Jup do Bairro — Corpo Sem Juízo (EP)

Em Corpo Sem Juízo, Jup cria uma epopeia viva, que narra as vivências de corpos e vidas que lutam contra as estatísticas todos os dias

Gustavo Menezes
You! Me! Dancing!
3 min readJun 15, 2020

--

Corpo Sem Juízo

Jup do Bairro

Lançamento: 11/Jun/2020
Ouça: “PELO AMOR DE DEIZE”, “O CORRE”, “ALL YOU NEED IS LOVE” e “LUTA POR MIM”
Nota: 10
Stream

Um ano após anunciar e lançar a campanha de financiamento coletivo para produzir o projeto Corpo Sem Juízo, Jup Pires coloca seu filho no mundo após um parto e uma gestação atribulada. Maquinado por sua própria mente sumptuosa, Jup pensou em todos os passos, como uma boa mãe faria; desde o planejamento de uma publicidade criativa e uma divulgação auspiciosa, sempre colocando como peça aqueles que poderiam lhe ajudar. Abrindo-se de forma sutil e tão vulnerável, era claro que o que ela tramava neste convite era algo grande.

E ela não tramou sozinha. Um ano depois de uma incessante corrida para atingir suas metas e corres, seu fruto abriu os olhos e viu um mundo dantesco, imerso em um caos há muito tempo já arquitetado. Não existia uma brecha para sentir medo e adiar um trabalho como este pelo estado clínico que o mundo se encontra. Até por que, existe hora melhor para emergir do que dentro do caos? Quem saiu do extremo da zona sul de São Paulo sabe que deixar-se paralisar pelo medo não é opção, tudo vale e conta pela existência, pelo pão de amanhã e pelo trocado de hoje. O EP veio e, como resposta a vulnerabilidade e sutileza proposta em seu convite, veio as regalias de um projeto tão incisivo e perspicaz: sete faixas com a promessa de um clipe para cada uma, com a direção musical da sua parceira de estrada e corres, BADSISTA, e uma legião de parcerias insignes, que compilam um castelo a cada faixa, mostrando um mundo que muitos insistem em não ver.

Artista independente tem que ser bicho solto, é a lei, pelo menos no nosso chão verde e amarelo. Só Jup e os seus devem saber os tormentos e incertezas que tiveram que passar para levar essa mensagem a frente. Corpo Sem Juízo de fato veio em melhor hora. É nítido que tudo ali foi pensado e contado de um ponto de vista oblíquo, mesmo que seja a história de vida da própria artista, é capaz de você, corpo sem identidade, neutro, virado do avesso e jogado numa marginalidade que um sistema egoísta e bruto te pôs, se enxergar e sentir-se pertencente, vivo.

Não existem peças soltas ali, tudo faz sentido e se coloca como necessário, desde as participações, como Deize Tigrona, numa performance tênue entre o lancinante e o divino, Linn, Rico Dalasam, a produção impecável dos dedos geniosos de BADSISTA, e o visual intrigante. Corpo Sem Juízo é um convite para todos e todas sentirem como é viver como se cada dia fosse seu juízo final. É um convite para continuarem vivos pelos seus.

--

--