Os Melhores de 2020 — Editor (Henrique)

os melhores discos lançados em 2020 na opinião do editor Henrique Amorim

Henrique Amorim
You! Me! Dancing!
7 min readDec 28, 2020

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10 Basia Bulat — Are You In Love?

Basia Bulat é uma estreante na minha biblioteca, mesmo já tendo lançado outros discos que eu não tinha conhecimento. A canadense me conquistou foi aqui mesmo com “Are You In Love?” cantada a plenos pulmões e abrindo o disco que leva mesmo nome. Vociferando sobre romances, garotas escolhidas e muito amor, Basia conquista uma audiência diferente dos seus outros discos, bebendo mais de um folk que brinca com o rock de vez em quando e trazendo músicas ferozes para corações ardidos e sofridos. Are You In Love? foi, definitivamente, uma das minhas melhores descobertas desse ano estranho.

OUÇA: “Are You In Love?”, “Your Girl” e “Love Is At The End Of The World”

09 Yelle — L’Ère Du Verseau

Yelle continua a boa fase em um disco cheio de sensualidade e sexualidade, como era de se esperar. L’Ère Du Verseau tem entregado visuais incríveis, com clipes que se apoiam fortemente na sutileza do sexy para trazer um pano de fundo para as letras criativas e originais do trio. Com o francês afiado e as batidas afinadas só poderíamos ter músicas incríveis aparecendo no quarto disco por aqui. O destaque fica por conta das metáforas que valem a pena a pesquisa no seu tradutor mais perto, caso não entenda o francês rápido de Juliet.

OUÇA: “Emancipense”, “Karaté”, “Vue D’en Face” e “Noir”

08 Dream Wife — So When You Gonna…

O trio Dream Wife lançou um disco bastante interessante lá em 2018, seu primeiro. Aqui no segundo elas pegam tudo de bom que há por lá e colocam um tempero a mais, entregando um disco punk que versa com o indie e com o pop de maneira pouco caótica, entregando um resultado polido e extremamente habilidoso. Músicas que falam, é claro, sobre a feminilidade de um dos power trios mais políticos da atualidade e que mostra que as mulheres é que mandam por aqui. So When You Gonna… é o resultado de melodias bem ensaiadas na guitarra, no baixo e na bateria amarradas com vozes diversificadas que garantem um disco divertido, mesmo que pautado em política e romance.

OUÇA: “Sports!”, “Hasta La Vista”, “Validation” e “Old Flame”

07 Jordan Mackampa — Foreigner

‘What am I supposed to do?’, Mackampa repete incessantemente numa das melhores faixas de seu disco de estreia, o magnífico Foreigner, que aparece timidamente nesse ano de 2020. O músico de origem congolesa entrega recortes fantásticos do que o soul tem de melhor, colocando-se como um expoente masculino nesse ritmo tão dominado por mulheres com vozes incríveis. Foreigner versa sobre romances, negritude e ancestralidades de uma maneira gigante, mostrando uma maturidade ímpar para o jovem Jordan que amarra tudo com sua voz habilmente doce.

OUÇA: “Magic”, “What Am I” e “Under”

06 Denai Moore — Modern Dread

A Denai Moore lançou o seu terceiro disco dentro da mesma timidez que os seus dois antecessores, mas isso não foi o suficiente para afastar o brilhantismo que Modern Dread entrega. Apoiada num R&B e num soul mais próximos de uma música dita mais popular, Denai traz o melhor disco da sua tenra carreira com referências ao afrofuturismo, com visuais incríveis acompanhando faixas com sonoridades metálicas bastante criativas. Moore parece ter dado um passo bem grande para a frente, abocanhando uma parcela de sonoridades novas para sua já ampla biblioteca de ritmos e sabores. Um dos discos mais necessários do ano.

OUÇA: “Fake Sorry”, “Cascades” e “Slate”

05 Laura Marling — Song For Our Daughter

A queridinha do folk britânico anunciou e lançou um álbum quase que de surpresa. Sem dar muitos detalhes nos meses antecedentes, Laura Marling colocou Song For Our Daughter na praça sem muito rebuliço em cima. Expectativas não foram criadas e foram superadas, é claro, com esse disco que tem tudo de mais honesto e gostoso que a cantora já tinha mostrado para o seu grande público. Letras inteligentes, pungentes e dolorosas como o bom sofredor que ouve Laura Marling gosta. Uma voz rascante, um violão meio doce no fundo e temos a fórmula mágica de Song For Our Daughter que já entra na discografia da cantora como um dos melhores discos que ela já lançou e isso não é pouco.

