Beach Bunny — Honeymoon

O primeiro álbum de estúdio do quarteto americano de indie pop chega com a potência criativa de um coração partido

Luana Nova
You! Me! Dancing!
3 min readFeb 26, 2020

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Honeymoon

Beach Bunny

Lançamento: 14/Fev/2020
Ouça:
“April”, “Promises” e “Dream Boy”
Nota:
7.5
Stream

Dizem que amores frustrados te fazem escrever melhor. Ao ouvir as novas composições de Lili Trifilio, a front girl da americana Beach Bunny, isso parece bem verdade. Honeymoon, o debut da banda de indie pop — que até então havia lançado apenas singles e um EP — , tomou forma após nove meses de gestação, e estreou no último dia 14 com a potência criativa de um coração partido e assombrado pelo passado.

Em nove músicas de curta duração, o álbum retrata diversas facetas dos relacionamentos contemporâneos, desde a geração de expectativas à inseguranças e incertezas. Um prato cheio de sentimentos nebulosos, mas recheado com boas colheradas de açúcar, representadas pelas melodias cativantes e por uma certa inocência, revelada em trechos como ‘When he calls me pretty, I feel like somebody’, na faixa “Cloud 9”.

Esse combo de letras sentimentais e melodias doces, somado ao vocal claro e harmonioso de Lili, coloca a banda de imediato no patamar do por vezes injustiçado twee (da pronúncia infantilizada de “sweet”) pop — gênero que tem influência do shoegaze pelo uso de guitarras melódicas e sintetizadores. No fim das contas, o próprio nome da banda já evoca coisas fofas e solares. O que só é reforçado pela arte de capa em tons pastel.

Apesar disso, o disco se revela ser mais um híbrido. Em “April”, por exemplo, sente-se com mais definição as linhas turvas que transitam entre o indie, o punk e o power-pop. É possível sentir aquela força que de repente cresce, incendiária, mas que não deixa de ser orientada pelo pop. Se fosse do senso comum a definição de “pop de garagem”, certamente Beach Bunny se encaixaria nela. Afinal, a própria vocalista começou a criar tudo no seu quarto no maior estilo DIY, filosofia do punk.

Além da melodia, o teor solar também pode ser interpretado metaforicamente, no sentido de que a compositora é capaz de deixar as profundezas, de enxergar mais claramente aquilo que se quer (ou o que não quer), como mostra a faixa “Colorblind”: ‘I’ll change the channel, I’ve seen this show before’. O que soa como uma inconstante ante discursos menos conscientes. Assim como bem é o amor.

Nebuloso e ensolarado. Agridoce. Enérgico como a toxicidade do açúcar. Honeymoon tem seus picos de adrenalina, de abstinência, de vontade. Dizem que os socos no estômago te deixam mais preparado, e que a digestão fica mais fácil com o tempo. Beach Bunny parece preparado para o que vem pela frente.

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