Filipe Catto — Belezas São Coisas Acesas Por Dentro

Filipe Catto, Gal Costa e “Belezas São Coisas Acesas Por Dentro”: atrevimento puro, com a mesma data de nascimento

Bárbarah Alves
You! Me! Dancing!
2 min readOct 5, 2023

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Belezas São Coisas Acesas Por Dentro

Filipe Catto

Nota: 9.5
Ouça: “Tigresa”, “Negro Amor”, “Nada Mais” e “Vaca Profana”
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Nos últimos tempos tenho me perguntado por onde anda o rock. Longe de saudosismos e ciente daqueles que ainda mantém vivo o gênero, sejam eles no mainstream ou não. A minha questão é, na verdade, mais voltada pro estilo, pro lifestyle. Onde estão os rebeldes, os subversivos, os incorrigíveis? Talvez não estejam por detrás dos coturnos, nem dos spikes, dos piercings, nem mesmo no line-up de festivais “roqueiros”. Talvez a verdadeira atitude roqueira esteja por detrás de uma tanga, do cabelo negro chapado a la Cher nos anos 1970.

Belezas São Coisas Acesas Por Dentro, novo disco da gogótica Filipe Catto, é essa essência que eu sentia falta. O trabalho é uma releitura de canções da discografia da divina e maravilhosa Gal Costa, que nos deixou, quase um ano atrás. No álbum, Catto reúne velhas e novas composições do repertório de Gal e nos mostra que esse repertório sempre será significativo.

O disco traz 10 canções reinterpretadas pela cantora. Entre elas, a que dá título ao projeto, “Lágrimas Negras”, de Nelson Jacobina e Jorge Mautner. E ainda composições de Caetano Veloso, como “Vaca Profana”, “Tigresa” e “Joia”; de Gilberto Gil, “Esotérico”; de Waly Salomão e Jards Macalé, “Vapor Barato”, de Bactéria, Junio Barreto e Lirinha, “Jabitacá”, “Sem Medo Nem Esperança”, de Arthur Nogueira e Antônio Cícero, “Negro Amor”, de Caetano Veloso, Péricles Cavalcanti e Bob Dylan (originalmente); e “Nada Mais”, de Ronaldo Bastos e Stevie Wonder (originalmente).

A entrega de Catto pras faixas fica evidente já na primeira audição. Ora sedutora e delicada, ora magnificente e afiada, a sua voz mostra que a intérprete é, sim, uma das melhores de sua geração.

A mixagem suja, no melhor dos sentidos, soa aos ouvidos como um ao vivo. É como ter um power trio, e Catto, obviamente, dentro da cabeça. Puro atrevimento. Como o gênero pede. Porque o rock é político. É corpóreo — e cansado de ser um corpo masculino, cis, hetero. Porque Gal Costa era 100% rock’n’roll. Até nas mais serenas bossas.

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Bárbarah Alves
You! Me! Dancing!

Letras/Audiovisual (UFRN); Bolsista na Rádio Universitária de Natal (88.9 FM); Escritora em @youmedancing;