discos do coração: Little Joy

Os 15 anos do primeiro (e único) álbum do Little Joy

Larissa Mendes
You! Me! Dancing!
4 min readAug 23, 2023

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Um projeto despretensioso que resultou em um grande disco. Assim pode ser definida a parceria dos músicos Rodrigo Amarante, Fabrizio Moretti, Binki Shapiro e do seu Little Joy. Quase 15 anos se passaram e eu — e tantos outros fãs — continuamos sonhando com um reencontro (aliás, logo fui corrigida por uma querida dizendo que não vai rolar por motivos de: Fabrizio e Binki não tiveram um final feliz) daqueles três belos e talentosos jovens que agitaram nossa temporada de verão 2008/2009.

Reza a lenda que Amarante e Moretti (todos sabem que o baterista é brasileiro, mas mora na América desde a infância) se conheceram em 2007 num festival em Portugal e depois de muita conversa (e muitas cervejas) às margens do Rio Tejo manifestaram o interesse em trabalhar juntos. Um ano depois — durante um hiato dado por Los Hermanos e The Strokes, suas respectivas bandas — se reencontraram em Los Angeles por conta da participação de Amarante no disco do maluco-beleza Devendra Banhart. Os artistas brasileiros juntaram-se a norte americana Binki Shapiro (namorada de Moretti na época) e decidiram dividir uma casa (técnica recorrente no processo criativo dos hermanos) para compor o primeiro e único álbum da banda, o homônimo Little Joy (2008).

Lançado em novembro daquele ano, com temas que variavam entre o cotidiano [in]questionável e relacionamentos amorosos, o disco traz uma agradável mistura retrô (e bilíngue) que transita entre o folk e o pop-rock dos anos 60. Com sua levada rítmica, Amarante divide os vocais com a doce, melodiosa e lindíssima (juro, ao vivo ela não usava um pingo de make!) Binki Shapiro em “Unattainable” e “Don’t Watch Me Dancing”. A americana, inclusive canta um verso em português (“e onde a sorte há de te levar/saiba, o caminho é o fim/mas há de chegar”) em “The Next Time Around”, canção que abre o disco. Vale citar que os três músicos são multi-instrumentistas e dividiam-se entre percussão, piano, guitarra e contra-baixo.

Batizada com o nome de um bar de Los Angeles, a banda era elaboradamente simples como o encontro de amigos que apreciam boa música e um bom papo neste mesmo bar. Das 11 faixas, o disco possui uma única composição inteiramente em português, a sussurrada “Evaporar”. Faço aqui um adendo para o apontamento de nosso editor André Salles, de que a canção ganhou um cover em 2020 do trio Snail Mail, projeto da novinha Lindsey Jordan. Se “Evaporar” lembrava muito Los Hermanos, “How To Hang a Warhol” e “Keep Me In Mind” soavam demasiadamente stroker. E tava tudo bem. Destaque ainda para as faixas “Brand New Start” (eleita pela revista Rolling Stone como um dos 100 melhores singles do ano), “No One’s Better Sake” e “Shoulder To Shoulder”, pequenos clássicos que ainda sei cantar de cor.

Por essa e por outras, o Little Joy parecia perfeito para ser ouvido numa tarde ensolarada na estrada, rumo à praia ou à cachoeira mais próxima. Por falar em estrada, em sua turnê pelos Estados Unidos, o trio cruzou o país revezando a direção a bordo de uma van. Talvez venha daí um certo frescor-nostálgico das canções, como aquele sentido quando revemos as fotos de uma viagem de outrora. Como bem diz um dos versos de “The Next Time Around”: “if nothing ventured, nothing learned”. É, Amarante e sua trupe aprenderam direitinho a lição (e não me refiro apenas ao inglês impecável do Ruivo desde seus primeiros flertes com o idioma), até que a falta de agenda colocou um ponto final a um dos projetos mais aclamados da carreira de cada integrante.

Mais de uma década depois, revendo o encarte do CD, sou arrebatada pelas memórias do show que assisti da banda no John Bull de Curitiba, em fevereiro de 2009 — que além de mim e de uma pequena multidão, contava com o ator Alexandre Nero e o comediante Diogo Portugal na seleta plateia. Lembro ainda da minha frustração ao perceber que tive um problema com a câmera fotográfica (que falta faziam os smartphones!) e não consegui registrar uma foto sequer do grupo em sua turnê nacional. Little Joy foi trilha sonora de uma das melhores fases da mocidade dessa jovem senhora e várias faixas do álbum permanecem fazendo parte da minha playlist (e pra minha surpresa, da playlist de vários coleguinhas do YMD também!) para ouvir na estrada rumo à praia ou à cachoeira mais próxima. Uma pequena (e eterna) alegria para o universo musical de todos nós.

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