Jordan Mackampa — Foreigner

Congolês lança seu primeiro álbum com uma sonoridade atemporal

Henrique Amorim
You! Me! Dancing!
3 min readAug 21, 2020

--

Foreigner

Jordan Mackampa

Lançamento: 13/Mar/2020
Ouça: “Magic”, “What Am I” e “Under”
Nota: 7.9
Stream

O principal instrumento de trabalho na música soul é, sem dúvida, a voz de seus intérpretes. Poderíamos passar dias citando um sem número de músicos e musicistas talentosos e talentosas que esbanjam com seus gogós poderosos, as referências não são poucas, ainda assim, o neo-soul mais recente (2010 pra cá) encontrou poucas forças em expoentes masculinos como a vertente principal encontrava nos idos do século passado (Michael Jackson, Prince, Marvin Gaye). Frank Ocean, Michael Kiwanuka, Mayer Hawthorne conseguem puxar um aliado para esse time, o novato Jordan Mackampa, natural do Congo e radicado em Londres.

Apesar de estar trabalhando já há algum tempo, Mackampa debruçou um pouco mais para nos trazer o seu primeiro álbum completo somente agora em 2020 — o seu primeiro EP, Physics, data de 2016. E Foreigner, depois de tempo no forno, entra para o hall de grandes estreias do século com esse jovem promissor a frente.

O que torna Foreigner ainda mais interessante é ver (ouvir) um primeiro disco com uma produção tão delicada e tão rebuscada, parece que Jordan trilhou uma jornada bastante pensativa e aparou todas as pontas para entregar o que traz aqui: a sua verdadeira entrada para o mundo. Com suas diversas nuances dentro de uma mesma premissa, de brincar dentro do soul e do folk, Mackampa traz instrumentos bem acertados e sua voz colocada nos momentos certos, extremamente necessária para tornar Foreigner tão gostoso de se ouvir como o é — sincero, romântico, simples, verdadeiro.

Além de trazer um instrumental interessante, inserções bem pensadas e uma voz incrível, Mackampa também soube escolher o jeito com que trabalhou sua tracklist, engatando os momentos mais explosivos e contagiantes nos lugares certos. Tudo aqui parece pensado, tecendo uma longa costura com poucas partes sem arremate.

Para sua poesia, Mackampa faz uso de anáforas para criar e, assim como seus homólogos, abusa novamente da sua voz; com essa entrega de letras mais simplistas que, todavia, servem de palco para que Jordan nos entregue todo esse vozeirão, Foreigner transforma-se em sua primeira epopeia e grande acerto.

Foreigner é, mesmo assim, decalcado em uma voz fantástica, um álbum singelo e parelho. Sem muitos mistérios escondidos, sem muito brilhantismo e aparato desnecessário — é direto e reto, sem muitas firulas ou instrumentos megalomaníacos (19 da Adele e Back To Black da Amy Winehouse podem ser bons companheiros quando pensamos em simplicidade, não?). É um álbum para que Mackampa consiga se apresentar propriamente ao mundo e mostrar sua força dentro do gênero, carregando consigo influências marcantes do século passado e transformando essas sonoridades em algo atemporal dentro do seu estilo. Estamos em 2020, mas poderíamos estar entre 1950 e 1980 sem muito prejuízo.

--

--