Arlo Parks — Collapsed In Sunbeams

Com ar poético e reflexivo, disco de estreia de Arlo Parks convida para um mergulho interior

Jennifer Baptista
You! Me! Dancing!
3 min readFeb 11, 2021

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Collapsed In Sunbeams

Arlo Parks

Ouça: “Hurt”, “Hope” e “For Violet”.
Nota: 9.0
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A primeira vez que eu ouvi Arlo Parks eu estava voltando para casa de ônibus, passado o crepúsculo, por uma estrada meio deserta. Pode não ter sido a primeira vez que eu parei para escutar Arlo Parks, mas não há qualquer dúvida de que foi um belo de um primeiro contato com a artista britânica. Meio poético, cena de filme, sabe? Ainda mais depois de um dia horroroso.

Porém, por mais que não faça mal ouvir Arlo Parks, penso que esta é uma artista para se escutar. Para realmente parar tudo e dedicar uns bons minutos prestando atenção em suas nuances.

Mesmo no meu primeiro contato, ao ouvi-la declamar o poema “Collapsed In Sunbeams”, que dá nome e também abre o álbum, já deu para entender o porquê do nome Arlo Parks estar na boca do povo nos últimos tempos.

Não faz muito tempo que eu assisti a série High Fidelity estrelada pela Zoë Kravitz. Eu já amava o filme (de 2000) e falhei em não ter lido o livro ainda, mas o ponto aqui é que revisitar a personagem Rob (que na nova versão é uma mulher, interpretada pela Zoë) fez com que eu me reconectasse de alguma forma com a Jennifer de muitos anos atrás, doida por música e por conhecer artistas novos, e prontíssima para se apaixonar por aquele som novo. E Arlo Parks estava no lugar certo, na hora certa.

Então, quando ela canta ‘wouldn’t it be lovely to feel something for once?’ em “Hurt”, tocou em mim de um jeito diferente. Foi um convite para baixar qualquer defesa e sentir todas as coisas possíveis em 39 minutos de música. Afinal, sentir é importante. E mesmo que não seja um sentimento feliz, é passageiro. Não vai doer para sempre.

Eu gosto muito da maneira que Arlo Parks canta sobre a dor, ou sobre sentir em geral. Com facilidade, ela transita por uma miscelânea de sentimentos. Quer esteja cantando sobre as sensações que ainda está descobrindo sobre si, sobre depressão (‘it’s so cruel/what your mind can do for no reason’, em “Black Dog”), sobre uma paixão não correspondida ou um relacionamento rápido que não aguentou a pressão social para existir.

Arlo Parks pode ter chegado há não muito tempo nos holofotes, mas seu talento para poesia e composição deixa bem claro que ela já domina a arte de tecer sentimentos e torná-los palpáveis. Ou, como canta em “Portra 400”, que encerra o álbum: ‘making rainbows out of something painful’.

Mais do que refrões-chiclete, ritmos que me lembram artistas que eu sequer ouvi e uma vibe segura e confortável, Arlo Parks me faz sentir coisas boas. Mesmo quando me faz refletir sobre dores que são muito particulares. E isso tudo me encantou de maneiras que eu nem seria capaz de colocar em palavras.

Se tu quiser apenas ouvir Arlo Parks e seu brilhante disco Collapsed In Sunbeams, vá em frente e divirta-se com as melodias, as batidas pop e a voz sedosa da cantautora. Agora, se tu tiver interesse em realmente escutar as diversas camadas deste álbum e se apaixonar pelo que Anaïs tem a oferecer, eu garanto que não vai se arrepender.

Agora, vocês me deem licença, que eu preciso ouvir mais um pouco de Arlo Parks.

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