Django Django — Glowing in the Dark

Glowing In The Dark é um complexo de fortes referências que revive bons anos da música popular e eletrônica sem cair em clichês e abraçando, simultaneamente, a novidade

jullie
You! Me! Dancing!
3 min readFeb 25, 2021

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Glowing In The Dark

Django Django

Ouça: “Right The Wrongs”, “Got Me Worried” e “Kick The Devil Out”
Nota: 7.3
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Talvez as expectativas da banda inglesa Django Django não estavam alinhadas com o momento que o mundo vive hoje, uma pandemia que fechou os lugares mais comuns para explosões conjuntas de energia. Com o som envolvente, estranho e sintético-experimental de sempre, o grupo lançou, já no início de 2021, seu quarto álbum, intitulado Glowing In The Dark, um complexo de fortes referências que revive bons anos da música popular e eletrônica sem cair em clichês e abraçando, simultaneamente, a novidade.

OK, não temos onde dançar juntos faixas como “Right The Wrongs”, que une os anos 80 com o indie pop do final dos anos 2000, ou a própria faixa-título, que desliza no ar e distribui energia com uma batida bem marcada. Mas temos como apreciá-las do conforto do nosso lar: quem sabe dançar cozinhando, tomando banho ou simplesmente sem motivo, porque é muito difícil realmente ouvir ambas as músicas sem se mexer.

No campo das experimentações, o grupo não deixou em mediocridade e lançou um até uma espécie de sambinha, com cuíca, pandeiro e tudo, em “Got Me Worried”. Nela, uma parte é inclusive cantada em português, deixando a gente aqui curioso em saber quais são as referências brasileiras dos músicos. No final, palmas de auditório que cria um ambiente parecido com os Festivais de Música Popular Brasileira, da TV Record, veiculados nos anos 60.

Ao mostrar apreço por um estilo marcante da música brasileira, os londrinos mostram um fit interessante com bandas como Animal Collective, abertamente fãs da Tropicália e Clube da Esquina. Em “The Ark” eles também lembram, de alguma forma, as experimentações sonoras do grupo norte-americano liderado por Panda Bear, ao flertar com um espírito sci-fi e manter tudo no instrumental.

Em momentos mais tranquilos, faixas como “Waking Up”, com participação de Charlotte Gainsbourg, e “The World Will Turn”, uma forte alusão às acústicas dos Beatles, Django Django coloca para jogo o poder de criar um álbum que mistura experimentações inéditas e diversas nas composições. São contrapontos: enquanto “Kick The Devil Out” volta, no final, ao ritmo dançante, chegando mais uma vez perto dos anos 70 e 80, “Night Of The Buffalo” é um ode tribal e à natureza, que alude aos anos 60 e a ícones como The Mamas and The Papas.

Toda essa experimentação, talvez nunca tão concisa, da banda, faz com que Glowing In The Dark seja outro ótimo álbum de sua carreira. Fica aqui a vontade de que esse talento para a criação de um contexto musical, que na teoria pode parecer uma pésima ideia, continue como um grande impulso e engrenagem para Django Django. E, é claro, que todo mundo fique bem, que essa pandemia acabe mais rápido do que imaginamos e que as festinhas e festivais sejam logo liberados para que possamos brilhar muito na pista.

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