Mahmundi — Mundo Novo

Em tempos de COVID-19 e desesperança mundial, Mahmundi lança um olhar reflexivo em Novo Mundo e nos faz pensar que o convívio humano e a empatia se fazem primordiais em meio ao caos

Bárbarah Alves
You! Me! Dancing!
4 min readJun 11, 2020

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Mundo Novo

Mahmundi

Lançamento: 29/Mai/2020
Ouça: “Nova TV”, “Convívio”, “Sem Medo” e “No Coração Da Escuridão”
Nota: 9.5
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‘Conviver não é só uma questão de opção que a gente faz, tipo, o convívio é a nossa condição. É questão de sobrevivência, identidade’. Essas são algumas das palavras que abrem o terceiro álbum da carioca Marcela Vale, mais conhecida por Mahmundi. A voz emprestada para o prelúdio de Mundo Novo é de Paulo Nazareth, cantor e parceiro de Mahmundi em algumas de suas composições do passado. A reflexão meio áudio de WhatsApp é franca e contempla o tema abordado por Marcela nesse disco: as relações humanas.

Depois da excelente aceitação do seu segundo disco — indicado ao Grammy Latino 2019 — Mahmundi descansou, trabalhou como produtora para alguns artistas e, sobretudo, estudou e refletiu. Os últimos dois anos depois de Para Dias Ruins (2018) têm sido difíceis, especialmente para nós que vivemos no Brasil. Agora, imagine que você lançou um disco com o nome “Para dias ruins” e os dias depois dele são péssimos. O país está um caos, tragédias têm sido mais constantes, a brutalidade do racismo continua girando o numerador de vidas perdidas, os índices de pobreza aumentam, e aí, quando tudo parece já muito ruim, o mundo entra em colapso sanitário. A primeira ideia, se você é artista, é transformar esse pesado existir em um trabalho denso, cerebral, talvez. Mas não pra Marcela.

Desarmada dos sintetizadores e sobreposições e acompanhada de uma banda enxuta, a cantora entrega um álbum orgânico, meio MPB anos 1990/00. A prova maior disso está no uso do violão de nylon, presente em boa parte das composições, como na introdução de “Nova TV”, na bossa “Nós De Fronte” e na saideira folk intimista “Vai”.

O coletivo está tão presente em Novo Mundo que Marcela se associou a bastante gente para concebê-lo. Nomes conhecidos aparecem, sejam como compositores ou como produtores. Castello Branco colaborou na feitura de duas faixas (“Nova TV” e “Nós De Fronte”), o já citado Paulo Nazareth compôs “Convívio” e Frederico Heliodoro, “Vem”. Este, inclusive, participou da produção geral com Mahmundi e tocou alguns dos instrumentos presentes. Contudo, quero frisar duas participações. A primeira de Davi Moraes como produtor em “Sem Medo” (Felippe Lau/Mahmundi). A segunda não é bem uma participação, mas sim uma aparição. Das sete faixas, apenas uma não é inédita. Trata-se de uma composição gravada por Dadi (Novos Baianos e Barão Vermelho) e Caetano Veloso, “No Coração Da Escuridão” (Dadi /Jorge Mautner). Ambas as canções trazem um frescor meio praieiro ao tom reflexivo do disco e se aproximam do pop que Mahmundi tem carregado tão bem nesses oito anos de carreira.

As letras do atual projeto transmitem esperança e uma ponderação branda, mesmo que sejam, por si, descomplicadas e triviais. Dessa forma, Mahmundi e parceiros conseguem fazer com que as músicas cheguem a mais ouvidos, ou seja, a definição básica do popular sendo colocada em prática.

E para arrematar o projeto, é preciso citar a ilustração feita para a capa. A arte é de Nicole Tomazi e Gabriel Kempers e também é baseada na evolução do ser e na convivência humana em tempos de COVID-19. A ilustração condensa tudo que é narrado em Novo Mundo e é um bom exemplo de como o visual pode acrescentar positivamente ao som. É possível visualizar a conceituação da capa, comentada por seus criadores na página do Instagram da cantora.

Por fim, acredito que Novo Mundo seja uma experiência — musical, mas não somente — a ser vivenciada e por isso não vou estender mais a análise, porque a análise é o “x” da questão. Tire vinte e poucos minutos do seu dia para ouvir e refletir. Tire vinte e poucos minutos do seu dia para apreciar o “TCC da Mahmundi”, como ela mesma o simbolizou. E, principalmente, tire vinte e poucos minutos do seu dia para internalizar e externalizar o mantra de “Convívio”: ‘Eu me conheço mais/Olhando pra você eu vou/Descobrindo quem eu sou’ e assim, quem sabe, o novo mundo realmente virá.

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Bárbarah Alves
You! Me! Dancing!

Letras/Audiovisual (UFRN); Bolsista na Rádio Universitária de Natal (88.9 FM); Escritora em @youmedancing;