Aminé — Limbo
Aminé se mostra existencialista e maduro em seu trabalho mais sensível até então
Acho que todos nós, em um certo (ou vários) momento(s) na vida, passamos por alguma situação que nos fez repensar em muita coisa sobre o futuro, principalmente quanto à vida adulta. Com Aminé não foi diferente. A morte precoce e repentina de Kobe Bryant, um dos maiores jogadores de basquete na história dos EUA e sua filha, Gianna, no início desse ano mudou a vida do rapper totalmente. Diferente dos trabalhos anteriores, Good For You (2017) e ONEPOINTFIVE (2018), mais alegres e despretensiosos, Limbo (2020), segundo álbum de inéditas do rapper de Portland, segue outro caminho, com Aminé abrindo os olhos e enxergando suas vulnerabilidades e se questionando sobre como a vida é feita de altos e baixos.
A morte assombra o artista nas primeiras faixas. ‘Me enterre antes que eu seja um fardo’, ele canta no refrão de “Burden”, faixa de abertura. Em “Woodlawn” ele mostra sua admiração por Byant, e como ele e vários outros e outras jovens negros se inspiraram no jogador em alcançar uma vida melhor; ‘Descanse em paz, Kobe/Você foi como um pai para os caras’, ele relata na canção. O existencialismo se estende por todo o disco. Em “Roots”, como ele vê seu passado em Portland e como isso o moldou para o seu futuro; em “Mama”, que mostra gratidão à sua mãe por seu apoio; em “Fetus”, Aminé pensa sobre possibilidade da paternidade e tudo o que ela representa. São momentos de reflexão, como se cada faixa fosse uma página de um diário e ele despejasse suas inseguranças e medos em cada palavra. A produção é pesada, arrastada em alguns momentos, com um flow mais lento e espaçado, fugindo das construções mais genéricas dos discos passados. Alguns momentos divertidos ainda são vistos nesse álbum, como “Pressure In My Palms” e suas referências à memes e situações engraçadas com famosos, “Compensating” e “Riri”, mostrando que também é importante não se levar tão a sério de vez em quando.
O álbum funciona com um divisor de águas na carreira e na vida de Aminé. É a sua passagem para a vida adulta, uma situação parecida com a de Tyler, the Creator em Flower Boy (2017). Ele pesa mais a responsabilidade e o legado do que a juventude e o materialismo que a riqueza e o sucesso oferecem. A maturidade é um caminho a percorrer, e o artista se mostra aberto a buscá-la e evoluir enquanto pessoa. Esperamos que essa evolução continue a se expandir para a música.