Os Melhores de 2022 — Editor (Henrique)

os melhores discos lançados em 2022 na opinião do editor Henrique Amorim

Henrique Amorim
You! Me! Dancing!
7 min readDec 23, 2022

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10 Tulipa Ruiz — Habilidades Extraordinárias

Massageio a coluna na parte mais aguda de uma pedra molhada. É assim que Tulipa Ruiz começa o seu quinto registro de estúdio e só com esse verso sabemos que vem coisa muito boa por aí. Em Habilidades Extraordinárias, a caiçara coloca, em boas músicas, batidas mais próximas dos graves para trabalhar a seu favor, criando uma aura soturna para suas letras que são sempre ponto alto. A metamorfose que essa mulher consegue fazer de um disco para outro é garantia de nunca ficarmos enfadados do que ela apresenta — Tulipa é uma camaleoa que faz da sua atmosfera musical pano para sua teatralidade, poesia e versatilidade. Sem dúvida, segue sendo uma das referências da sua geração musical e mostra todo seu poderio por aqui.

OUÇA: “Samaúma”, “Acho Que Hoje Mesmo Eu Dou” e “Não Pira”

09 CMAT — If My Wife New I’d Be Dead

O primeiro disco da irlandesa CMAT (ou Clara Mary-Alice Thompson) é aquela pérola que você descobre por acaso e, desde ali, guarda com o maior carinho e apreço. Em um disco que mescla referências da música country dos Estados Unidos com um indie pop radiofônico, CMAT consegue capturar sua atenção falando sobre, é claro, muita autodepreciação e romances fracassados, como toda sofrência. E mesmo dentro dessas temáticas, é incrível o que a CMAT consegue fazer de uma maneira tão divertida com sua voz em cima dessa poesia que beira o nilismo. Um primeiro disco com essa força já mostra que ouviremos muito o nome dela no futuro.

OUÇA: “I Wanna Be A Cowboy, Baby!”, “No More Virgos”, “I Don’t Really Care For You” e “Communion”

08Hatchie — Giving The World Away

Hatchie acertou mais uma vez! Depois de um EP e disco de estreia incríveis lançados em 2018 e 2019, respectivamente, a australiana traz Giving The World Away, seu segundo álbum de estúdio e que chega recheado de músicas rápidas e precisas ao mesmo tempo que abre espaço para baladas mais calmas. Sem muita reverberação e neblina em sua voz, como víamos em Keepsake, e um pouco mais perto do indie pop, Hatchie consegue mostrar um caminho brilhante se abrindo para sua carreira com várias possibilidades para uma escavação mais profunda. Versatilidade é o verbete dos dias de hoje e Harriette consegue esbanjar isso muito bem nesse novo disco.

OUÇA: “Quicksand”, “This Enchanted”, “Lights On” e “Don’t Leave Me In The Rain”

07 Charlotte Adigéry — Topical Dancer (feat. Bolis Pupul)

Charlotte Adigéry tem suas raízes no caribe de colonização francesa; Bolis Pupul tem suas raízes na China; ambos se encontram na Bélgica, terra que efervesce culturalidade, idiomas, costumes e, é claro, uma pressão social. Em cima da premissa do pós-colonialismo, Adigéry e Pupul propõem um álbum para momentos de reflexão na pista mais próxima; enquanto Pupul tempera a brilhante voz e poesia de Adigéry com batidas surpreendentes, nos vemos acompanhando músicas em diversas línguas diferentes e com uma crítica social irônica e ácida deliciosa. Os questionamentos das mazelas da colonização forçada, vista até hoje, cabem muito bem no som do duo que entregam um primeiro álbum para marcar a história.

OUÇA: “Hey”, “Thank You”, “Blenda” e “Ceci N’est Pas Un Cliché”

06 Julia Jacklin — PRE PLEASURE

Depois dos fantásticos Don’t Let The Kids Win e Crushing, PRE PLEASURE chega para completar a primeira trinca de álbuns da australiana Julia Jacklin, entregando mais uma beleza nessa discografia ímpar. Jacklin consegue colocar dulçor ao falar sobre seu crescimento católico, mas também consegue colocar uma triste ironia ao falar sobre homens cinéfilos pretensiosos. Saindo um pouco da questão do amor romântico, bastante explorada no sofrido Crushing, Jacklin consegue entregar letras disruptivas e vertentes mais lúdicas por aqui, apresentando facetas inéditas em seu já vasto repertório. É incrível que alguém consiga abrir a boca e, sem muito esforço, soltar uma voz dessa preciosidade. É bom demais ser contemporâneo de Jacklin e vê-la crescer com tanto primor.

