Os Melhores de 2019 — Editor (André)

os melhores discos lançados em 2019 na opinião do editor André Salles

André Salles
You! Me! Dancing!
8 min readDec 24, 2019

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10 Mannequin Pussy — Patience

O quarteto punk Mannequin Pussy lançou, em junho desse ano, seu terceiro álbum completo, o maravilhoso Patience, no qual aglutinam tudo o que mostraram em seus lançamentos anteriores e entregam algo poderoso, rápido, vulnerável e extremamente bem planejado. Suas letras subvertem padrões de gênero o tempo todo, inclusive sobre o que é ser uma ‘mulher forte’, e a faixa “Drunk II” é o maior exemplo disso. Um álbum puramente punk, pesado, que transita entre o indie rock e o metal no melhor estilo Screaming Females de ser, sem perder sua essência melódica, e não causa decepções. Patience é, com toda a certeza, o passo que faltava para que o Mannequin Pussy tivesse finalmente o reconhecimento que sempre mereceu.

OUÇA: “Drunk II”, “Who You Are”, “Cream” e “In Love Again”

09 Raça — Saúde

O quinteto Raça lançou, também, seu terceiro álbum, Saúde, e o primeiro pelo já lendário selo paulistano Balaclava. Em Saúde, os meninos não têm medo de explorar o lado mais sensível do que já apresentaram antes (principalmente no ótimo Saboroso de 2016), e apostam em uma fórmula que traz o seu indie rock hardcore a níveis muito mais acessíveis do que antes. E fazem isso de uma forma bastante orgânica e real, com letras que lidam com o cotidiano — desde possíveis problemas com o casamento até boletos vencendo. A banda também traz vocais convidados da maravilhosa BRVNKS na faixa “Bandidos E Divas”, com certeza o ponto central do álbum. O Raça pode já ser considerado uma banda veterana com anos de estrada, mas foi aqui em Saúde que eles provaram que merecem sim a sua atenção.

OUÇA: “Bandidos E Divas”, “Casei”, “Pouco Do Todo” e “Chama”

08 BRVNKS — Morri De Raiva

A goiana Bruna Guimarães, ou BRVNKS, nos apresenta esse ano seu primeiro álbum completo e ele é exatamente o que esperávamos que fosse. Em minha resenha de Morri De Raiva, comentei que o ponto mais fraco do disco era que a maior parte das músicas já eram conhecidas pelo seu público quando o álbum finalmente saiu. E, apesar de isso ainda ser verdade, é um fato que não impede em nada de que nós ouvintes possamos apreciar seu disco. Ao longo de curtos 34 minutos, BRVNKS mostra uma gama invejável de variedades para o seu som rock de garagem. O álbum é tão bom que mal dá pra perceber que em tão pouco tempo ela fala sobre luto, amizade, crushes mal sucedidos e problemas do dia a dia. Em Morri De Raiva, BRVNKS mostra que todo o potencial apresentado por ela anteriormente em EPs e singles não foi em vão e nos deixa querendo mais.

OUÇA: “Tired”, “Tristinha”, “Your Mom Goes To College” e “I Hate All Of You”

07 Lizzo — Cuz I Love You

Lizzo abre seu terceiro disco com um grito gutural e desesperado ‘I’m crying cuz I love you’ e a partir daí não tem mais volta; a moça já te conquistou. Cuz I Love You é o momento que o mundo começou a prestar atenção na cantora, mesmo ela já tendo lançado material desde 2013, e isso é compreensível. Lizzo até então não havia entregado um álbum tão completo quanto Cuz I Love You. Aqui ela mistura todas as suas influências, que vão do hip hop ao gospel, do rock ao blues, do pop ao eletrônico, e faz tudo isso de uma forma absurdamente natural. Cuz I Love You é uma monstruosidade de um álbum, divertido do começo ao fim e extremamente bem produzido. Foi aqui que Lizzo mostrou todo o seu potencial e, agora, daqui pra frente, com certeza, o céu é o limite para a moça.

OUÇA: “Cuz I Love You”, “Jerome”, “Like A Girl”, “Juice”, “Truth Hurts” e “Better In Color”

06 Taylor Swift — Lover

Lover, sétimo álbum de estúdio da cantora americana Taylor Swift, chega desafiando e contrapondo tudo o que a própria havia feito em reputation. Após alguns anos conturbados em sua vida, Taylor retorna em sua melhor forma e prova, mais uma vez, que todas as polêmicas e controvérsias envolvendo sua vida pessoal não significam absolutamente nada por um único motivo: a música. Em Lover, Swift finalmente casa de forma harmoniosa e perfeita suas produções anteriores; especialmente 1989 e, sua obra prima, Red. Ao longo de 18 faixas, das quais várias poderiam ser facilmente descartadas (como em qualquer álbum da moça), ela mostra que continua sendo uma força da natureza em suas composições dentro do mundo pop (“Cornelia Street” e “The Archer”, gente). Taylor Swift voltou e lançou em Lover um álbum como não havia lançado em muitos anos, provando mais uma vez que ela não está aqui pra brincadeira e, sim, para ser levada a sério.

