MAN ON MAN — Provincetown

Segundo álbum da dupla aposta em seu melhor lado e surpreende novamente

André Salles
You! Me! Dancing!
3 min readAug 3, 2023

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Provincetown

MAN ON MAN

Ouça: “Showgirls”, “Take It from Me”, “Kids”, “Hush” e “Feelings”
Nota: 9.2
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Em 2021, no auge da pandemia, o casal composto por Roddy Bottum e Joey Holman lançou seu primeiro álbum como MAN ON MAN — escrito e produzido em isolamento em seu próprio apartamento. Apesar dos fortes tons sexuais de seus primeiros singles, o álbum acabou se revelando um dos mais delicados e sutis retratos da vida íntima de um casal explorando afeto, cumplicidade e, sim, sexo.

Por um tempo, não saberíamos ao certo se o MOM continuaria existindo ou se teríamos apenas um único (e excelente) álbum sob esse nome. Até que no começo desse ano veio a notícia de um segundo trabalho e um novo single: “Showgirls”. Música que me deixou animado logo na primeira ouvida, pois mostrava o MOM apostando no lado mais stoner rock de seu debut que funcionou tão bem dois anos atrás.

Provincetown chegou e com ele mais uma ótima surpresa: o álbum todo segue fazendo uso do stoner rock como principal layout. Não existem baladas suaves no piano como vimos no debut, todo o disco dessa vez está baseado fortemente nas guitarras até em seus momentos mais calmos. O resultado é simplesmente maravilhoso, trazendo a coesão que faltava em seu debut.

Nomeado a partir da cidade de Provincetown no estado americano de Massachusetts, um lugar onde ser e viver dentro da comunidade queer sempre foi muito natural, seu segundo álbum soa como um sopro de ar fresco tanto no indie rock quanto na música queer. Ao longo das faixas, a dupla parece um pouco mais madura em suas letras — os tons sexuais ainda existem, mas em menor intensidade do que antes. Isso abre caminho para letras e composições mais amplas e complexas, lidando com temas às vezes complicados e difíceis com a mesma delicadeza e sutileza encontrada no passado.

O segundo disco do MOM soa como uma celebração da vida queer masculina mundana e cotidiana. Isso vai desde, obviamente, sexo sem tabus (“Gloryhole”) até a expressão sincera de seus próprios sentimentos, positivos ou não (“Feelings”). Um dos mais interessantes destaques fica com a faixa “Kids”, na qual a dupla faz um apelo para as gerações queer passadas se atentarem ao que está acontecendo hoje com a comunidade. ‘Take a minute to get with the pronouns, take a minute to listen to kids’, Bottum canta no auge de seus sessenta anos de idade mostrando que ninguém é velho demais para se atentar às crises atuais da comunidade. ‘Cause the grown ups are kind of a let down, in a minute you’ll be happy you did’, ele conclui no refrão.

Provincetown consegue ser um álbum que aposta do começo ao fim em tudo o que deu tão certo no debut e faz isso com absoluta perfeição. As dinâmicas e química existentes entre os dois homens enquanto dividem os vocais e as guitarras continuam tão naturais que o disco soa quase como uma invasão de privacidade. Isso continua sendo verdade até mesmo em “Hush”, faixa que encerra o álbum e traz pela primeira vez uma participação creditada de outra pessoa: ninguém menos do que o lendário J Mascis (Dinosaur Jr.) em um excepcional solo de guitarra.

A dupla faz uma música intrinsecamente queer e isso por fim parece estar sendo valorizado dentro do indie rock atual, com atos como boygenius e MUNA recebendo o destaque que sempre mereceram. Provincetown chegou para firmar o MAN ON MAN exatamente nesse mesmo patamar de originalidade queer sempre tão necessária e relevante até hoje.

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