Os Melhores de 2019 — Editor (Henrique)

os melhores discos lançados em 2019 na opinião do editor Henrique Amorim

Henrique Amorim
You! Me! Dancing!
8 min readDec 26, 2019

--

10 Dona Onete — Rebujo

Ionete da Silveira Gama ou Dona Onete tem 80 anos e esse é, apenas, seu terceiro disco. Rebujo aparece na forma de um carimbó chamegado que representa muito bem o Pará e os ritmos do norte do Brasil. Esse registro é uma síntese dos sons e cores do país e um símbolo muito digno da nossa miscigenação. Longe dos grandes centros, Dona Onete faz, mais uma vez, história e continua de onde parou com Banzeiro, em 2016, com músicas que passeiam por diversas nuances, misturando diversos instrumentos. A poesia da jovem senhora mostra que ela ainda está na flor da idade e mostra um recorte social importante para entendermos o papel da música na alegria da sociedade. Rebujo é um disco importante para mostrar a cultura do Brasil para o restante do mundo e, mais ainda, para mostrar a cultura do Brasil para outros Brasis (sic).

OUÇA: “Mexe Mexe”, “Festa Do Tubarão” e “Carimbó Arrepiado”

09 Kaiser Chiefs — Duck

Doze anos (2007–2019) separam o último álbum digno de estar colocado em uma lista de melhores do ano do Kaiser Chiefs de Duck, sétimo álbum de estúdio dos britânicos, que os coloca novamente na minha parada de sucessos do ano. Se desde Yours Truly… eles não entregavam algo tão interessante, em Duck eles parecem sair do profundo sono e resgatam elementos do indie rock que os fez estourar em 2005. Fato é que, mesmo assim, o Kaiser Chiefs não deixa esse registro soar datado e nostálgico, entregando algo clássico, mas novo e com um ar bastante fresco, mostrando a banda de uma maneira versátil, mas confortável em sua melodia característica, tornando-o um dos discos mais essenciais do ano.

OUÇA: “People Know How To Love One Another”, “Record Collection”, “Northern Holiday” e “Kurt vs. Frasier (The Battle For Seattle)”

08 Jade Bird — Jade Bird

A britânica que soa o mais estadunidense impossível nos traz uma das pérolas do folk moderno agora em 2019. Jade Bird impressiona com seu vozeirão e o seu poder em trabalhar com um único violão bem colocado ou um único piano bem dedilhado e pouquíssimas interferências de outros instrumentos (um pouco de bateria pra dar o compasso em algumas faixas, por exemplo). A moça trabalha muito bem com sua voz e seu instrumento a tira colo, que faz sua voz brilhar ainda mais, ao longo das doze faixas do seu incrível primeiro álbum. Jade tem apenas 22 anos e entrega uma performance digna de qualquer grande nome da música contemporânea, trazendo letras poéticas em cima de harmonias brilhantes, construindo um primeiro álbum de maneira enfática, direta e muito bem feita.

OUÇA: “Lottery”, “Side Effects”, “Uh Huh” e “Good At It”

07 Vagabon — Vagabon

Direto do Camarões, Laetitia Tamko (ou Vagabon) traz um dos discos mais poderosos de 2019, mostrando uma força extraordinária ao dar uma voz poderosa e sonora a diversas mulheres diferentes que se encontram numa só: ela mesma. O segundo disco da cantora e multi-instrumentista a coloca num patamar de referência, numa entoada de resistência negra e feminina. Se em Infinite Worlds, de 2017, Laetitia explorava um indie rock mais sujo, aqui em Vagabon ela abdica dessas sonoridades e situa-se em outras referências, explorando melodias que deixam sua voz mais cristalina, mais presente, mais potente e, por quê não?, mais necessária. Esse segundo disco põe Vagabon frente ao seu tempo em um manifesto para dar voz para todas as mulheres que ela quer representar — ‘we’re not afraid of the war we brought on’.

OUÇA: “Full Moon In Gemini”, “Water Me Down” e “Every Woman”

06 Shura — forevher

Shura nunca fez questão de esconder sua sexualidade e sua não-religiosidade, mas aqui em forevher ela faz desses dois assuntos os seus pontos e alicerces principais para construir uma obra com as sonoridades e texturas das mais interessantes que o ano nos propôs, brincando com fatores que permeiam a sociedade contemporânea em que todos estamos inseridos, querendo ou não. Shura mostra um disco muito mais coeso e pensado do que o seu primeiro álbum, criando uma obra que conversa internamente o tempo todo, trazendo surpresas ótimas a todo tempo, mas sempre nos momentos mais necessários e propícios. forevher será (ou já é), sem dúvida, um marco na carreira da cantora que está apenas começando, mas mostra uma potência que começou a ser visitada e utilizada, mas ainda têm diversas cartas na manga para explorar.

