Clap Your Hands Say Yeah — New Fragility

Com este disco, a banda de Alec Ounsworth constrói o trabalho mais maduro dentro da sua rica discografia

Angelo Fadini
You! Me! Dancing!
3 min readFeb 17, 2021

--

New Fragility

Clap Your Hands Say Yeah

Ouça: “Hesitating Nation”, “Thousand Oaks” e “CYHSY, 2005”
Nota: 8.8
Stream

Dez músicas sobre coisas dando errado e lampejos de esperança. Foi assim que Alec Ounsworth, mente criativa e único membro restante da formação original do Clap Your Hands Say Yeah, descreveu seu trabalho mais recente, o muito bom New Fragility. E, após algumas audições e reflexões, fica impossível discordar do artista.

A gestação do disco ocorreu em momentos bastante tensos a níveis mundiais com a era-Trump, massacres por armas de fogo e a pandemia de COVID-19. A níveis pessoais, este também não foi um período nada fácil para Alec, que teve que lidar com divórcio, depressão e a doença degenerativa de sua mãe. Era impossível que todas essas preocupações e angústias não fossem reveladas nas letras de New Fragility. Mensagens políticas se mesclam e se confundem com letras pessoais, deixando tudo ainda mais rico.

Embora todo este pesar seja palpável nas letras e melodias de boa parte das faixas, o disco possui ainda algumas das músicas instrumentalmente mais animadas e vivas dentro da discografia do Clap Your Hands Say Yeah, notadamente “CYHSY, 2005” e “Went Looking For Trouble”. Além da voz afetada, única e inconfundível de Alec, ainda merecem destaque as orquestrações e o uso do piano, instrumento que toma a frente em diversas faixas e que nunca havia sido tão utilizado pela banda nos discos anteriores.

O Clap Your Hands Say Yeah sempre teve uma sonoridade bastante clara e reconhecível desde o primeiro disco, lançado em um já longínquo 2005. A cada disco eram adicionados novos elementos, mas a proposta estética da banda sempre era perceptível. Às vezes a sonoridade resultante destes novos elementos pode não ter sido tão boa assim (vide Only Run, 2014). No entanto, os novos elementos (piano e peso nos violinos e violoncelos) adicionados a New Fragility soam muito bem e casam perfeitamente com o momento vivido por Alec, refletindo e expandindo a maturidade alcançada desde The Tourist de 2017.

New Fragility não é o melhor disco do Clap Your Hands Say Yeah. Também não é o mais excêntrico, nem o mais experimental. Tampouco rompe alguma nova barreira criativa. No entanto, este disco é o trabalho mais maduro de Alec Ounsworth. É o trabalho de um criador que sabe reconhecer suas forças e fraquezas e está em paz com isso, mesmo em meio às turbulências de um mundo caótico. No fim das contas, New Fragility é o trabalho de um adulto que, mesmo com o peso do mundo lhe abatendo todos os dias, finalmente passou a se sentir à vontade na própria pele.

--

--

Angelo Fadini
You! Me! Dancing!

Nascido nos anos 80. Criança nos anos 90. Adolescente nos anos 00. Adulto nos anos 10. Sobrevivendo nos anos 20.