Os Melhores de 2019 — Escritores

os melhores discos lançados em 2019 de acordo com a nossa equipe de colaboradores

Henrique Amorim
You! Me! Dancing!
7 min readDec 23, 2019

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10 Big Thief — Two Hands

Os nova-iorquinos do Big Thief lançaram dois discos em 2019: U.F.O.F. e Two Hands. Os álbuns, apesar de não serem tidos como parte I e II, por não haver ordem ou a necessidade desse tipo de divisão, podem ser considerados irmãos. Enquanto U.F.O.F. dialoga com extraterrestres, Two Hands fala de nós — humanos — de forma lírica, quente e existencialista. Aqui o trabalho de Adrianne Lenker como compositora e como vocalista reluz: questionadora, ainda que suave; incendiária, ainda que delicada; esperançosa, ainda que embebida de tristeza. E, assim, a banda se consolida como uma das novas caras do rock alternativo [texto escrito por Bárbarah Alves].

OUÇA: “Forgotten Eyes”, “The Toy”, “Two Hands” e “Not”

09 Billie Eilish — When We All Fall Asleep, Where Do We Go?

Billie Eilish já era um sucesso musical no YouTube muito antes de seu debut. E é fácil ver o motivo, ela fala com a geração Z sobre os assuntos que são caros e fazem parte da realidade das pessoas nessa faixa etária. Mas seu primeiro álbum provou que sua genialidade vai muito além. Apesar de surfar na onda do trap, as faixas parecem dialogar tanto ou ainda mais com a tradição do jazz. Em suas estruturas e cadências. Unindo isso a uma persona pública que lembra a Fiona Apple dos anos 90, a jovem ganhou uma enorme gama de fãs mais velhos também. E parece estar destinada a uma carreira brilhante [texto escrito por Emannuel Gomes].

OUÇA: “bad guy”, “xanny” e “bury a friend”

08 FKA twigs — MAGDALENE

Em MAGDALENE, FKA twigs assume a figura de Maria Madalena para nos convidar a um mergulho em águas profundas e trazer reflexões preciosíssimas sobre decepções, términos e tragédias que afetam nossas vidas, mas também sobre o que resta de cada um após passarmos por esses momentos. A figura de Maria Madalena ganha novo sentido no álbum, pois, diferentemente das imagens comumente associadas à personagem ao longo da história, em MAGDALENE, Madalena é uma heroína capaz de curar a si mesma e aos outros e aparece como mulher forte que aprendeu a se regenerar após os traumas mais profundos da vida. Certamente um dos melhores álbuns do ano [texto escrito por Felipe Adão].

OUÇA: “home with you“, “cellophane“ e “mary magdalene”

07 Tyler, the Creator — IGOR

Ao contrário do que todo mundo diz, acho que o Tyler sempre teve esse álbum nele. Desde Bastard ele estrutura seus álbuns com uma narrativa, que podia ser extremamente imatura, mas estava lá, e fazia sua função. Entre a cacofonia das batidas e as letras de puro ódio, existia toda uma teatralidade esperando pra realizar seu potencial completo e em IGOR esse ciclo se fecha, contando uma história de amor simples, mas bem realizada. Expandem-se os synths de músicas antigas que tinham toques de neo-soul, dando dicas da sonoridade que ele ia seguir, e o que se forma é um álbum muito mais puxado pro R&B, com influência de nomes como Pharrell Williams e Kanye West — que inclusive ajudaram em faixas específicas do álbum — , sem perder todas as peculiaridades que constituem o trabalho do Tyler; ainda é bem esquisito pros padrões do gênero no qual ele se aventura, mas, ao contrário do caso de álbuns como Cherry Bomb, aqui ele sucede em todos os sentidos [texto escrito por Victor Silveira].

OUÇA: “New Magic Wand”, “Earfquake” e “Are We Still Friends?”

06 Bon Iver — i,i

É fato que desde sua estreia com o álbum For Emma, Forever Ago, Justin Vernon passa a se reinventar constantemente em seus novos projetos. Dito isto, não seria diferente em i,i. Com uma produção densa, o cantor norte-americano ainda está mais consciente de seu potencial vocal, elevando a experiência emocional do disco a um novo patamar. As novas ideias aplicadas aqui sintetizam uma obra memorável, sobre ansiedade, amor e autoconhecimento. i,i é visceral e culmina em um dos trabalhos mais bonitos e completos da trajetória de Bon Iver [texto escrito por Flávia Denise Paiva].