OUÇA: “Lover”, “Cornelia Street”, “The Archer”, “Daylight”, “Cruel Summer”, “Death By A Thousand Cuts” e “Paper Rings”

05 Apeles — Crux

Crux é o segundo disco de Eduardo Praça sob a alcunha Apeles, após a dissolução do Quarto Negro. E Crux é, também, nada menos que o lar da melhor música lançada por qualquer pessoa esse ano: “A Alegria Dos Dias Dorme No Calor Dos Teus Braços”. Crux continua de onde Rio Do Tempo tinha parado, entregando um disco denso e leve ao mesmo tempo. Sob várias camadas de instrumentos e distorções, os vocais de Eduardo estão mais confiantes do que nunca e suas composições muito mais interessantes. Mesmo sendo um pouquinho menos acessível do que Rio Do Tempo foi, Crux se mostra um passo certíssimo para Eduardo, e quem mais ganha com isso somos nós.

OUÇA: “A Alegria Dos Dias Dorme No Calor Dos Teus Braços”, “Reflexo Turvo”, “Pele”, “Deságua” e “Rebeca”

04 CHAI — Punk

O quarteto pop punk CHAI, de Nagoya, Japão, nos presenteou esse ano com seu segundo trabalho completo, Punk. Álbum que justapõe as mais diversas influências das meninas e resulta em um disco diferente de tudo e bastante divertido. Oscilando entre o japonês e o inglês, entre o pop e o punk, o CHAI entrega um álbum surpreendente. Seu instrumental é de uma constante experimentação, adicionando sempre elementos e distorções novas a cada segundo, sempre com uma energia altíssima. CHAI entregou em seu segundo disco uma crescente explosão de originalidade, com toda a certeza o álbum mais interessante do ano.

OUÇA: “Fashionista”, “Choose Go!”, “This Is CHAI”, “Family Member” e “I’m Me”

03 Charly Bliss — Young Enough

Charly Bliss é um caso de amor. Sabe quando conhece alguém e o santo bate de tal forma que em pouquíssimo tempo já tão até rezando missa? Essa é e sempre foi a minha relação com a banda de Nova York, que lançou esse ano a maravilha que é Young Enough. Desde seu debut Guppy, com sua mistura de indie pop e grunge, o Charly Bliss já tinha um espaço garantido em meu coração e agora ele só cresceu mais ainda. Young Enough limpou um pouco o som de Guppy e adicionou elementos, como uns teclados e sintetizadores aqui e ali e esse som cristalino combinou demais com a banda. Aqui, em contraste com o som, os temas retratados nas letras são bem mais densos e pesados que no debut e a voz quase infantil de Eva Hendricks brilha a cada segundo. Young Enough mostra uma banda muito mais madura e competente do que antes. Daqui pra frente sua carreira é uma caixinha de surpresas, mas com certeza serão surpresas boas.

OUÇA: “Young Enough”, “Capacity”, “Under You”, “Hard To Believe”, “Camera” e “Hurt Me”

02 Sleater-Kinney — The Center Won’t Hold

O segundo álbum pós um hiato de dez anos do Sleater-Kinney é um que já chegou rodeado de controvérsias. Pouco mais de um mês antes do seu lançamento, a baterista Janet Weiss anunciou a saída da banda depois de vinte anos e resultou em especulações. Quando The Center Won’t Hold finalmente chegou, entre os rumores, a música apresentada pelo trio-agora-duo quase ficou em segundo plano. E isso é bastante injusto com o disco. The Center Won’t Hold é um álbum diferente de tudo que o S-K já havia feito antes, ao mesmo tempo muito mais pop e muito mais experimental do que qualquer outro presente em sua estelar discografia. The Center Won’t Hold mostra uma banda que não tem medo de tentar coisas novas e se manter interessante mesmo depois de quase trinta anos de carreira. Mostra uma banda que ainda está, assim como sempre esteve, em contato com as suas raízes no movimento Riot Grrrl, mas que agora sabem quando precisam deixar um pouquinho a militância e a política de lado para apenas aproveitarem um pouco a vida e a jornada que as trouxe até aqui. Mostra uma banda que, apesar de tudo, continua fazendo jus à seu legado, ao invés de se apoiar nele.

OUÇA: “LOVE”, “Hurry On Home”, “The Center Won’t Hold”, “The Dog/The Body”, “The Future Is Here” e “Bad Dance”

01 Carly Rae Jepsen — Dedicated

O tão aguardado álbum da Carly Rae Jepsen, após ter mudado completamente o jogo e a cena pop com Emotion em 2015, chega aos nossos ouvidos agora em 2019. As expectativas eram altíssimas e ele não decepciona em absolutamente nada. Dedicated mostra um pop orgânico e muito mais coeso do que Emotion foi, trazendo uma Carly bastante vulnerável e aberta (“Too Much”). Aqui, mesmo se tratando de um álbum pop, as faixas que servem pra inundar uma pista de dança na balada LGBT mais próxima são relativamente poucas. Carly realmente aposta no pop introspectivo, feito para ser ouvido sozinho em seu próprio quarto ou de fones de ouvido no metrô indo para o trabalho. É um álbum delicado, emocional e bastante pessoal. Dedicated é um álbum pop quase experimental em alguns momentos, como em “For Sure”, em que várias e várias camadas vão se sobrepondo enquanto Carly canta apenas ‘I’ve been thinking we were over; I’ve been thinking, got to know for sure’ resultando em uma faixa que simplesmente não cabe em um álbum pop convencional. Em seu quarto álbum, Carly deixa sua reputação “Call Me Maybe” um pouquinho de lado e foca no que sabe fazer de melhor: música pop sincera e extremamente bem feita.

OUÇA: “Too Much”, “Now That I Found You”, “Party For One”, “For Sure”, “The Sound”, “Want You In My Room” e “Automatically In Love”

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