Conheça o Caminho Óctuplo de Patanjali

Marcela Escudeiro
Yoga Sutras de Patanjali
6 min readMar 29, 2020
Fonte: https://bit.ly/3bLrq6f

O Caminho Óctuplo de Patanjali é como um guia para construirmos uma vida com significado e propósito. Os ensinamentos nos oferecem orientação sobre como edificar uma vida ética e auto-disciplinada para que alcancemos a Iluminação.

Através das escrituras (Sutras), Patanjali nos apresenta o Caminho Óctuplo, também conhecido por Ashtanga, que literalmente significa “oito caminhos” (ashta=oito, anga=caminho). Esses oito caminhos servem basicamente como guias para que possamos viver de forma significativa. Eles nos orientam no sentido da moral e da ética, além de consolidar a auto-disciplina como virtude. Os sutras não só atentam para saúde integral do corpo e da mente como também nos conecta com a nossa verdadeira essência, nosso espírito imortal.

Fonte: https://bit.ly/2JAoYn3

1. Yamas

O primeiro ramo deste caminho óctuplo, Yama, trata das bases éticas e do código moral que rege um Yogi. Ele está fundamentalmente ligado ao mundo, e a maneira como nos relacionamos com ele. Seu foco é o nosso comportamento cotidiano e em como conduzimos nossas vidas. Os Yamas são, basicamente, prática universais que se relacionam em profundidade com a regra de ouro “não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você”.

Os Yamas nos ensinam a importância de sermos generosos e bondosos com tudo a nossa volta. Dessa maneira não restringimos a prática do Yoga apenas ao nosso tapetinho, como levamos ela conosco, impactando tudo que nos rodeia.

Os cinco Yamas são:

  • Ahimsa: Não violência
  • Satya: Verdade
  • Asteya: Não roubar
  • Brahmacharya: Continência, ou uso “correto” da energia
  • Aparigraha: Desapego

2. Niyamas

Niyamas, o segundo ramo do caminho óctuplo, diz respeito a auto-disciplina e auto-observação. Eles basicamente tratam de como lidamos com nós mesmos. Em Sanscrito o prefixo “Ni” significa “para dentro”.

Niyamas devem ser praticados por todos aqueles que desejam embarcar nessa longa jornada que é o caminho do Yoga. Os Niyamas estão profundamente relacionados aos Koshas, ou seja, as camadas que nos levam do nosso corpo físico a nossa essência. Como podemos notar, quando praticamos os Niyamas, estamos guiando nós mesmos desde os nossos aspectos mais grosseiros (Saucha) até as nossas qualidades mais sutis (Isvararpranidhana).

Os cinco Niyamas são:

  • Saucha: Limpeza
  • Santosha: Contentamento
  • Tapas: Disciplina
  • Svadhyaya: Estudo das escrituras sagradas e de nós mesmos.
  • Isvara pranidhana: Devoção

3. Asanas

Os Asanas, ou posturas praticadas no Yoga, constituem o terceiro ramo do Caminho Óctuplo. Na visão Yogi, nosso corpo é o templo habita o nosso espírito. Portanto, o cuidado dedicado ao corpo é fundamental para que o espírito possa se desenvolver de forma saudável. Através da prática dos Asanas, desenvolvemos o hábito da disciplina e o poder da concentração, qualidades essas que são de extrema importância para meditação.

Todavia, contrapondo o senso comum, a prática dos Asanas não tem como meta a realização de posturas mirabolantes. A palavra Asana é traduzida como “sentar”, referindo-se especificamente a uma postura sentada na qual você possa meditar.

Patanjali nos ensina que um Asana deve, em primeiro lugar, ser uma postura firme e confortável. A ideia central na pratica dos Asanas é manter o nosso corpo saudável e forte para que não sejamos distraídos por dores ou cansaço durante a meditação.

4. Pranayama

O quarto ramo do Caminho Óctuplo, os Pranayamas, consistem em técnicas respiratórias desenvolvidas especialmente para que possamos, através da respiração, controlar nossa mente e emoções. Cada prática específica tem o poder de alterar nosso estado mental. Entretanto é nossa missão decidir se estamos controlando o modo como nos sentimos ou se, através da prática, estamos nos libertando de padrões mentais que costumávamos reproduzir.