OUÇA: “iMi”, “Jelmore” e “Holyfields,”

05 O Terno — <atrás/além>

<atrás/além> é o disco da maturidade d’O Terno. Esqueça o tom lúdico, a ironia e o deboche que permeavam boa parte das canções dos discos anteriores. O trabalho deste ano soa bem mais como a continuidade do debut solo de Tim Bernardes, o introspectivo Recomeçar. <atrás/além> é recheado de sensibilidade e orquestrações, mas a evolução de Tim como intérprete e, principalmente, como letrista, é o grande trunfo da obra. Sem dúvidas, esse é o disco que embalará as decepções de muitos jovens adultos com as porradas que o mundo lhes acertará. A vida não deixa de nos acertar em cheio, mas sentir que um artista é capaz de expressar esses sentimentos em forma de letra e melodia, pode nos acalentar enquanto sobrevivemos à complicada entrada na vida adulta. É hora de enfrentar essa nova vida de cabeça erguida. E é exatamente isso que O Terno faz em forma música (vide “Eu Vou”), ao mesmo tempo que o coração ainda está transbordado de nostalgia (vide “E No Final”). E é exatamente isso que O Terno também faz na capa de <atrás/além>, com a audácia de colorir a capa do clássico disco branco dos Beatles. É exatamente com essa coragem que eles nos impulsionam a seguir, sem nunca perder a sensibilidade que nos acompanhou até aqui. Por todos esses motivos, <atrás/além> é um dos nossos discos do ano [texto escrito por Angelo Fadini].

OUÇA: “Pegando Leve”, “E No Final”, “Tudo Que Eu Não Fiz”, “Profundo/Superficial” e “Passado/Futuro”

04 Terno Rei — Violeta

Terno Rei apostou neste ano em um lançamento bem menos experimental que seus dois álbuns anteriores e conseguiu com isso uma popularidade enorme, ainda que muito restrita a cena metida a descoladinha apoiadora da vertente musical conhecida como rock triste. É difícil procurar nas 11 músicas alguma que seja ruim. Com letras que remetem ao niilismo dos grandes centros urbanos e melodias que pulam da melancolia à excitação, muitas vezes misturando os dois, Violeta é o grande lançamento nacional, não só de 2019, mas em mais de uma década [texto escrito por Lauriberto Pompeu].

OUÇA: “Solidão De Volta”, “Luzes De Natal”, “Dia Lindo”, “93” e “Yoko”

03 Vampire Weekend — Father Of The Bride

Moderno retrô — o multiculturalismo dos anos 90 continuam influenciando. Father Of The Bride, álbum realizado pelos estadunidenses do Vampire Weekend, é um misto de trilha sonora de comédia romântica com filme otimista da Sessão da Tarde. Mesmo com mazelas mundanas, Ezra e seus amigos garantem que, pelo menos no álbum, haja uma esperança, algo quase natalino. Guitarras divertidas, colagens sonoras, às vezes algo meio jazz, meio lounge. Em suma, um trabalho que soa como uma espécie de renovação. Perfeito para escutar comendo rabanada com seu cachorro enquanto os parentes se matam por política [texto escrito por Larissa Basilio].

OUÇA: “How Long?”, “Sunflower”, “Flower Moon” e “Jerusalem, New York, Berlin”

02 Lana Del Rey — Norman Fucking Rockwell!

A melancolia de Lana Del Rey não é uma novidade, mas em seu sexto álbum ela aparece de uma outra forma: uma forma bem mais intensa. Assim, longe de almejar um hit na rádio, Norman Fucking Rockwell! é a mais pura melancolia criativa de Lana Del Rey. Nesse registro, Lana apresenta suas novas criações narrativas e suas atmosferas sonoras, isto é, Norman Fucking Rockwell! nos apresenta uma Lana mais madura musicalmente e que usa sua melancolia para criar novas poesias, novas camadas e musicalizá-las. Enfim, Lana Del Rey nos entrega uma excelente produção, uma poesia sonora e melancólica — com várias referências — que prova muito bem que ela é uma excelente cantora/compositora e que Norman Fucking Rockwell! é um dos melhores álbuns do ano — e que mostra muito bem que Lana Del Rey só melhora e veio para ficar/surpreender quem ouve [texto escrito por Jenny Justino].

OUÇA: “Fuck It, I Love You”, “Love Song”, “The Greatest” e “hope is a dangerous thing for a woman like me to have — but i have it”

01 Angel Olsen — All Mirrors

O quarto disco da compositora estadunidense é, de longe, o seu trabalho mais ambicioso. Vindo na crescente do anterior My Woman (2016), aqui Angel deixa de vez o folk e o rock, repaginando o seu trabalho no universo do art pop. Para isso, investe pesado, tanto em sintetizadores, quanto em orquestrações. A mistura do orgânico com o digital funciona de modo arrebatador e as escolhas de arranjo tornam o disco um registro sonoramente mais grave. Mas tudo isso sempre com a visão pessoal sobre relacionamentos nas letras e o caráter melódico apurado, características marcantes na carreira de Angel [texto escrito por Giovanni Vellozo].

OUÇA: “Lark”, “What It Is” e “New Love Cassette”

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