Aminé — Limbo

Aminé se mostra existencialista e maduro em seu trabalho mais sensível até então

Valtair Júnior
You! Me! Dancing!
3 min readAug 17, 2020

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Limbo

Aminé

Lançamento: 07/Ago/2020
Ouça: “Burden”, “Roots”, “Compensating” e “Fetus”
Nota: 7.5
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Acho que todos nós, em um certo (ou vários) momento(s) na vida, passamos por alguma situação que nos fez repensar em muita coisa sobre o futuro, principalmente quanto à vida adulta. Com Aminé não foi diferente. A morte precoce e repentina de Kobe Bryant, um dos maiores jogadores de basquete na história dos EUA e sua filha, Gianna, no início desse ano mudou a vida do rapper totalmente. Diferente dos trabalhos anteriores, Good For You (2017) e ONEPOINTFIVE (2018), mais alegres e despretensiosos, Limbo (2020), segundo álbum de inéditas do rapper de Portland, segue outro caminho, com Aminé abrindo os olhos e enxergando suas vulnerabilidades e se questionando sobre como a vida é feita de altos e baixos.

A morte assombra o artista nas primeiras faixas. ‘Me enterre antes que eu seja um fardo’, ele canta no refrão de “Burden”, faixa de abertura. Em “Woodlawn” ele mostra sua admiração por Byant, e como ele e vários outros e outras jovens negros se inspiraram no jogador em alcançar uma vida melhor; ‘Descanse em paz, Kobe/Você foi como um pai para os caras’, ele relata na canção. O existencialismo se estende por todo o disco. Em “Roots”, como ele vê seu passado em Portland e como isso o moldou para o seu futuro; em “Mama”, que mostra gratidão à sua mãe por seu apoio; em “Fetus”, Aminé pensa sobre possibilidade da paternidade e tudo o que ela representa. São momentos de reflexão, como se cada faixa fosse uma página de um diário e ele despejasse suas inseguranças e medos em cada palavra. A produção é pesada, arrastada em alguns momentos, com um flow mais lento e espaçado, fugindo das construções mais genéricas dos discos passados. Alguns momentos divertidos ainda são vistos nesse álbum, como “Pressure In My Palms” e suas referências à memes e situações engraçadas com famosos, “Compensating” e “Riri”, mostrando que também é importante não se levar tão a sério de vez em quando.

O álbum funciona com um divisor de águas na carreira e na vida de Aminé. É a sua passagem para a vida adulta, uma situação parecida com a de Tyler, the Creator em Flower Boy (2017). Ele pesa mais a responsabilidade e o legado do que a juventude e o materialismo que a riqueza e o sucesso oferecem. A maturidade é um caminho a percorrer, e o artista se mostra aberto a buscá-la e evoluir enquanto pessoa. Esperamos que essa evolução continue a se expandir para a música.

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