Lianne La Havas — Lianne La Havas

Lianne La Havas traz um álbum sobre término de relacionamento que passa longe do sofrimento e da autopiedade

Felipe Gomes
You! Me! Dancing!
3 min readJul 27, 2020

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Lianne La Havas

Lianne La Havas

Lançamento: 17/Jul/2020
Ouça: “Bittersweet”, “Weird Fishes”, “Seven Times” e “Sour Flower”
Nota: 8.5
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Foi pesquisando por covers de “Say A Little Pray For You” no YouTube que conheci Lianne La Havas. Isso já faz alguns anos e, desde lá, a voz doce, aveludada e com aquela rouquidão charmosa, própria das cantoras de neo soul, já era uma marca. Características fortes e que também estão presentes em seu mais recente trabalho, um álbum que leva seu nome e que, apesar de mais contido, é artisticamente mais ambicioso que os dois primeiros.

Se fosse possível descrever as 12 faixas em uma palavra, talvez a mais adequada fosse vulnerabilidade. Como era de se esperar em um auto intitulado, La Havas aparece mais exposta nas composições e até nas escolhas interpretativas que faz para as canções, sem explorar tanto sua potência vocal e guardando a explosão apenas para momentos e faixas muito específicas, como “Weird Fishes”, por exemplo. A capa, composta por uma foto em P&B da artista com o cabelo cobrindo parte de seu rosto, mas sem deixar de revelar um sorriso largo, ajuda a compor a atmosfera mais intimista do álbum.

Apesar de ter sido produzido antes da quarentena, o álbum cai como uma luva em tempos de isolamento social e poucas perspectivas de futuro, embora a falta de horizonte neste caso não seja sobre os caminhos da humanidade, mas sobre um relacionamento. No caso, um daqueles que de início parecia poder ser bem mais do que realmente foi. A linha narrativa usada para descrever a relação que não chegou tão longe passa por temas como incertezas amorosas e ansiedade, mas tudo isso sem tempo para autopiedade.

Na produção, vemos La Havas apostar massivamente no soul que pavimentou sua carreira, mas há um quê a mais. Tem pop, um tanto de folk e um muito de R&B. Há espaço ainda para influências da música brasileira — me parece alguma coisa entre a bossa nova e o samba rock. O que não surpreende, em se tratando de uma cantora que é assumidamente uma fã da nossa MPB.

De “Bittersweet” a “Bittersweet” — a faixa abre e encerra o álbum em versões diferentes –, somos envolvidos pela voz soul e pela guitarra acústica de uma La Havas que colocou seu multiculturalismo a serviço de uma narrativa que quebra a obviedade dos términos, em canções que apesar de descrever o início eufórico e o agonizar de uma relação, mostram autoconfiança e o protagonismo de uma mulher que assume o protagonismo de suas escolhas, inclusive quando escolhe ficar sozinha.

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Felipe Gomes
You! Me! Dancing!

e tu acha mesmo que eu tenho esse poder de síntese todo pra me descrever em uma bio? 🤧