OUÇA: “Moviegoer”, “Lydia Wears A Cross” e “I Was Neon”

05 Bloc Party — Alpha Games

O Bloc Party já passou por tanta coisa nessa carreira que chegar ao sexto álbum de estúdio mantendo esse ritmo é uma enorme vitória. Alpha Games não entrega exatamente nada de muito novo na fórmula do post punk da banda e é por isso, talvez, que consegue sustentar-se muito bem em doze músicas que vão da rapidez característica de discos como Silent Alarm e Intimacy ao descompasso mais lento perto do A Weekend In The City. O Bloc Party tem uma discografia brilhante e invejável para as bandas da nossa pré-adolescência; e Alpha Games parece justamente conseguir fazer uma amalgama de tudo que eles já entregaram e mostrar que uma quasi-coletânea, que pode soar como uma colagem de bons momentos, tem seu poder para uma banda já consolidada.

OUÇA: “Rough Justice, “Day Drinker”, “Traps” e “If We Get Caught”

04 Confidence Man — Tilt

O duo Confidence Man é uma das coisas mais interessantes que a música contemporânea trouxe para o mundo. Em versos que ecoam o brilhantismo divertido que bandas como Cansei de Ser Sexy e Natalie Portman’s Shaved Head fizeram anteriormente, o Confidence Man também mostra a sua seriedade em suas batidas fortes e danças malucas. Depois de um disco de estreia delicioso, Tilt chega como uma continuação um pouco mais séria, mas sem perder esse toque jocoso-lúdico que eles trouxeram e que já é identitário. O que torna o Confidence Man diferenciado é esse conjunto de obra — que brinca, dança e pula — , entregando boa música num house muitissimo bem trabalhado.

OUÇA: “Woman”, “Toy Boy”, “Feels Like A Different Thing” e “Break It Bought It”

03 El Último Vecino — Juro Y Prometo

O El Último Vecino apareceu de maneira tímida na minha biblioteca quando eu estava querendo me conectar melhor com a língua espanhola. Numa espécie de The Drums mais abafado e soturno, fui conquistado de primeira pelos sintetizadores com um estranho sentimento de analógico associado. Juro Y Prometo é o terceiro disco de estúdio do espanhol Gerard Alegre e entrega suas músicas de uma maneira tão precisa, tão bem colocada, tão deliciosa que te deixa com vontade de apertar o play novamente assim que o rápido registro acaba. Versando sobre desilusões amorosas, solidão e deslumbramentos, Gerard consegue trazer um disco muito coeso e bem alimentado à vida de uma maneira que soa fácil e simples. Não tem como não se arrebatar pelos versos grudentos e pelas batidas contagiantes colocadas aqui.

OUÇA: “No Me Dejas”, “El Desastre” e “Mundo Mágico”

02 Yard Act — The Overload

O revival do post-punk, encabeçado por bandas como shame e Fontaines D.C., continua fazendo filhos por aí. O Yard Act, que apareceu no começo de 2021 com o primeiro EP Dark Days, é mais uma dessas bandas do eixo Reino Unido-Irlanda que entrega-se dentro desse ritmo, colocando muita energia dentro do caos político que acaba sendo essa música. Em The Overload, amarrados pelo cantar quase em spoken word do vocalista James Smith, o Yard Act entrega material com uma facilidade invejável. Críticas sociais também marcam esse primeiro trabalho cheio dos britânicos, de maneira divertidada e contagiante, mas não menos séria. Yard Act é daquelas bandas cheias de energia que não vai demorar para lançar mais material de boa qualidade — e agradecemos muito por isso.

OUÇA: “Pour Another”, “Rich” e “Witness (Can I Get A?)”

01 Wet Leg — Wet Leg

Isle of Wight é terra famosa pelo seu icônico festival de verão, mas agora também será referência quando falamos de indie rock/pop de qualidade. O duo Wet Leg gerou um burburinho gigante no mundo da música no final do ano passado com seus dois primeiros singles “Chaise Longue” e “Wet Dream” e todo a antecipação pelo seu primeiro disco de estúdio já estava criada. Em 2022, as moças não deixaram a expectativa para baixo — Wet Leg, o disco, é, de fato, uma das pérolas que 2022 nos trouxe. Colocar essa energia e talento para fora em um primeiro registro é algo fantástico. São as guitarras, as vozes desleixadas, os versos que beiram a picardia — é tudo! Wet Leg soube aproveitar seu momento e trouxe movimento para a cena, indo direto para o palco principal de boa parte dos festivais ao redor do mundo e encantando a audiência com esse jeito britânico de ser — debochado, não muito simpático, mas sempre na vanguarda da cultura

OUÇA: “Wet Dream”, “Chaise Longue”, “Ur Mum” e “Being In Love”

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