Julien Baker — Little Oblivions

O terceiro álbum da artista pode ser uma experiência dolorosa, mas faz parte de um processo honesto de reflexão

Laura Martins
You! Me! Dancing!
3 min readMar 8, 2021

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Little Oblivions

Julien Baker

Ouça: “Hardline”, “Crying Wolf”, “Repeat” e “Song In E”
Nota: 8.8
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Desde seu álbum de estreia em 2015, Sprained Ankle, Julien Baker vem construindo uma carreira sólida como cantora, compositora e musicista. Suas criações, desde 2015, exploram assuntos da natureza humana, como vícios, desequilíbrios mentais e questões espirituais. Em Little Oblivions não foi diferente.

Aqui, a artista consegue transformar o sentimento de cobrança consigo mesma em uma narrativa sobre autodestruição em 12 faixas. A jovem de 25 anos, nascida e criada no sul dos Estados Unidos, foi criada por uma família cristã, passou por momentos de descoberta sobre a sua sexualidade e sobreviveu ao vício na adolescência. Toda essa experiência é condensada e explorada em seus álbuns, inclusive no projeto boygenius, grupo que firma sua parceria com Phoebe Bridgers e Lucy Dacus.

Mesmo Baker tocando quase todos os instrumentos sozinha, Little Oblivions conta com um som de banda completa, diferente dos seus álbuns anteriores, que tinham poucos elementos além da voz, piano e violão. “Hardline” abre o novo trabalho com sons semelhantes aos de antigos órgãos. Julien consegue te transportar para uma catedral católica por quase 4 minutos e ainda lança a reflexão: ‘What if it’s all black, baby? All the time’.

“Heatwave” segue num ritmo tranquilo com um arranjo com de violão e banjo, mas a música não termina antes de Baker soltar um aviso sombrio: ‘I’ll wrap Orion’s belt around my neck, and kick the chair out’. Little Oblivions segue seu curso nas próximas canções com a mesma energia pesada e profunda, semelhante a sensação de encontrar um diário secreto que não pode ser lido em voz alta, com pensamentos íntimos demais para serem compartilhados.

Apesar do álbum inteiro manter uma consistência, Baker brilha verdadeiramente em faixas mais lentas, acompanhadas em sua maioria somente de voz e teclado. “Crying Wolf” e “Song In E” provam que, mesmo quando comparado com seus trabalhos anteriores, Little Oblivions é uma jornada de peito aberto. Baker não hesita em colocar para fora seus demônios e seu interior, muitas vezes, dilacerado. ‘I wish you’d hurt me, it’s the mercy I can’t take’.

O trauma da artista pode não ser exatamente o mesmo que o seu, mas se você se enxergar de alguma forma nos refrões de Baker, Little Oblivions pode ser uma experiência dolorosa. Daquelas que deveriam vir com o aviso de “ouça por sua conta em risco”. Ao fim do álbum, lembramos que a artista faz um trabalho impecável transformando sua dor em música, mas isso não quer dizer que essa será a regra em todas as suas produções. Little Oblivions personifica a máxima de que um ferimento precisa de ar para respirar e se curar.

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