OUÇA: “side effects”, “religion (u can lay your hands on me)”, “flyin’” e “forever”

05 Yeasayer — Erotic Reruns

O Yeasayer acabou e esse é o último disco do trio e o fato deles estarem na minha lista não tem nenhuma relação com esse término precoce, já que a) ela já estava feita antes do anúncio acontecer no dia 19 desse mês e b) Erotic Reruns é um dos discos mais interessantes que o Yeasayer entregou — junto com o Fragrant World e o Odd Blood. O quinto disco dos rapazes marca vozes em falsettos suaves e melodias que já corriqueiramente associamos à banda — aquele som que pode parecer estranho e peculiar, mas é muito agradável. A mão da banda parecia ter se perdido no disco anterior, de 2016, mas três anos depois eles guinaram de volta para o caminho que estavam caminhando naturalmente. Uma pena que eles tenham decidido terminar, sem muitas delongas e muitas despedidas, mas pelo menos recebemos esse presente de despedida, sem saber que era pra isso.

OUÇA: “People I Loved”, “Ecstatic Baby”, “I’ll Kiss You Tonight” e “24-Hour Hateful Live!”

04 Friendly Fires — Inflorescent

O que leva uma banda nos deixar órfãos de suas novidades e seus novos sons durante oito longos anos? Isso foi a crueldade que passou na cabeça do trio Friendly Fires entre Pala (2011) e Inflorescent (2019), mas a gente até que perdoa um pouco por eles estarem entregando essa obra tão inteligente e coesa, exatamente como esperávamos dos britânicos depois deles terem estourado lá em 2008. O terceiro disco traz músicas perfeitas para qualquer pista de dança do mundo — reflexo do primeiro álbum — , mas também traz alguns pontos para reflexão e apreciação — como em Pala. O mais notável é que, mesmo com um intervalo tão grande, é interessante perceber o vigor e a força que o Friendly Fires ainda carrega dentro de si, mostrando letras apaixonadas, apaixonantes e melodias dançadas, dançantes.

OUÇA: “Can’t Wait Forever”, “Heaven Let Me In”, “Silhouettes” e “Love Like Waves”

03 Sigrid — Sucker Punch

É da gelada Noruega que vem uma das moças mais promissoras e interessantes da música pop atual. Com singles de sucesso permeando 2017 e 2018, demorou um pouco para que Sigrid colocasse todo seu talento na forma de um álbum, mas a gente até entende o porquê disso tudo ao ouvir esse compilado de músicas chicletes, com letras lúdicas e sinceras, que é o Sucker Punch, um dos meus álbuns do ano. Sigrid é uma maestra e uma mestra, brinca e desbrinca com melodias, letras, voz; faz da música seu jardim e floresce em músicas bem construídas que parecem não conversar entre si, de primeira olhada, mas resultam em um disco coeso e despretensioso. Um debut pop, quente e, a plenos pulmões, sonoro.

OUÇA: “Sucker Punch”, “Mine Right Now”, “Strangers”, “Don’t Feel Like Crying” e “Don’t Kill My Vibe”

02 Self Esteem — Compliments Please

O Slow Club é uma das minhas bandas favoritas, mas eles, o duo, acabaram e parece que não foi tão amigável assim essa separação — Rebecca Taylor, ou Self Esteem, estava completamente infeliz com o rumo da banda depois de cinco álbuns juntos. Charles partiu para Now That I’m A River em 2018 e Self Esteem traz à tona Compliments Please, 2019. Sabe aquele disco que você precisava e não sabia que precisava? Esse é todo o sentimento que o primeiro álbum solo de Taylor põe à mesa. Compliments Please é um manifesto feminista do começo ao fim, com garotas mostrando que, sim, têm voz e devem se portar como querem e devem ser felizes — em suas relações, em suas paixões, em seus trabalhos. Self Esteem lança um dos discos mais interessantes do ano e, apesar de longo para os dias de hoje, soa fresco e dinâmico, com Rebecca chegando de volta ao seu conforto, finalmente.

OUÇA: “The Best”, “Steady I Stand”, “Girl Crush”, “Monster” e “Actors”

01 Julia Jacklin — Crushing

Crushing é doce. Julia Jacklin aparece nua, crua e visceral em seu segundo disco de estúdio. Depois de bater na trave, mas mesmo assim trazer músicas espetaculares em seu primeiro álbum, Jacklin, Austrália, trouxe logo no começo do ano algo arrebatadoramente simples, mas intricado, bem feito e sonoramente gigante. Versando sobre relações familiares, relações amorosas, relações intrapessoais, Julia parece que vai criar um melodrama gigantesco, mas o entrega sem soar melodramática, com um toque de leveza bastante sutil provocado pela voz da moça, que se encaixa muito bem nas sonoridades que nos oferece. É espetacular ouvir, em boa parte do disco, como as melodias crescem, constroem, explodem e dançam de maneira dramática, aflorando sentimentos potentes em cima de um pano de fundo sonoro que entrelaça nessas letras fantásticas. Crushing é amargo.

OUÇA: “Body”, “Pressure To Party”, “Don’t Know How To Keep Loving You” e “You Were Right”

--

--