Nothing but Thieves — Moral Panic

Sem saber, Nothing but Thieves conseguiu traduzir perfeitamente o clima, a saúde mental e o ambiente de 2020 em seu terceiro álbum

jullie
You! Me! Dancing!
3 min readNov 6, 2020

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Moral Panic

Nothing but Thieves

Lançamento: 23/Out/2020
Ouça: “Is Everybody Going Crazy?”, “Can You Afford To Be An Individual?” e “Phobia”
Nota: 7.5
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Apesar de ter sido produzido um ano antes, o novo e terceiro álbum do Nothing but Thieves talvez seja o que melhor define 2020 e seus dias distópicos. Sem perder a sua típica energia, tanto no instrumental quanto nos vocais de Conor Manson, Moral Panic passeia entre sons mais etéreos e explosões sonoras que criam o clima de suspense perfeito para quem está com medo do futuro e não sabe mais se ele, enfim, existe.

Para criar um ambiente com esses dois universos antagônicos, do calmo e do impaciente, o grupo apostou ainda mais em sons sintéticos e contemplativos. Com tons melancólicos e uma calmaria ainda tímidos em Broken Machine (2012) e no EP What Did You Think When You Made Me This Way? (2018), as composições recorreram a melodias lentas e dramáticas, como em “Free If You Want It”, “Impossible” e “Before We Drift Away”.

Em um acordo entre esses universos está a faixa “Can You Afford To Be An Individual?”, perfeita união do já conhecido universo da banda e suas novas experimentações. Politizada, a faixa questiona autoritarismo, preconceitos e o poder destrutivo da internet e redes sociais. Seguindo a mesma linha de composição, a faixa-título “Moral Panic” não poderia ser mais apocalíptica, começando com a frase “esse é o último dia da minha vida, e o seu também”.

Mas, para a banda, os sentimentos profundos em relação à moral, a cultura do cancelamento e sociedade precisam de mais do que reflexão: às vezes, é preciso de energia sonora para colocar seu ponto, como em “Is Everybody Going Crazy?” e “Undone”. Nestas, os britânicos aludem mais seus álbuns anteriores com os poderosos vocais de Manson e muita intensidade de todos os instrumentos.

Com personalidade singular e sem se encaixar num grupo definido, “Phobia”, apesar de acabar nas guitarras reverberadas e na explosão vocal de Manson, é uma faixa, que, como um todo, remonta ao new wave dos anos 80, com referência sonora que lembra um Eurythmics mais contemporâneo. “Real Love Song”, primeiro single e videoclipe do álbum, é uma música de amor e anti-amor ao mesmo tempo, com composição que deixa a desejar por se encaixar num perfil música-de-festival, que nunca foi muito a personalidade do grupo inglês.

Apesar de um longo processo de composição, Moral Panic está longe de ser um álbum conciso. Este é o momento e trabalho em que Nothing but Thieves testa novos sons, com uma abordagem mais reflexiva e calma, sem abrir mão dos picos enérgicos que o consagrou. Nesta fase de paradoxo, o novo som do grupo indica a possibilidade de que, em seus próximos trabalhos, algo mude definitivamente, assim como o mundo pós-2020.

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