Haru Nemuri — SHUNKA RYOUGEN

Em seu segundo álbum, a japonesa Haru Nemuri explora o fogo e se entrega ao caos

André Salles
You! Me! Dancing!
3 min readJun 17, 2022

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春火燎原

春 ねむり

Ouça: “Shunrai”, “Seventh Heaven”, “Never Let You Go”, “Inori Dake Ga Aru” e “Who The Fuck Is Burning The Forest?”
Nota: 7.4
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Quando a japonesa Haru Nemuri lançou seu primeiro álbum, Haru To Shura, em 2018 os blogs independentes de música vieram abaixo e por um motivo muito simples: Haru To Shura não soava como nada já feito antes. Nemuri fez uma salada de influências, indo do noise rock ao j-pop e ao hip-hop/spoken word resultando em um som absurdo, completamente único e extremamente interessante. Haru Nemuri conseguiu trazer seu som, ridiculamente original, ao ocidente e se tornou a queridinha da crítica musical indie — eu mesmo incluí Haru To Shura na minha lista de Melhores de 2018. A moça seguiu seu poderoso debut com o maravilhoso EP Lovetheism que expandiu seu som, trouxe mais experimentações e provou que Haru seria capaz de fazer o que quisesse.

E agora a moça nos apresenta seu segundo trabalho completo, 春火燎原 (SHUNKA RYOUGEN), e mostra que realmente Haru pode fazer o que quiser; mas nem sempre isso resulta em algo tão bom. SHUNKA RYOUGEN foi precedido por alguns ótimos singles, como “Bang” e “Seventh Heaven”, e se mostrou com toda a certeza o trabalho mais diverso, eclético, caótico e experimental de Haru até o momento. Com monumentais 21 faixas e mais de uma hora de duração, SHUNKA RYOUGEN é no mínimo complicado para ser ouvido inteiro de uma vez. Muito menos coeso do que Haru To Shura, seu novo trabalho é denso e nem sempre confortável — muito provavelmente de propósito.

Seu título 春火燎原 pode ser traduzido para algo como ‘o fogo da primavera iluminando o campo em chamas’ — e é nessa paisagem de fogo, caos, destruição, mas também beleza, que a moça se ambienta para construir seu novo trabalho. Tal título se mostra, também, absolutamente apropriado para as dezenas de climas e humores apresentados.

Haru Nemuri faz tanta coisa ao mesmo tempo aqui, trazendo elementos de math rock, metalcore, hard rock, além dos já previstos noise, j-pop e hip-hop, que SHUNKA RYOUGEN se mostra complexo e complicado — além da conta. As experimentações vistas em Lovetheism, como em “Fanfare” e “Riot”, dão lugar a sons que elevam tudo a um ponto acima — tanto o bom quanto o ruim. Os momentos que funcionam são completamente espetaculares e de tirar o fôlego, como as faixas “Shunrai” e “Never Let You Go” — mostram Haru Nemuri em seu melhor. Mas por outro lado temos alguns interludes e faixas que pecam pelo excesso tanto em duração quanto em conteúdo, como “iconostasis” e “Souzou Suru”.

O maior erro de SHUNKA RYOUGEN está, talvez, em sua gigantesca duração. Por se tratar de um trabalho sonoramente denso, quase agressivo, ele se torna pesado para ser ouvido em sua totalidade — mas quando analisado em partes, ele se revela um álbum melhor do que o esperado. SHUNKA RYOUGEN é o tipo de álbum que funcionaria muito melhor não sendo um álbum mas sim dividido em três ou quatro EPs.

Um fato que fica muito claro ao se ouvir o disco é que as melhores faixas são aquelas nas quais Haru segue com o som já apresentado antes, mas o aprimora. As guitarras barulhentas, riffs de metal e noise com batidas de j-pop são o que fazem Haru brilhar e soar tão única. Haru Nemuri segue sendo como uma das artistas mais originais da música atual e realmente pode fazer o que quiser. Mesmo quando não funciona, o trabalho de Nemuri ainda é memorável e mais interessante do que a maioria.

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