Os Melhores de 2022 — Colaboradores

Os melhores álbuns lançados em 2022 de acordo com nosso time de colaboradores

Henrique Amorim
You! Me! Dancing!
8 min readDec 21, 2022

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09 Tim Bernardes — Mil Coisas Invisíveis

Após Recomeçar (2017), Tim Bernardes volta pro seu segundo disco mais leve e místico. Mil Coisas Invisíveis (Coala Records) é pautado em temas existenciais e autorreflexivos. Não é à toa, por exemplo, que o álbum se inicia com o single “Nascer, Viver, Morrer”. Se em seu álbum de estreia o compositor “Quis Mudar”, agora ele está de fato mudado: ciente de si, das suas marcas e cicatrizes, e do que quer ser no futuro. Em termos de som, Tim soa preciosista e orquestral. Brinca, como sempre, com a dinâmica nas canções; com o folk e o barroco; traz elementos como o violão de 12 cordas em faixas mais potentes como “Fases” e “Meus 26”, e o violão de nylon nas mais airadas e bossanovescas, como “Esse Ar”. Mil Coisas Invisíveis consagra Tim como um dos grandes compositores da atual música popular brasileira, não só por ter composto pra gigantes da MPB como Jards Macalé e a eterna Gal Costa, mas porque “que mexe, que emociona a gente” com seu retrato límpido de si e do mundo ao seu redor. [texto escrito por Bárbarah Alves].

OUÇA: “Nascer, Viver, Morrer”, “Meus 26” e “Realmente Lindo”

09 Fontaines D.C. — Skinty Fia

Skinty Fia já é o terceiro disco da banda de Dublin, mostrando uma carreira prolífica em questão de quatro-cinco anos. Mesmo que mostre uma tenacidade menos voraz que os seus parceiros anteriores, o post-punk revival que recheia esse registro segue delicioso. Mais introspectivo, refletindo em materiais mais sombrios e pessoais, Skinty Fia soa familiar deliberadamente. Música para cantar gritando e com a mãozinha no peito — ou apenas a trilha sonora para aqueles dias frios que não queremos falar com muita gente. A bateria e os vocais são marcantes e dão o tom por aqui, mas também vemos experimentalismos e novas nuances no som dos rapazes. Fato é que o Fontaines D.C. agracia mais um ano trazendo mais um disco brilhante da banda para nós [texto escrito por Henrique Amorim].

OUÇA: “Jackie Down The Line”, “In Ár Gcroíthe Go Deo” e “The Coupla Across The Way”

08 Beach House — Once Twice Melody

Lançado em fevereiro, o álbum duplo (dividido em quatro EPs) One Twice Melody (2022) do duo americano composto por Victoria Legrand e Alex Scally, é uma espécie de sequência do psicodélico 7 (2018). Após cinco discos e uma coletânea de B-sides, pela primeira vez um trabalho da dupla tem a produção assinada pelos próprios instrumentistas. Se a vocalista Victoria — neta do compositor francês Michel Legrand — e seu teclado têm a habilidade de se conectar com um espectro coletivo, Alex e suas guitarras dão textura e consistência ao som do grupo. Marcado pelo refino estético e melódico presente desde sua estreia com o homônimo Beach House (2006), as 18 faixas de One Twice Melody transitam com classe e maturidade por diversas camadas e nuances sonoras e arriscam aqui até um flerte com o pop, tornando a dupla mais acessível aos ouvidos menos eruditos. Música para dias nublados na beira do mar [texto escrito por Larissa Mendes].

OUÇA: “Superstar”, “Over and Over”, “Only You Know” e “Hurts to Love”

07 Weyes Blood — And In The Darkness, Hearts Aglow

Em 2022, a cantautora estadunidense Natalie Mering retornou com mais um sólido trabalho discográfico: And In The Darkness, Hearts Aglow, segunda parte de uma trilogia em andamento iniciada no aclamadíssimo Titanic Rising em 2019. A um só tempo um exercício calcado em estéticas do pop pretérito — notavelmente o Baroque Pop dos anos 1960 e 1970 — e um compilado de canções com elementos candentes do presente, o novo disco sob a alcunha de Weyes Blood surge não apenas como uma continuidade acertada, mas também ainda mais expansiva, com faixas mais longas e ainda mais ambiciosas nos arranjos e interpretações vocais. Marcado pelo zeitgeist agridoce pós-pandêmico, o trabalho evita resvalar na pieguice ao se encontrar na exata medida entre o lamento e o esperançar. Se o pior pode ainda estar por vir neste mundo, como Natalie canta ao final de “The Worst is Done”, ao menos no universo da gravação o resultado é reconfortante. [texto escrito por Giovanni Vellozo].

OUÇA: “Children of the Empire”, “Grapevine”, “God Turn Me Into a Flower”, “The Worst is Done”

06 Kendrick Lamar — Mr. Morale & The Big Steppers

Após 5 anos, Kendrick retorna com um álbum um tanto incisivo. Repleto de uma sonoridade eclética e teatralidade, o rapper nos entrega um álbum cheio de questões sobre as principais feridas da sociedade contemporânea. Lançado nos meados de maio, o álbum coloca-se entre um dos melhores do ano sem muitos contras. Para Lamar, a vida é sobre perspectivas, e aqui ele coloca as suas. Mr. Morale & Big Steppers é minucioso em sua produção, tudo escolhido a dedo de forma que nada passe despercebido. É genuíno, como toda a carreira de Kendrick Lamar se desenhou até o momento. [texto escrito por Gustavo Menezes].

