as apostas #004

Continuamos nossa saga de indicações e apostas com três inventivos artistas de língua portuguesa

Angelo Fadini
You! Me! Dancing!
4 min readMay 27, 2020

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Dessa vez nossa equipe decidiu indicar três projetos de artistas de língua portuguesa, tão diversos e tão ricos quanto as culturas de Brasil e Portugal. Começamos com a sensibilidade de A Transe, projeto dos capixabas Francesca Pera e Fernando Zorzal, seguimos com a energia dos portugueses do Galgo e fechamos com as meninas de São Paulo do Crime Caqui. Vem com a gente!

A Transe

[texto escrito por Angelo Fadini]

A Transe é um duo capixaba que está desbravando a cena local e fazendo um trabalho lindo e sensível. Francesca Pera e Fernando Zorzal fazem música e letra que, em um primeiro momento, podem soar escapistas, leves demais, mas sob essa primeira camada encontramos boa conexão com o momento atual. Abre parênteses: eles não são os únicos, o Espírito Santo tem uma cena atual bastante rica. Descubra a música do estado e aguarde novas indicações por aqui! Fecha parênteses.

A sonoridade criada pelo duo, que mescla vocais masculino e feminino, tem um quê de Mutantes, Secos e Molhados e Novos Baianos, bebendo muito na fonte da nossa música setentista. Junto com essa brasilidade retrô, convivem detalhes nos arranjos e produção que tornam contemporâneas cada uma das faixas lançadas. Existem beats e teclados que são os principais responsáveis pela ponte entre o antigo e o novo.

A Transe lançou o disco Hora Dourada, disponível no Spotify, na reta final do ano passado. Esse lançamento é uma amostra do talento desses dois e dos convidados especiais que enriquecem ainda mais o trabalho, além de ser excelente cartão de visitas para quem quer acompanhar uma fatia da excelente música criada por capixabas.

Galgo

[texto escrito por Guilherme Leonel]

Parte Chão é o trabalho mais recente do grupo de math rock de Lisboa, lançado dois anos depois de Quebra Nuvens. O novo trabalho encontra o grupo se aprofundando nas sonoridades que havia explorado no último trabalho e incluindo mais influências da música eletrônica nas composições polirrítmicas. Parte Chão é um trabalho interessante onde math, post rock e eletrônica se encontram numa encruzilhada, espalhando paisagens sonorosas, angulosas e envolventes que lembram a direção tomada pelo Minus the Bear em seus últimos discos, em particular Voids, disco de despedida. Caso a audição agrade ou desperte a curiosidade, um mergulho nos registros mais antigos da banda é mais que recomendado. Num período em que todo artista que tem um rótulo de rock (né, Car Seat Headrest?) quer meter o pé no eletrônico, é interessante ver como as músicas ásperas do math vão atacar o tema

Apesar de não tão consistente quanto Quebra Nuvens, Parte Chão apresenta um novo impulso criativo do grupo lusitano em procurar novas possibilidades para o estilo de som da banda, com destaque para “Grande Roubo” e “Panca Espalha”. Mas o disco todo é uma boa experiência, nem que seja só pra dançar num(ns) ritmo(s) diferente(s).

Crime Caqui

[texto escrito por Jenny Justino]

Crime Caqui é uma das bandas que precisam ser ouvidas, apreciadas e compartilhadas. Assim, não é por acaso que está aqui como uma das apostas do que é bem produzido nacionalmente, né? Atualmente, a banda é formada pelas queridíssimas May Manão, Fernanda Fontolan, Yolanda Oliva e Larissa Lobo, e faz parte da fecunda cena paulista/paulistana, já que geograficamente falando, parte das integrantes dividem-se entre São Paulo (capital) e o interior, em Sorocaba. Em linhas gerais, Crime Caqui surgiu por volta de 2012 e já faziam belíssimos shows executando perfeitamente uma das referências da banda: Warpaint. No entanto, Crime Caqui não é somente a banda que tocava/toca magnificamente Warpaint, mas, sim, uma banda autoral extremamente sedutora, interessante e necessária com quatro mulheres maravilhosas que nos mostram através da música a força que elas possuem e nos presenteiam com seus ótimos e potentes registros sonoros, nos deixando com vontade de apreciar e esperar por mais camadas, melodias e versos vindo desse quarteto potente. E realmente estamos aguardando por mais novidades da banda.

Logo, Crime Caqui pode ser encaixada no indie/dreampop/post-rock, mas sem sombra de dúvida, as “caixinhas” sonoras são incapazes de medir a capacidade inventiva do nosso já querido quarteto. Com vocais e instrumentais muito bem elaborados e executados, essas quatro mulheres criam uma atmosfera etérea e hipnótica, mas também sensível e confessional ao olharmos para o conjunto vozes/composições/instrumentos. Vale ressaltar os vocais cantados em português e o jeito tão delas de fazer o seu próprio dreampop com tantas referências interessantes, camadas/ambiências. Crime Caqui é a bateria da Fernanda, o baixo e voz da Yolanda, a guitarra/voz da May e a guitarra da Larissa, somadas com as referências de cada uma, a força de cada uma, a introversão/extroversão de cada uma, a confissão de cada uma, a expressão de cada uma, tudo isso sendo convertido em camadas, melodias harmoniosas e na importância de existir uma banda com quatro mulheres na chamada “cena”.

Por fim, Crime Caqui é uma grande aposta e possui na sua bagagem o single “Somos Demais”, lançado em 2019, e, recentemente, lançaram “Somos Demais II” — uma versão reformulada do primeiro single da banda — e ambas valem o play, viu? Mas, não para por aí, a banda prepara seu álbum de estreia, mas como estamos vivendo em um contexto de pandemia, teremos que aguardar só mais um pouquinho esse aguardado lançamento. Além disso, a banda possui singles ainda não lançados, né? E tomara que lancem mais dessas faixas! Além disso, também tem videoclipe de “Somos Demais II”, tudo isso aguardando novos ouvidos e olhos atentos! Agora, corre lá pesquisar mais sobre elas e dar play em “Somos Demais” e “Somos Demais II”! Esse texto é só uma síntese para instigar vocês a mergulhar nas camadas e sensibilidade da Crime Caqui. Esse é um crime que podemos cometer!

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Angelo Fadini
You! Me! Dancing!

Nascido nos anos 80. Criança nos anos 90. Adolescente nos anos 00. Adulto nos anos 10. Sobrevivendo nos anos 20.