OUÇA: “Alexandra”, “Strange Girl”, “Blow By Blow” e “Hope We Meet Again”

04 Mystery Jets — A Billion Heartbeats

Um disco político e romântico. A Billion Heartbeats deveria ter aparecido, originalmente, em 2019. O Mystery Jets adiou o lançamento por conta das complicações com o líder da banda (e vocalista) Blaine Harris e, acho eu, fez bem. Abraçando as mazelas de 2020, tudo sem querer, com caos político mundial instaurado em cima de uma crise sanitária, os rapazes conseguem trazer um disco urgente e necessário, que retoma a boa fase da trinca que começou em Twenty One e foi interrompida pelo não-tão-bom Curve Of The Earth de 2016. Guitarras alarmantes, melodias clássicas e letras politizadas trazem o que de melhor o Mystery Jets consegue mostrar, fazendo este um dos discos que, provavelmente, não veremos em nenhuma lista, mas um dos mais interessantes do ano em diversas esferas.

OUÇA: “Petty Drone”, “A Billion Heartbeats” e “Wrong Side Of The Tracks”

03 of Montreal — UR FUN

O of Montreal é, talvez, uma das bandas mais prolíficas do mundo — perdendo pro Guided by Voices, é claro — e trouxe UR FUN bem no começo de 2020, logo depois do esquisito White Is Relic/Irrealis Mood (2018). Eu sou fã inveterado das letras engraçadas, da melodia divertida e da atmosfera caricata da banda liderada por Kevin Barnes que personifica Georgie Fruit em seus lançamentos desde o icônico Hissing Fauna, Are You The Destroyer? de 2007. Aqui, o alter ego do líder da banda, que está sempre mudando, finalmente se apaixona da melhor maneira possível (um paralelismo com a vida pessoal do cantor, claro) e versa sobre essas coisas num dos melhores álbuns da carreira da banda da Geórgia. UR FUN traz de volta as melodias, as letras e a boa fase do of Montreal depois de dez anos, com um dos melhores lançamentos do extenso catálogo da banda.

OUÇA: “Peace To All Freaks”, “Get God’s Attention By Being An Atheist”, “Don’t Let Me Die In America” e “St. Sebastian”

02 Boniface — Boniface

Apoiado na brincadeira com as identidades de gênero, Boniface traz em seu primeiro álbum um disco carregado de referências e sentimentos. Acompanho a carreira do canadense desde, provavelmente, seu primeiro single — lá no fantástico The Line of Best Fit — e fui arrebatado por sua primeira obra completa, contando com seus brilhantes singles já conhecidos e músicas novas tão boas quanto, Boniface marca o início sólido de uma carreira de um jovem talento, que tem tudo para entrar para o hall de grandes artistas contemporâneos com sua metalinguagem marcante, sua voz que beira a sedução e seu ritmo tocado ora em animação ora em sofreguidão. Baita responsabilidade equipará-lo aos artistas de nossa geração (Lorde, Laura Marling, Adele, etc.), mas o futuro parece ser brilhante, sim.

OUÇA: “I Will Not Return As A Tourist”, “Keeping Up”, “Dear Megan” e “Oh My God”

01 Fleet Foxes — Shore

É incrível o quanto o Fleet Foxes cresce a cada disco e, depois de pensarmos que não há espaço para se agigantarem ainda mais, eles entregam uma obra prima como esse quarto disco da banda, Shore. Lançado no meio da quarentena, com faixas reflexivas, ilustrando sentimentos, quiçá, esquecidos, o novo álbum dos rapazes traz uma magia incrível. O primeiro disco que se apoia em diversas colaborações cria uma quasi-orquestra em seu conteúdo majestoso e brilhante. Depois de lançarem o álbum-peça Crack-Up eu pensava que eles não conseguiriam se superar, mas conseguiram e Shore já foi direto para as pérolas que o ano nos reservou. Delicado, bem produzido, bem orquestrado e melancólico na medida certa, do jeitinho que nós gostamos.

OUÇA: “Jara”, “Maestranza”, “A Long Way Past The Past” e “Young Man’s Game”

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