Car Seat Headrest — Making A Door Less Open

Em novo disco, banda de indie rock abraça sonoridade mais eletrônica e experimental, com qual já flertou antes

Matheus Moreno
You! Me! Dancing!
3 min readMay 11, 2020

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Making A Door Less Open

Car Seat Headrest

Lançamento: 01/Mai/2020
Ouça: “Weightlifters”, “Deadlines (Hostile)” e “Hymn (Remix)”
Nota: 8.5
Stream

Diferentemente do que muitos disseram após ouvirem os singles, Making A Door Less Open não marca o início de uma nova sonoridade para o Car Seat Headrest; apenas traz de volta uma que estava reprimida há tempos. Claro, foi uma mudança drástica no estilo se comparado aos últimos três álbuns de estúdio da banda, mas não podemos ignorar dois fatos: metade dos membros do quarteto (Will Toledo e Andrew Katz) já estão há dois anos dedicando-se ao projeto paralelo 1 Trait Danger, que pode ser classificado como “EDM cômico”; além disso, muitas músicas dos primórdios da banda — quando seus membros eram apenas Will e seu laptop — são ricas em sintetizadores e distorções. Por isso, as ideias presentes no disco soam menos como novidades e mais como ecos do trajeto de Toledo até ali, uma característica muito comum em seus trabalhos.

Dentre estes ecos, vemos a pegada indie rock clássica em músicas como “Deadlines (Hostile)” e “Martin”, mesmo que de forma menos orgânica. Já “Life Worth Missing” e “There Must Be More Than Blood” remetem mais à era How To Leave Town, último álbum da banda antes do contrato com a Matador Records; não é à toa que foram duas das músicas mais bem recebidas pelos fãs. Do outro lado do espectro, temos faixas como “Hymn (Remix)” e “Famous”, sons eletrônicos mais experimentais e caóticos que me lembraram em muito algumas das produções mais obscuras no repertório do Car Seat Headrest, como “rum punch is unbelievably delicious”. E, junto a essa colagem de reverberações, destaca-se também uma maior união entre a banda; Katz e Ethan Ives, por exemplo, têm seus próprios grandes momentos no registro.

Um dos principais objetivos do Will com esse disco foi fazer algo menos conceitual e dar mais individualidade a cada música. Neste quesito, o álbum claramente triunfa: desde a abertura energética de “Weightlifters” até o final cacofônico de “Famous”, cada faixa te golpeia com algo diferente. O que me surpreendeu foi que mesmo assim o álbum apresenta considerável consistência, com um fluxo bem definido, principalmente depois de ouvi-lo múltiplas vezes. Infelizmente, a duração de 47 minutos me pareceu pequena para um disco tão ambicioso, com as três últimas músicas compondo sua ótima e prematura conclusão.

É impossível falar do novo álbum sem discutir seu maior “paradoxo”. Durante a primeira metade do Car Seat Headrest, a banda foi um projeto único de Toledo, com uma estética DIY e lo-fi onde tudo era possível: a baixa fidelidade ajudava a maximizar ideias simples e qualquer som gravado corroborava a temática de músicas íntimas e imperfeitas. Esta premissa é difícil de ser reproduzida na escala de grandes gravadoras e estúdios chiques. Making A Door Less Open tenta solucionar essa dicotomia e o resultado não é impecável: algumas escolhas inevitavelmente cambaleiam entre “autênticas” e “descuidadas”, não alcançando seus verdadeiros potenciais. Ao meu ver, para compensar isso, o disco poderia ter sido mais robusto e ainda mais experimental e complexo.

Independentemente de seu lirismo, produção ou recepção pelo público, Making A Door Less Open já é um álbum muito importante. Ele é a prova de que a fama e as expectativas dos outros não corromperam a criatividade e a curiosidade de um dos maiores músicos contemporâneos; que uma grande gravadora não irá impedi-lo de trazer ideias estranhas e únicas, mais comumente achadas nos confins do Bandcamp; e que, mesmo que Will esteja tentando diminuir sua exposição pública, suas letras continuam muito íntimas, mesmo que mais abstratas. Com esse cenário mais completo, os versos (e até o nome!) da última música do disco, “Famous”, ficam explícitos até demais em seu significado: ‘Please, let this matter (…) Someone will care about this’.

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