A palavra Prana se refere tanto a “energia” quanto a “fonte de vida”, podendo ser usada para descrever aquilo que nos mantém vivos, como para se referir a energia que nos cerca. Os Pranayamas podem ser encarados de duas maneiras opostas, sendo elas: “Prana-Yama” que significa “controle da respiração” ou “Prana-Ayama”, traduzido como “expansão da respiração” ou “libertação da respiração”.

Esses quatro primeiros ramos do Caminho Óctuplo de Patanjali se concentram no refinamento da nossa personalidade, nos empoderando de nossos corpos, e desenvolvendo uma atenção plena e assertiva sobre nós mesmos. Toda essa base nos prepara para a “segunda” parte dessa jornada, que trata dos nossos sentidos, da nossa mente e da realização de um estado mais elevado de consciência.

Fonte: Pinterest

5. Pratyahara

Pratyahara, o quinto ramo do Caminho Óctuplo, trata de como podemos nos desapegar do mundo externo através da abstenção dos nossos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar). “Pratya” significa retirar, ou abster, e “Ahara” se refere a tudo que nós internalizamos após experienciar o mundo externo.

A sentença “abstenção dos sentidos” pode conjurar a ideia de que seria possível simplesmente desativar nossos sentidos através da concentração. Por esse motivo essa prática é muitas vezes mal interpretada. Invés de perdermos a capacidade de ver, ouvir ou sentir, Pratyahara muda nosso estado mental de forma que toda distração externa não nos incomoda mais, e podemos então meditar.

6. Dharana

Assim como cada um dos ramos do Caminho Óctuplo preparam as estruturas para o desenvolvimento do próximo, Pratyahara cria as bases para consolidação de Dharana, a concentração. Uma vez que nos libertamos das distrações exteriores, podemos então lidar com as distrações da nossa mente. Durante a prática de Dharana, concentração, aprendemos a diminuir o fluxo de pensamentos a partir do foco em um único objeto.

Durante a prática dos Asanas e dos Pranayamas, apesar de estarmos atentos as nossas ações, essa atenção é flutuante. Nosso foco se mantém em transito em quanto vivenciamos todos os estímulos particulares a cada Asana ou Pranayama. Ao praticar Pratyahara nós nos tornamos observadores de nós mesmos. E, finalmente, ao exercitar Dharana, podemos então trazer todo nosso foco e atenção para um único ponto.

7. Dhyana

Dhyana, ou meditação, é o sétimo ramo do Caminho Óctuplo, e se refere a um estado de concentração ininterrupta. Apesar da concentração (Dharana) e a meditação (Dhyana) parecerem a mesma coisa, existe uma linha tênue que as distingue. Em quanto Dharana é a prática do foco em um único ponto, Dhyana é um estado de atenção plena sem foco.

Normalmente, tudo aquilo que aprendemos sobre meditação, são na verdade técnicas para aquietar a mente e nos manter focados. A prática da meditação não é algo que possamos ativamente fazer, mas sim algo que espontaneamente acontece como resultado da prática da concentração.

8. Samadhi

Muitos de nós conhecemos Samadhi por “Iluminação” ou “Nirvana”, sendo ele o último ramo do Caminho Óctuplo. Nesse estágio o praticante alcança a verdadeira união entre corpo, mente e espírito. O Yogi se conecta profundamente ao Divino, a todo cosmos, e a toda vida. Através do Samadhi, o Yogi pode experienciar a “paz que ultrapassa todo e qualquer entendimento”, a pura experiencia de ser um só com todo o universo.

Não obstante, se voltarmos a etimologia da palavra, notamos que “Sama” significa igual, e “Dhi” significa ver. A raiz da palavra nos traz então uma pista do porque Samadhi é também entendido como “Realização”. Samadhi não é um escape, ou um estado eterno de profunda alegria e regojizo, mas sim a realização em ver e tornar-se igual a tudo aquilo que nos rodeia.

Fontes:

Livro: Os Sutras do Yoga de Patanjali por Sri Swami Satchidananda

https://bit.ly/2QUWpo8

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