JARV IS… — Beyond The Pale

O eterno líder do Pulp volta em álbum eletrônico sem grandes novidades, mas consistente

Giovanni Vellozo
You! Me! Dancing!
3 min readJul 28, 2020

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Beyond The Pale

JARV IS…

Lançamento: 17/Jul/2020
Ouça: “Save The Whale”, “Swanky Modes” e “Children Of The Echo”
Nota: 7.5
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Passados mais de quarenta anos desde que cocriou a melhor banda do Britpop, tendo lançado depois do final dela seus álbuns solo e virado host de programa de rádio na BBC, Jarvis Cocker não pensa em parar. Prova disso é o primeiro álbum de seu novo grupo, JARV IS…, Beyond The Pale. Foi um caminho lento e tortuoso: o sexteto surgiu como um projeto ao vivo em 2017, com o primeiro single vindo em maio de 2019. O lançamento do disco foi previsto para quase exatamente um ano depois, em primeiro de maio. Havia uma pandemia no meio do caminho, porém, e tudo foi recolocado para 4 de setembro… Até ser agora antecipado para o último dia 17.

Melhor para nós, ouvintes? A resposta curta é sim. O novo trabalho de Jarvis traz sete faixas expansivas — todas as músicas ultrapassam os quatro minutos —, povoadas com muitos timbres sintetizados e baterias eletrônicas das décadas de 80 e 90. E em uma era onde um revivalismo carrega boa parte de novos lançamentos, a assinatura do compositor de Sheffield é um diferencial e tanto.

Beyond The Pale traz arranjos sofisticados, harmonias nos vocais de apoio da harpista/tecladista Serafina Steer, motivos dançantes na percussão de Adam Betts que relembram momentos do subestimado Separations (1992, gravado em 1989) de sua banda anterior, ainda que bem menos góticos que naquele. E, claro, o senso único de Jarvis de interpretação intimista e sensual, para letras mordazes e bem trabalhadas — preste atenção nas palavras de ordem subvertidas na abertura, “Save The Whale” ou no clima desolador da conversação de “Swanky Modes”.

Ao mesmo tempo, o fardo do mais-do-mesmo também pode ter seu lado prejudicial, como nos dois primeiros singles. “Must I Evolve?”, o primeiro, é uma prova exata disso, como a faixa mais repetitiva do álbum, com boa parte de sua duração baseada em um padrão pergunta-resposta nos vocais que enfraquece a cada nova audição. Já o segundo, “House Music All Night Long”, é uma música melhor e ressoante com o contexto atual de um “world of interiors” pandêmico, mas que também acaba ficando consideravelmente menor e menos significante diante de canções melhor construídas do álbum, como a subsequente “Sometimes I am Pharaoh” e a encerradora “Children of the Echo”.

É um pouco injusto forçar as comparações com a banda pregressa de Jarvis, mas Beyond the Pale é, talvez junto com The Jarvis Cocker Record (2006), o trabalho do músico que mais se aproxima do nível de sofisticação atingido por ele e seus antigos colegas nos momentos finais do século XX. Ainda que falte aquele ar de novidade do passado, é certo que ele ainda tem algo a dizer e nos entreter, além das aparências.

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