Miles Kane — One Man Band

O contagiante álbum do puppet Miles Kane

Larissa Mendes
You! Me! Dancing!
3 min readSep 6, 2023

--

One Man Band

Miles Kane

Ouça: “Troubled Son”, “Heartbreaks (The New Sensation)”, “The Wonder”, “Baggio”, “Doubles” e “Scared Of Love”
Nota: 8.0
Stream

A voz grudenta e sexy, a pinta de bad boy fashion, o invejável currículo de namoradas top models (incluindo aqui a musa Suki Waterhouse), a amizade com Alex Turner, algumas polêmicas, como o caso de assédio sexual envolvendo uma jornalista da revista Spin, em 2016 — e claro, todo seu talento musical— fazem de Miles Kane uma figura pra lá de intrigante. Ainda assim, o ex-vocalista do The Rascals talvez seja mais conhecido do grande público pela dupla caliente que forma com o front man do Arctic Monkeys no bem sucedido projeto The Last Shadow Puppets, que já rendeu os excelentes álbuns The Age Of The Understatement (2008) e Everything You’ve Come To Expect (2016).

Gravado em Liverpool, município vizinho de sua terra natal Birkenhead e lançado no início de agosto, One Man Band (2023) é o quinto álbum solo do músico inglês e provavelmente seu trabalho mais intimista. Na obra, Kane retorna ao indie rock raiz, cheio de guitarras rasgadas e pitadas de soul music. As 11 faixas (4 delas já divulgadas entre abril e julho) versam sobre autoconhecimento, amor, perdas, ganhos e afins.

Desafio você a não se animar logo de cara enquanto se arruma para o próximo “sextou” com a autobiográfica “Troubled Son”, onde um encrenqueiro Kane narra suas peripécias ou ainda com o refrão de “Heartbreaks (The New Sensation)”. O mesmo vale para o hino “Heal”, para a lúdico-dançante “Doubles” (só eu acho que ela tem uma aura de Bruno Mars?) e para a psicodélica “The Wonder” — single lançado em junho — que tem videoclipe estrelado pela modelo/atriz Didi Soydan (e como diria Tim Maia, aborda aquela “paixão antiga [que] sempre mexe com a gente”).

A divertida “Baggio” é uma homenagem ao craque de futebol italiano Roberto Baggio, atleta famoso no imaginário popular brasileiro pelo pênalti desperdiçado na final da Copa do Mundo de 1994, que nos rendeu o inesquecível título de “É TETRAAA”. Kane exalta seu fascínio pelo icônico jogador da azurra quando criança e confessa que ele influenciou até mesmo seu interesse por moda. Se “One Man Band”—canção que nomeia o álbum — parece ter bebido da fonte glam de Brian Molko, o rock’n’roll clássico fica a cargo de “The Best Is Yet To Come” e de “Never Taking Me Alive”. As baladas, por sua vez, são (bem) representadas por “Ransom” e “Scared Of Love”, faixa que encerra o álbum e em certo momento lembra uma canção de Liam Gallagher.

Miles Kane vem construindo uma carreira ascendente e subindo um degrau a cada álbum lançado, vide Colour Of The Trap (2011), Don’t Forget Who You Are (2013) e Coup De Grace (2018), além de seu elogiado disco anterior — Change The Show (2022) — onde flertava com o soul dos anos 70. Apesar de uma certa sensação de déjà vu, de poucas novidades além do indie-pop britânico clássico e influências de Beatles, David Bowie, Oasis e cia, One Man Band pode ser considerado um álbum consistente e com vários hits em potencial. É definitivamente um disco contagiante como um after sem hora pra voltar pra casa. Enjoy.

--

--