Jehnny Beth — To Love Is To Live

Acredite, este disco vai crescer em você como o número dos seus pecados ao longo da vida

Quel Batista
You! Me! Dancing!
2 min readJun 22, 2020

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To Love Is To Live

Jehnny Beth

Lançamento: 12/Jun/2020
Ouça: “Innocence”, “We Will Sin Together” e “French Countryside”
Nota: 9.0
Stream

Se por enquanto não é possível ver o (desejado) retorno da banda de post-punk Savages despontar no horizonte, Jehnny Beth parece bem confortável em fazer experimentações sonoras e provocações as nossas humanidades em seu disco solo To Love Is To Live.

Recomendo aos fãs da banda inglesa a se aproximarem com cuidado do trabalho da vocalista com a compreensão de que encontrarão algo bem diferente do que estavam acostumados, apesar da inconteste voz de Jehnny Beth permanecer como pedra fundamental de suas criações.

Logo de cara, mergulhamos em sentimentos obscuros, sonora e liricamente falando. Por vezes, é possível identificar elementos de punk rock, rock industrial (alô, Nine Inch Nails!) e noise, como na faixa “I’m The Man”. Também percebemos uma forte aproximação com o trip hop, mas não podemos limitar um disco tão rico a qualquer gênero que seja.

Estamos na era da exposição, e o que a cantora britânica faz na sua mais recente criação é um verdadeiro “exposed” da hipocrisia humana e de suas próprias vontades e desilusões. A veia poética da artista lateja como nunca antes, são letras extremamente potentes — como um soco bem dado na cara de quem você mais odeia.

And anyway I’m done
Trying to fix what’s wrong
So keep staring down the lens
Your “Come to bed” eyes

O disco veio ao mundo acompanhado de obras audiovisuais e, cruzando as intenções do eu-lírico das composições e os elementos visuais apresentados, temos o sagrado, o divino e o humano como temas centrais. Mas Jehnny Beth não dá a outra face, pelo contrário, nos mostra que os dois lados do nosso rosto carregam nossos pecados. Nesse contexto, o que nos glorifica, também é o que nos condena e nos faz humanos.

E como poderia esse ser um disco sobre amar ou viver como o título sugere? Bom, a resposta pode ser mais simples do que parece. Se entendemos que em tudo o que é humano, cabe um pouco de sagrado e também algumas perversões, conseguimos ser mais justos com nós mesmos e, quem sabe, com os outros. O que é mais humano do que o pecado? Pequemos juntos, portanto.

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Quel Batista
You! Me! Dancing!

Escritora, produtora cultural, publicitária e podcaster.