Miley Cyrus — Plastic Hearts

A ex-estrela teen mergulha de cabeça no glam rock, synthpop e pop dos anos 80 e 70, ao mesmo tempo em que traz um olhar mais maduro para incursões e apostas antigas de sua carreira

Felipe Gomes
You! Me! Dancing!
3 min readDec 7, 2020

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Plastic Hearts

Miley Cyrus

Lançamento: 27/Nov/2020
Ouça: “Angels Like You”, “Midnight Sky”, “Prisoner” e “Never Be Me”
Nota: 7.5
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Miley Cyrus e o rock não é necessariamente uma novidade, um cover ali e uma participação acolá já mostravam o apreço da ex-estrela teen pelo gênero, mas em Plastic Hearts, seu novo disco, a cantora tira de vez a roqueira do armário e entrega o mais consistente álbum de sua carreira. O trabalho segue a tendência retrô que dominou a indústria da música em 2020, mas diferente de outros álbuns que flertam com a disco music e o house music dos anos 90, o foco da artista está entre os riffes de guitarra, o baixo presente e os sintetizadores marcantes que fizeram o rock nos anos 70 e 80.

Em 15 faixas, Miley vai do glam rock ao synthpop, passando pelas sua origens country e covers inspirados. Os vocais de Cyrus dão um brilho especial ao trabalho. A voz rouca e os constantes drives, alternam momentos de agressividade e muita atitude, com outros mais suaves e de extrema vulnerabilidade. Moldado por inúmeros vazamentos, constantes adiamentos e um divórcio, Plastic Hearts é versátil ao mesmo tempo em que é coeso. Meu palpite é que isso é possível porque, embora o álbum tenha uma identidade apoiada no rock, ele passeia e amarra diversas pontas soltas da carreira de Cyrus.

Quem foi adolescente em meados dos anos 2000 e impactado pelo fenômeno Hanna Montanna, como eu, certamente vai reconhecer uma semelhança dessa fase com faixas como “WTF Do I Know” e “Hate Me”. É claro, com letras mais adultas e uma produção mais atual. Já “High”, lembra a sonoridade do álbum Younger Now. Enquanto “Golden G String” nos leva ao estilo de composição do experimental Miley Cyrus and Her Dead Petz.

Ao trazer músicas que relembram diferentes fases de sua carreira dentro de um trabalho mais maduro e bem produzido, a artista cria uma assinatura bem pessoal e única para Plastic Hearts. A personalidade forte do trabalho, é percebida inclusive nas faixas que têm participações. Em “Prisioner”, Miley se junta a Dua Lipa para criar um hit radiofônico a lá The Runaways em que cada uma interpreta a sua forma. O mesmo podemos dizer das colaborações ilustres de Joan Jett e Billy Idol, responsáveis pelas faixas que trazem a atitude rock propriamente dita para o álbum.

Enquanto, “Midnight Sky” segue sendo a melhor música do disco, as baladas fazem um contraponto interessante. Mesmo sem inovar, trazem letras extremamente pessoais e soam como uma homenagem a grandes sucessos dos anos 80/90 no gênero. Se fechar os olhos é bem possível imaginar “Never be Me”, por exemplo, como trilha do casal apaixonado de alguma comédia romântica ou filme catástrofe da época.

Conhecida pela justa e frequente crítica de ter uma discografia muito dissonante em si, Cyrus usa a tendência retrô para revisitar diferentes fases de sua carreira, agora mais madura artisticamente. Poderia mais, é verdade. Principalmente para quem esperava um álbum rock, o resultado ainda pode parecer muito teen e bem menos rock n’ roll e interessante que a própria Miley. Fica também a sensação de que a cantora ainda tenta se encontrar artisticamente. Mas diferente dos trabalhos anteriores, Plastic Hearts parece estar no caminho e não em meio a uma busca desenfreada.

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Felipe Gomes
You! Me! Dancing!

e tu acha mesmo que eu tenho esse poder de síntese todo pra me descrever em uma bio? 🤧