OUÇA: “N95”, “Die Hard”, “Savior” e “Mother I Sober”

05 Harry Styles — Harry’s House

Dizem que a nossa casa é um reflexo de nós mesmos. Creio que para um cantor, um disco também seja uma espécie de espelho. Harry’s House — 3º álbum de estúdio do ex-One Direction — é gostosíssimo, assim como o próprio (independente do seu desejo, convenhamos). O trabalho foi produzido por Kid Harpoon e Tyler Johnson. Ambos já trabalharam com Harry em álbuns passados e são co-compositores de músicas como “Carolina”, “Watermelon Sugar” e “Adore You”. O cantor britânico juntamente com sua equipe, trabalha nesse cd referências oitentistas. Como é o caso de “As It Was”, um dos smash hits do ano. Mas também há espaço para o folk (“Matilda” e “Boyfriends”), para sopros (“Music For a Sushi Restaurant”) e para experimentações dance hall (“Cinema”). Além de letras mais introvertidas e apaixonadas [texto escrito por Bárbarah Alves].

OUÇA: “As It Was”, “Cinema” e “Satellite”

04 Beyoncé — RENAISSANCE

Uma coisa precisa ser dita: Beyoncé é incrível até mesmo quando o trabalho não é lá essas coisas. O que não é o caso de RENAISSANCE. O sétimo álbum da mais fodona dos EUA abraça o clubismo e põe todo mundo na pista de dança. Baseado na música negra dos anos 1970 — principalmente, a disco music e o house — , Beyoncé Giselle Knowles-Carter canta sobre a autoconfiança, a ostentação, o prazer e o escapismo. O trabalho é extremamente coeso e bem-costurado, algo já esperado da cantora. E funciona tanto para ouvir do começo ao fim (com belíssimas transições e samples — “ENERGY” / “BREAK MY SOUL”, por exemplo), quanto para ouvir faixas separadas. De preferência, com um som beeeeem alto. Em resumo, Beyoncé mostra em RENAISSANCE que sabe muito bem da sua posição de diva e pode se divertir com isso. Simplesmente, UNIQUE. [texto escrito por Bárbarah Alves].

OUÇA: “ALIEN SUPERSTAR”, “BREAK MY SOUL” e “VIRGO’S GROOVE”

03 Arctic Monkeys — The Car

Eleito pela revista Rolling Stone britânica como o melhor álbum do ano (antes mesmo do final de 2022!), o sétimo álbum do Arctic Monkeys ganhou a medalha de bronze entre nossos colaboradores. Lançado em outubro e bebendo da mesma fonte de seu sucessor de Tranquility Base Hotel & Casino (2019), o disco causou costumeira estranheza aos órfãos de AM (2013). O cinematográfico álbum de Alex Turner e sua trupe prima pelos violões e arranjos orquestrais — compostos pelo próprio Alex — e soa noir, sexy e romântico. The Car (2022) celebra os 20 anos de carreira da banda que se diz inspirada por discos de Lô Borges e fez uma turnê sul-americana em novembro, onde os fãs brasileiros puderam conferir ao vivo (e aqui me incluo) a execução primorosa de algumas das novas canções recém-lançadas [texto escrito por Larissa Mendes].

OUÇA: “There’d Better Be A Mirrorball”, “Hello You” e “Body Paint”

02 black midi — Hellfire

Hellfire é um daqueles álbuns que deixa uma marca — eu mesmo fiquei obcecado desde a primeira audição. E mesmo sem entender de teoria musical para apontar todas as regras e convenções que estão sendo quebradas, é perceptível que eles sabem muito bem como organizar o caos que há em suas músicas. Em seu terceiro disco, o black midi mostra mais uma vez seu apreço pela mistura de sonoridades contrastantes, acompanhada de um instrumental insano e vocais que nada deixam a desejar. Tudo acaba por fazer sentido e é uma viagem caótica e gostosa demais. Já aviso, no entanto, que a bagunça sonora dos britânicos pode não ser para qualquer um. Porém, quem decide se aventurar e acompanhar a jornada dos vários personagens que habitam o universo fantástico presente em Hellfire não se arrepende [texto escrito por Jennifer Baptista].

OUÇA: “Hellfire”, “Sugar/Tzu” e “The Race Is About to Begin”

01 Black Country, New Road — Ants From Up There

A surpresa foi tamanha quando descobri que Black Country, New Road lançaria seu sophomore em um curto período após o lançamento do debut da banda. Ainda me lembro como fiquei realmente impressionado com cada single; era quase alarmante a evolução da banda em um intervalo tão pequeno de tempo. Para alguns, não é um álbum tão fácil de se digerir a primeira vez, e muitos não conseguem se conectar com o que o álbum propõe, e isso faz parte da vida. Mas a qualidade de Ants from Up There é inegável, seja na sonoridade e nos vocais que só deixam tudo melhor. Ants from Up There é um daqueles álbuns que será cotado para melhores dessa década fácil, e para banda é uma faca de dois gumes, pois o sarrafo ficou muito alto. [texto escrito por Gustavo Menezes].

OUÇA: “Concorde”, “Snow Globe” e “Basketball Shoes”

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