Fresno — Vou Ter Que Me Virar

Novidade e nostalgia se encontram no novo álbum do, agora, trio gaúcho

jullie
You! Me! Dancing!
4 min readDec 2, 2021

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Vou Ter Que Me Virar

Fresno

Ouça: “Vou Ter Que Me Virar”, “Casa Assombrada” e “Agora Deixa”
Nota: 6.5
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Com título acidentalmente premonitório, o álbum Sua Alegria Foi Cancelada dos gaúchos da Fresno parecia saber que os anos seguintes a 2019, época de seu lançamento, não seriam fáceis. Não apenas pelas eleições de 2018, evento que teve diversas citações pelas 10 faixas, mas pela pandemia que estaria para começar no próximo ano.

Mas quem acompanha de perto Lucas Silveira, vocalista da banda, sabe que isso não seria baque o suficiente para abafar a vontade de fazer música do grupo. Depois de realizar três edições do super projeto Quarentemo, entrando na onda de lives durante a pandemia, a banda não parou de gravar inéditas e regravar materiais antigos de Lucas.

Foi assim que, em 2021, depois da saída do tecladista Mario Camelo, novidades foram aparecendo aos poucos nas redes da Fresno até se tornar um projeto só chamado INVentário, com faixas conhecidas do público da banda e dos projetos solo do vocalista, como o Beeshop e Visconde. Não é álbum, não é EP, é um conceito diferente e sem definição, mas com presença o suficiente para ter feats de peso, como com o grupo japonês Magic of Life, Terno Rei e Lilian Soares, da Tuyo.

Todo mundo achou que esse era o novo trabalho dos gaúchos e já estava de ótimo tamanho. Afinal, apesar de músicas familiares, a maioria do projeto tem materiais novos. Mas surpreendentemente a Fresno anunciou o Vou Ter Que Me Virar, seu novo álbum (real oficial) com 11 inéditas.

Como o fio de um novelo, o novo trabalho da banda integra seu portfólio com coerência ao intensificar o ambiente muito mais eletrônico, num dueto com o instrumental e seus momentos de evidência. Isso já se revela na faixa-título, que abre o álbum, e nas faixas “FUDEU!!!” e “ELES ODEIAM GENTE COMO NÓS” (ambas em caixa alta mesmo), já que elas se alinham com antigas agressivas e políticas e às guitarras e baterias mais pesadas de “We’ll Fight Together” e “Isso Não É Um Teste”.

Para quem já gosta mais das melódicas, sempre presentes, “Casa Assombrada” pode ser a candidata à preferida, com o adicional da letra reafirmando o processo terapêutico que Lucas está passando e falou sobre em entrevistas recentes. Entra na lista das baladinhas a parceria com Lulu Santos “Já Faz Tanto Tempo”, que foi gravada há dois anos e guardada para um momento especial, que chegou. A faixa traz muitos elementos de pop alternativo notados em materiais de twenty one pilots e The Neighbourhood, assim como em “Agora Deixa”.

Em mais um feat, a banda divide a faixa “Tell Me Lover” com o vencedor do American Idol Scarypoolparty e com a guitarrista chinesa Yvette Young, da Covet. Aqui, o grupo decidiu investir numa estética muito mais pop triste do que o rock triste de costume, e talvez seja a composição que mais se separa do que já foi ouvido do, agora, trio gaúcho.

Uma onda de nostalgia chega em “Caminho Não Tem Fim”, que traz elementos do amado e imponente hit “Eu Sou a Maré Viva” ao tratar da vida de uma forma mais profunda e ao fazer um ode à viver e não apenas existir. Além dela, a regravação de “6h34 (Nem Liga Guria)”, antiga e famosa música do projeto solo Beeshop de Lucas, abraça os fãs antigos que já estavam felizes com esse revival desde o INVentário, já que a mesma também está presente no projeto.

Com muitos elementos novos e experimentações, Vou Ter Que Me Virar é um álbum que revela músicos inquietos, mas impossibilitados de sair de casa. Em vez de perder a força, eles ganharam ainda mais vontade de criar e ultrapassar limites que parecem ter sido reforçados por anos a fio — natural para uma banda que sempre foi colocada na caixinha “emo” e tem mais de 20 anos de estrada. E mesmo com todo mundo entendendo isso, a Fresno mais uma vez muda, se reinventa e surpreende sem perder entusiasmo dos antigos e novos fãs.

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