficiente — mas o suficiente para você começar a guardar dinheiro para mais uma chutada de balde.

Aqui entra muita coisa que não acontece quando você é uma empreendedora que está começando uma coisa grandiosa:

não entra dinheiro o tempo todo, tem contas, fornecedores, aqueles sonhos, aquele ideal que parece nunca, nunca chegar. Não acontecem planos concretos. Não acontece a certeza exata de um futuro promissor. Mais ou menos assim:

Mas você está lá. Você quer e quando percebe, tudo já está diferente.

Eu não quero ser uma empreendedora. Eu SOU uma empreendedora e isso nada implica naqueles cases bonitos de ‘fulano mudou de atitude e hoje é milionário’, ‘fulana se demitiu de um cargo incrível para perseguir seu sonho e hoje tem uma franquia milionária’.

Afastar sua expectativa do milhão é requisito para empreender e não desistir quando as primeiras frustrações chegam. Claro que todo mundo quer, mas o dia a dia esmaga você. E é preciso ter força, coragem e paixão. Mesmo que você ainda não consiga enxergar.

Vocês não têm ideia de como meu coração fica a cada caixa que eu coloco no correio. Não é um objeto corriqueiro ou um emaranhado de tecido que toma o lugar da nudez em um dos dias mais especiais da vida de alguém. Eu visto o sonho de uma noiva e toda a história que essa mulher carrega até aquele dia, aquele momento.

Dá para ter ideia do peso que isso tem? Toda vez que dou tchau para a caixa eu sinto um puta orgulho que vem bem lá do fundo, em forma de uma pontada: cara, que culhão tem que ter para fazer isso.

E aí que entra tudo o que acontece quando você empreende:

em mais de dois anos não há uma reclamação nossa na internet, há matérias das ações incríveis que já fizemos, há declarações de amor, os sonhos realizados, todo o crescimento, aprendizado, desafios que ficam menos descomplicados até os novos chegarem. O quanto quebrar a cara fica mais fácil dia após dia. Todo o potencial. Todo o futuro cru em meio a uma balança que hoje equilibra tantas possibilidades quanto incertezas.

Tem essa loucura chamada YLAI, que corta meu caminho e põe um parênteses nesses dias tão duros. (Para quem quer saber mais sobre o programa, escrevi aqui um minidiário).

Tem eu, que perdi a respiração quando descobri que conheceríamos o Branson. Que quase não dormi na noite anterior, embora tentasse dormir cedo para estar no meu melhor ‘eu’ para não perder uma vírgula daquela presença, daquele momento. Eu que até agora não processei o que aconteceu. Que não ouvi nada do que ele disse porque me postei ao lado do microfone e pensei: fala.

APENAS FALA

Qualquer coisa, mas fala. Tu chegou até aqui. Até este lugar, olha pra tudo o que aconteceu. E tu tá aqui. Em Washington. Após 5 semanas de um intercâmbio de dias inenarráveis. Me pagaram pra isso, pra estar aqui, por seu eu — pelo que posso compreender e disseminar.

Eu quase desisti. Pensei: que é isso, tu não consegue, não é forte, não tem como. Vai quebrar, gaguejar, não vai dar, não vai conseguir, tu é uma farsa, eles vão ver. Corre enquanto dá.

Minha cara enquanto quase desiste. Um obrigada do fundo do peito para os brasileiros e meu grupo de Detroit, onde morei, que sabendo o quanto aquilo significava pra mim, montaram uma torcida via Whatsapp que fez barulho naquela sala — me fez fazer barulho.

Aí, perguntei

E — Richard Branson — respondeu, na lata:

“Eu ouvi você falar por 10 segundos e sua paixão, definitivamente, esta aí.”

Aí o resto pareceu pequeno. (Tá no vídeo abaixo, que até agora nem sei se ouvi tudo direito. Mas eu falei d’O Amor é Simples para ele, para 247 empreendedores brilhantes de toda AL e Caribe, para o mundo. Embora eu sei que não aprendi nada e perca a coragem de me assistir porque me acho terrível.)

Mas isso.

Meu ídolo, um dos empreendedores mais fodas do planeta, um cara inspirador de tantas, tantas formas. Eu precisei chegar até lá, por tudo isso. Pra ESTE CARA ver de não sei que forma que tudo isso é paixão.

E eu que tanto duvido de mim como empreendedora. Pra mim era teimosia de ir até o fim. Era teimosia, loucura, idealismo… ou burrice mesmo por passar tanto tempo sem ganhar o dinheiro que outros acham suficiente ou merecedor. Eu nem desconfiava.

Que louco de ter 29 anos, uma start up que quer inovar uma indústria tão tradicional como a do casamento, muita coisa pra consolidar, ter feito um pitch assim pro Richard Branson.

Paixão é esta coragem de se jogar, só pode.

Vai ver é isso que acontece quando você é uma empreendedora.

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