Olivia Rodrigo — GUTS

O amadurecimento criativo de Olivia Rodrigo em seu segundo álbum

André Salles
You! Me! Dancing!
4 min readSep 27, 2023

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GUTS

Olivia Rodrigo

Ouça: “bad idea right?”, “vampire”, “get him back!”, “lacy” e “teenage dream” (e “obsessed”)
Nota: 8.3
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Após um sucesso estrondoso com seu primeiro álbum SOUR e seu “drivers license”, a jovem cantora e compositora americana Olivia Rodrigo retorna com seu tão aguardado segundo disco completo GUTS. E que disco! SOUR se mostrou um debut bastante razoável e acima da média do pop, misturando elementos de indie rock e pop punk ao lado de belas baladas no piano. Em seu novo trabalho, Olivia surpreende ao elevar tudo o que funcionou em SOUR ao máximo.

Em GUTS vemos uma Olivia mais madura e criativa, fazendo um disco que soa como uma colagem de, basicamente, tudo. GUTS pode ser visto como uma continuação de SOUR, como podemos observar até mesmo pela paleta de cores e foto da capa, mas dessa vez muito mais focado nos elementos que deram certo. Ao longo das doze faixas que compõem o álbum, Olivia passa pelos mais diversos climas e humores explorando sua sonoridade e adicionando mais e mais coisas em suas composições.

Novamente produzido por Dan Nigro, aqui Olivia expande sua temática — que foi o grande ponto negativo de SOUR. Seu debut foi um álbum sobre um término complicado e conturbado, e pecava em se focar apenas nisso. Agora Olivia trata de temas complexos e complicados como saúde mental, inveja, autorreflexão, tomar péssimas decisões e saber disso; e também de relacionamentos.

Sua sonoridade em GUTS é a definição mais precisa de ‘caos organizado’; soando como uma grande colagem de influências e referências. Ao escutar seu segundo trabalho, é possível reconhecer as dinâmicas de nomes como Charli XCX em Sucker, Phoebe Bridgers, Lorde, The Offspring e a trilha sonora de 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você sendo revisitadas por Olivia. Existe esse sentimento de fim dos anos 90/começo dos 2000 nas composições apresentadas aqui, mostrando que Olivia realmente conhece seu indie rock e que quando tocou “Seether” do Veruca Salt ela sabia exatamente o que estava fazendo.

As letras em GUTS também se mostram muito mais maduras e bem escritas do que antes, trazendo um senso de humor e visão únicas. Temos a divertidíssima (e o maior ponto alto do disco) “bad idea right?” na qual Olivia tenta se convencer de que uma recaída com um ex não é algo tão ruim assim; e também a estranha dinâmica de vingança/desejo de reatar explorada de forma tão original e peculiar em “get him back!”. Quando ela encerra “ballad of a homeschooled girl” literalmente cantando ‘can’t think of a third line, la la la la’ é simplesmente mágica.

Nas baladas, vemos Olivia refletindo sobre a própria fama e o fato de tomar decisões erradas esbanjando vulnerabilidade e sensibilidade. Em “lacy”, a melhor balada do álbum, Olivia canta sobre admiração e decepção em relação a uma outra mulher, tendo um tom quase homoerótico e romântico.

Esses sentimentos conflitantes sendo aglutinados na mesma canção é um tema recorrente ao longo do álbum, fazendo com que ele soe como um fluxo de consciência com a sinceridade de um diário. No entanto, mesmo com toda a criatividade e originalidade apresentadas por Olivia aqui, GUTS é um álbum que não consegue deixar de cair em clichês. Alguns funcionam muito bem, como “love is embarrassing” e “pretty isn’t pretty”; mas outros poderiam ser facilmente descartados e o resultado seria, provavelmente, um disco melhor ainda. “logical” é uma faixa que não acrescenta muito, nem em termos sonoros e nem em letra, soando como uma pausa brusca e desnecessária na construção do álbum.

E não posso deixar de mencionar a melhor música do trabalho todo: a faixa bônus “obsessed”, presente apenas em uma prensagem específica do disco em vinil. A decisão de não ter incluído “obsessed” no disco oficial é, provavelmente, o maior erro já cometido por Olivia em sua carreira até o momento. Na faixa, Olivia canta sobre sua obsessão com a ex-namorada de seu parceiro atual novamente em um tom quase homoerótico, incluindo o verso ‘If I told you how much I think about her, you’d think I was in love’. “obsessed” é uma explosão do começo ao fim sendo o mais próximo que Olivia já chegou de fazer uma música realmente punk. Como essa faixa não faz parte oficialmente de GUTS é algo nunca vai entrar na minha cabeça.

Olivia Rodrigo fez um álbum realmente excepcional em GUTS, mostrando que todo o seu sucesso não foi sorte e que ela está se tornando uma cantora e compositora de respeito. Explorando vulnerabilidade e trazendo um senso de humor maravilhoso, GUTS soa quase como uma redenção. É admirável perceber o quanto Olivia cresceu e amadureceu em tão pouco tempo, sendo capaz de superar as altas expectativas em torno de seu segundo disco de uma forma criativa e inusitada. E ela tem apenas vinte anos, com toda uma vida e carreira pela frente — que com certeza ainda surpreenderá mais e mais.

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