Jerry Paper — Abracadabra

Jerry Paper continua desenvolvendo sua persona em seu novo disco Abracadabra e seguindo a linha brincalhona de nomes do indie como Mac DeMarco e boy pablo

Bárbarah Alves
You! Me! Dancing!
3 min readMay 25, 2020

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Abracadabra

Jerry Paper

Lançamento: 15/Mai/2020
Ouça: “Cholla”, “Trash Can” e “Puppeteer”
Nota: 7.2
Stream

Jerry Paper não é um nome tão conhecido em terras tupiniquins, apesar de já ter se apresentado por aqui poucos anos atrás. Se eu tivesse que resumir ou apresentar a alguém o estilo do nova-iorquino, possivelmente, Mac DeMarco e boy pablo seriam as referências mais próximas e superficiais. Seja pelo som ou pela persona, Paper e os nomes já carimbados do indie citados acima têm a despretensiosidade como ponto comum.

Paper é nada mais, nada menos que um personagem/persona de Lucas Nathan, um músico e cidadão comum de Nova Iorque que, no começo dos anos 2010, afim de compor sobre situações mais introspectivas, surgiu com a máscara. Questões atuais como distúrbios psicológicos e a grande jornada do autoconhecimento são temas comuns às canções bizarras e sintéticas do artista. No último dia 15 de maio, Nathan lançou seu sétimo disco de inéditas: Abracadabra. O disco continua a sonoridade já trabalhada nos álbuns anteriores — um chillwave, easy listening, mas ainda sim pop (pra não dizer o genérico: alternativo/indie).

Em geral, os trabalhos de Paper costumam ser curtos, discos com pouco mais de 30 minutos de duração. Abracadabra não é diferente. Sonoramente situado nos anos 1970/80, com fortes marcas de sintetizadores clássicos, como o Roland JUNO-60, baterias abafadas, phasers e reverbs, o atual trabalho de Nathan me surpreendeu no balanço entre o esquisito e o melódico. Faixas como “Cholla”, uma balada suingada e gostosa de ouvir, e “Trash Can”, música que termina inesperadamente com um efeito bizarro de ioiô, representam bem a proporção.

O tom brincalhão do artista de 30 anos não fica somente nos efeitos sonoros e nas camadas que compõe suas músicas. Jerry Paper parece respirar boas bobagens e parece querer que todos se tratem com menos seriedade. Na faixa “Body Builder On The Shore”, uma das estrofes narra esse desejo: ‘Well, the balloons were blown/And the confetti stacked/Your child was yelling, “Daddy, Daddy”/But you were in the office/Puffing cotton candy’.

A audição breve do registro faz com que não seja enfadonha a similaridade no estilo das faixas. Soa quase como se você colocasse alguma playlist do Spotify com “indie” no título, gerando simpatia em primeiro lugar e comfort noises aos ouvidos com o passar do tempo.

A parte mais legal de Abracadabra é o seu final, e calma, não é porque o álbum acaba. A última canção, “Puppeteer”, é a mais completa de todo o trabalho, tem leves influências da música brasileira e fala sobre não se sentir realizado, mesmo tendo feito muito durante o dia. É um reflexo da vida cotidiana reescrita por Paper nessa figura lúdica e assustadora que é o fantoche.

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Bárbarah Alves
You! Me! Dancing!

Letras/Audiovisual (UFRN); Bolsista na Rádio Universitária de Natal (88.9 FM); Escritora em @youmedancing;