discos do coração: Tapestry

Completando 50 anos de lançamento, Tapestry se prova atemporal e ainda há de marcar a vida de muitas gerações

Angelo Fadini
You! Me! Dancing!
3 min readJul 19, 2021

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A música sempre foi parte importante da minha vida. Consigo relacionar todas as fases e momentos importantes com os discos que estava ouvindo naquele período. Me vem claramente na cabeça todas as vezes que ouvi o Standing on the Shoulder of Giants do Oasis enquanto estava na cama me recuperando de uma cirurgia. Todas as vezes que fiz o mesmo trajeto para o trabalho, sozinho em outro país, ouvindo e me identificando com o Modern Vampires Of The City do Vampire Weekend. E todas as vezes que ouvi o Cosmotron do Skank me despedindo precocemente da adolescência e da minha cidade do interior na virada de 2003 para 2004.

A lista de exemplos é grande e inclui uma gama bem diversa de estilos e artistas. Mas sem dúvidas, Tapestry da Carole King tem um lugar mais do que especial. Tapestry é certamente um dos discos da minha vida adulta. Esse disco acabou sendo incorporado na minha rotina pós-casamento, sendo a trilha de inúmeras noites de sábado cozinhando e comendo uma comidinha gostosa. Virou quase uma tradição: colocar Tapestry para tocar, cozinhar e comer! Nos primeiros acordes já sou invadido por uma sensação de prazer e a certeza de que tudo vai ficar bem.

Tapestry veio também em um momento delicado na vida de Carole King. Recentemente separada de Gerry Goffin, parceiro de vida e de tantas composições que tinham virado hits com outras vozes, ela se mudou para Los Angeles com suas duas filhas pequenas. Na cidade ela foi se reencontrando com a música aos poucos e formando novas parcerias, entre elas Joni Mitchell e James Taylor. Com a ajuda de seus novos amigos, ela lançou Writer em 1970, que foi seu debut em disco cheio. No ano seguinte, com o mesmo time, gravou e lançou Tapestry que seria o maior sucesso comercial e de crítica de sua vida.

Tapestry completou 50 anos de lançamento em janeiro deste ano. 50 ANOS! O disco sobreviveu a prova do tempo e possui canções totalmente atemporais. Poucos discos são capazes de chegar a esta marca e ainda serem influentes, marcantes, relevantes e tão queridos por quem os ouve. Além de ser um dos discos mais vendidos da história da música com certificações que superam a marca de 25 milhões de álbuns e vencedor de inúmeros prêmios, incluindo os quatro principais grammys na premiação de 1972.

Tapestry é o disco que fez com que Carole se tornasse uma dessas artistas que faz parte do inconsciente coletivo da cultura ocidental. Você pode até não ligar o nome à pessoa, mas é certo que você já ouviu diversas músicas criadas por ela e presentes neste disco. Seja “Where You Lead” na abertura de Gilmore Girls, seja “Will You Love Me Tomorrow” que saiu no disco póstumo da Amy Winehouse, seja “You’ve Got A Friend” também imortalizada na voz de James Taylor e regravada por Michael Jackson e Aretha Franklin, seja “It’s Too Late” presente nas trilhas sonoras de diversos filmes, incluindo A Casa No Lago, pequeno hit da primeira década dos anos 2000.

Ser adulto não é fácil e a vida acaba te atropelando em um momento ou outro, quer você queira ou não, e é simplesmente inevitável que isso aconteça. No entanto, ter um disco que soa como o abraço que você queria receber faz tudo ficar mais leve. Tapestry é esse disco para mim. Tapestry é o abraço que precisei durante muitas noites e que acabei encontrando naquelas canções.

Meu filho acabou de nascer e, sem dúvidas, em algum momento mostrarei esse disco para ele com a importância e o carinho que esse clássico de Carole merece.

PS. para Antônio: Filho, sei que você ainda não entende, mas você não tem ideia do quanto seu pai e sua mãe sonharam com você e fizeram tantos planos ouvindo esse disco. Te amo!

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Angelo Fadini
You! Me! Dancing!

Nascido nos anos 80. Criança nos anos 90. Adolescente nos anos 00. Adulto nos anos 10. Sobrevivendo nos anos 20.