Andrew Bird — HARK!

Músico norte-americano traz a melancolia necessária para o fim de ano em álbum folk-natalino-pandêmico

Leandro Bernardo
You! Me! Dancing!
3 min readNov 12, 2020

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HARK!

Andrew Bird

Lançamento: 30/Out/2020
Ouça: “Alabaster”, “Christmas In April”, “Christmas Is Coming” e “Auld Lang Syne”
Nota: 8.5
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Quando a gente vê um artista internacional produzindo um disco temático natalino, a gente pensa em um primeiro momento naquela coisa meio “All I Want For Christmas Is You”, da Mariah Carey, que talvez seja uma das faixas mais simbólicas de como esse trabalho é extremamente datado (não à toa o Google Trends sempre mostra um pico anual dessa música nessa época) e, mesmo que pessoalmente eu adore, é meio “brega”. A chegada do inverno no norte do mundo soma-se às festividades de forma intensa, e muitas vezes os artistas apelam para um estilo mais tradicional da época — meio excessivamente alegre e esperançoso -, e acabam fugindo um pouco de seus trabalhos anteriores, como algo separado do restante produzido.

Por mais que o álbum HARK!, de Andrew Bird, possua um grande número de versões de faixas clássicas do período, incluindo músicas tradicionais da época (como o poema “Auld Lang Syne”, que é cantado em festividades de ano novo), o disco mantém-se muito consistente dentro da própria discografia de Bird, não fugindo de sua sonoridade folk obscura e melancólica (e muitos assobios, sua marca registrada) presente em My Finest Work Yet (2019), sendo a temática natalina quase que apenas um precedente para a escolha das músicas do disco.

O álbum é a continuação do EP lançado pelo músico em 2019 com mesmo nome, logo após My Finest Work Yet. O disco contém versões de músicas temáticas natalinas, como “Andalucia” (de John Cale), “Souvenirs” (de John Prine), “Greenwine” (versão renomeada de “So Much Wine”, da The Handsome Family), ou ainda as instrumentais versões de “Christmas Is Coming” e “Skating”, da trilha sonora do especial de natal dos Peanuts, composta pela Vince Guaraldi Trio.

Entre as versões, Bird insere suas faixas autorais, como a melancólica “Christmas In April”, escrita durante a quarentena, ou ainda “Alabaster”, cuja sonoridade é quase uma mistura de Natal com Halloween, ao melhor estilo do filme The Nightmare Before Christmas. Todas essas faixas mostram que toda a trajetória do artista mantém-se muito sólida, seja no natal, seja em qualquer outro momento. Claramente as faixas autorais ganham destaque em relação às versões, não só pela pequena presença no disco, mas pela maior liberdade do artista. No entanto, alguém que não saiba ou pesquise a origem das faixas vai ouvir o álbum sem conseguir distinguir claramente o que é autoral e o que é uma versão, mostrando novamente a versatilidade do artista em trazer seu estilo para o que já é bem consolidado.

O que mais é apreciável de HARK! — e isso o torna especial em relação a outras produções de temática natalina — é a junção de sentimentos consideravelmente opostos, mas que se agregam de forma formidável: a felicidade e as boas energias do espírito natalino se juntam à melancolia e ao estilo mais obscuro próprios de Bird e em alta na atual conjuntura do mundo, gerando um álbum natalino perfeito para esse ano de pandemia. A esperança presente no natal soma-se à tristeza de um ano difícil, sem se ofuscarem um ao outro.

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Leandro Bernardo
You! Me! Dancing!

Jornalista, Designer, e o que for necessário. Adoro falar de música, game design, política, e o que estiver em alta no momento.